- AFRODITE -
-- Eu estou bem - minto pela enésima vez desde que percebemos que estávamos sendo perseguidos.
Marisa - Tem certeza ? - ela me olha com os olhos arregalados, o pânico evidentes neles.
-- Sim , tenho - minto novamente.
Na verdade eu não estou nada bem , meu corpo todo está tremendo , minha respiração falha e minha maior preocupação nesse momento é : manter meus bebês a salvo.
Não quero perder eles .
Sei que o Bóris está vindo , mas e se ele não chegar a tempo ? E se o pior acontecer ? ...
São tantos e se , que eu estou pirando.
O carro patina sobre a água do asfalto mais uma vez e outro grito da Marisa me assusta, nunca pensei que alguém pudesse gritar tanto como ela grita .
Me seguro mais firme na alça superior da porta , tentando manter meu corpo longe de impactos , sei o mal que isso faria a minha gestação.
Gege - Porra , porra , porra ! - ergo meu olhar pro moreno que aperta as duas mãos com força no volante e desvio pra imagem que aparece a nossa frente através do para-brisa .
Dois carros idênticos ao que está nos seguindo fechando a passagem .
É o nosso fim .
Meu coração bate na boca quando vejo que o Gege cogita a idéia de avançar e por isso digo :
-- Por favor , não faz isso .
Gege - Eu tô tentando salvar nossas vidas ! - diz sem me olhar , sua mão no câmbio de marcha pronto pra trocar e acelerar .
-- Como Gege ? A rua está fechada , o máximo que você vai conseguir é matar a gente mais rápido com essa idéia de louco.
O moreno grita de frustação e diminui a velocidade , parando a mais ou menos dois metros dos carros que no mesmo instante em que paramos tem suas portas abertas por vários homens armados.
Gege - Satisfeita ? - ele tira a arma da cintura e me olha por um momento - Se eu não morrer agora , o Russo me mata depois.
Respiro fundo .
" Seja forte e enfrente tudo que vier de cabeça erguida "
Lembro do seu conselho e engulo a saliva , eu nem vou ter a chance de me despedir dela .
Uma lágrima grossa e quente escorre pelo meu rosto , o medo dar lugar a raiva.
Porque tudo de ruim tem que acontecer comigo ?
Estremesso , o barulho de vários tiros me trazem pra realidade infeliz que eu me encontro.
Mais uma vez.
Marisa - O carro é blindado, a gente pode ficar aqui até o Russo chegar , né? - seus gritos entram em contraste com os tiros disparados contra as rodas do carro.
Gege - É blindado , não impenetrável sua burra . Uns dez tiros de fuzil nas janelas e todo mundo aqui desce de tobogã pro inferno.
Marisa - De tobogã , não !
Olho através do para-brisa mais uma vez e a imagem de um homem que sai de um dos carros embaixo de um guarda chuva me chama atenção.
Baixinho , buchudo e calvo .
-- É o Zeca - aponto chamando atenção dos dois que param de discutir pra olhar na direção dele .
Gege - Esse filho da puta ainda tá vivo ?
De repente, um tiro disparado contra o vidro de uma das janelas nos assusta.
Eles vão matar a Marisa e o Gege .
A certeza atravessa a minha mente quando os homens armados começam a disparar contra as janelas de ambos , deixando a minha intacta.
Gege se arruma no banco apontando sua Glock pra um deles mesmo sabendo que não tem chance contra ... Conto rapidamente .
Dois , quatro , oito homens fortemente armados.
Merda , o medo volta junto com algumas lembranças , as principais dela sendo a da noite em que o Zeca foi até o morro me pedir pra ir ver o Gam e a outra em que ele foi até o hospital querendo que eu intercedesse pelo seu filho .
Em ambas ele teve a chance de me machucar e não o fez .
Algo na minha mente se acende .
-- Ele veio atrás de mim - falo , a adrenalina sendo espalhada rapidamente pelo meu corpo - Não vai me machucar
Marisa - Você não. Mas a nós? Com certeza - ela me olha , o desespero e a raiva presente nas orbes azuis - Não quero morrer por sua causa.
-- Ninguém vai - abro a porta e no mesmo segundo os tiros param , um dos homens age rápido e se enfia dentro do carro me puxando com agressividade pra fora , sinto um pouco de dor quando ele me prensa contra a lateral fria do carro e resmungo - Calma , Por favor !
A chuva de vento me encharca em segundos e eu estremesso de frio .
Gege - Solta ela seu filho da puta! - ouço sua voz e logo o som ensurdecedor que faz meu ouvido zunir.
O cara que me segurava cai no chão com um tiro no pescoço e é impossível eu controlar o grito de horror que sai da minha garganta ao ver o sangue jorrando do buraco recém feito .
Meu estômago embrulha violentamente .
- Seu merdinha burro do caralho - outro cara desarma o moreno e o joga no chão , logo a Marisa é jogada ao seu lado .
Ambos com fuzis apontados pras suas cabeças.
Penso rápido , a certeza de não querer presenciar outra morte me faz gritar no alto dos meus pulmões :
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