- RUSSO -
Coloco a mão no bolso da minha calça e seguro o canivete , rodando o objeto sem tirar de lá enquanto meus olhos fitam o vidro escuro do SUV que sai lentamente pela rua e some do meu campo de visão na próxima esquina .
Cada centímetro do meu corpo está tenso , numa vontade fodida de passar o rádio pros menó da entrada barrar o carro e mandar o Gege voltar com minha mulher .
Sei que eu mermo arrumei o bagulho pra ela ir mas a minha vontade de ter ela 100% do tempo perto de mim e da minha proteção já me fizeram se arrepender dessa porra, papo reto.
" Eu vou ficar bem " - a voz gostosinha surge na minha cabeça e eu faço tsc negando .
-- Além de maluco por ela , eu tô ficando esquizofrênico agora - falo sozinho ao entrar no carro que o Gege veio e parto pra boca pra ter um com o Pepe.
-
Sento na minha cadeira olhando do velho com o braço enfaixado sentado no sofá do canto pro garoto feio que me encara fazendo uma careta .
Ja é feio , fazendo careta então ... O cão chupando manga.
Coço minha barba e volto meu olhar pro do preto ao seu lado.
-- E aí , como tá esse braço ? - pergunto só por perguntar , pra depois não dizer que eu fui direto ao assunto que é o que eu gostaria de fazer .
Me ajeito na minha cadeira e pego um já bolado na caixinha encima da mesa junto com o bic que eu risco próximo a ponta enquanto dou o primeiro trago .
Pepe - O tiro pegou só de raspão, mas ... - ele para de falar quando percebe minha real intenção e rir negando - Esperto . Fala o que tú quer Russo .
Sopro a fumaça olhando pra ele .
-- Quero saber o que vocês fizeram com o fodido do Zeca - sou direto - Me passaram a visão que vocês pegaram ele , já mataram ?
Pepe - Não posso passar essa informação pra quem é de fora , mas se tú aceitasse fazer parte do ...
Puxo a fumaça mais uma vez , o restinho da minha paciência indo pra puta que pariu.
- Corta essa tio - o garoto interrompe - Fala logo pro cara que vocês deixaram aquele inútil fugir e hora dessas ele tá por ai fazendo Deus sabe o que .
Ao invés de soprar a fumaça eu faço é engolir , bagulho desce queimando minha garganta e deixando um gosto amargo por onde passa
-- Puta que pariu ! - tusso umas três vezes antes de me recompor - Vocês só fazem merda , na moral . Que caralho de comando é esse que não dá conta de matar um traidor ?
Deixo o baseado no cinzeiro e puxo meu celular do bolso já discando o número da minha mulher , só preciso saber se ela está bem e se aquele fodido não foi atrás dela .
Chama , chama ... e cai na caixa postal .
Pepe - Ele ia ser julgado pela cúpula e só depois ia ser punido.
-- Aaa , cala a porra da boca . O cara ajudou a armar uma emboscada pra matarem teu filho , sobrinho , sei lá o que aquela porra é de verdade tua e vocês ainda iam julgar ? - saio do contato dela indo pro do Gege que eu nem chego a apertar pra chamar pois no segundo que eu ia meu celular vibra com o nome dele brilhando na tela.
--
-- Dá teu papo - não gasto tempo com formalidades.
- Sou eu , Russo , Marisa . O Gege tá concentrado em dirigir . Nós estamos voltando pro morro - ela fala rápido - Tem alguém seguindo a gente . Ai meu Deus Gege, eu não quero morrer ! ( Para de gritar filha da puta . Tú acha que eu quero ? )
Engulo a saliva e fecho minha mão em punho , eu não tenho um minuto de paz nesse caralho.
-- Conseguiram ver quem é ? Cadê minha mulher? - abro a segunda gaveta da minha mesa e remexo procurando a chave reserva da moto que eu deixo num barraco aqui perto.
Marisa - Não , o carro deles é todo escuro e a chuva não está colaborando . Afrodite está tentando se acalmar .
-- Passa pra ela . Agora - acho a chave e seguro na mão ouvindo a conversa rápida do outro lado da chamada antes da voz da minha pretinha sair pelo auto falante .
Afrodite - Amor ... eu tô com medo - sua voz some e só o que eu ouço é a sua respiração desregulada e os gritos da doida ao fundo.
Isso só piora tudo . Puta que pariu.
Pepe - O que está acontecendo? - ignoro esse filho da puta e foco em falar com minha mulher.
-- Eu tô indo prai , minha pretinha . Fica calma e me manda a localização de vocês que eu tô indo.
Afrodite - Eu vou tentar ... as duas coisas - ela se cala por uns segundos e logo meu celular vibra com a chegada da localização em tempo real deles - Recebeu ?
-- Recebi e tô indo - me despeço dela e desligo , guardando o aparelho no bolso logo em seguida.
Levanto passando as mãos na minha barba , nervoso com mais essa , e vou até a parede de armas tirando os dois capacetes presos na grade.
-- Tú sabe atirar feio ? - me viro pro menó que levanta e tira a glock da cintura fazendo uma demonstração rápida de como usar - Que bom - jogo o capacete pra ele que pega no ar - Porque tú vai vim comigo .
Pepe - Pra onde ? - ignoro mais uma vez enquanto completo o pente da minha peça cromada - Pra onde tú vai levar meu sobrinho seu filho da puta ? - pergunta dois tons mais alto do que ele devia .
Sorrio de nervoso, exalando ódio ao apontar a glock pra ele .
-- Abaixa a porra da voz porque tú não tá falando com um moleque não , seu fodido - pego o rádio encima da mesa e sintonizo na frequência de geral recrutando uns dos meus pra ir comigo - Tú sabe onde fica a saída , sinta-se a vontade pra usar - guardo a peça e faço gesto pro menó passar na minha frente .
Pepe - Tú não vai com ele Gustavo , ele não é o bonzão ? Deixa se fuder sozinho .
GH - Primeiro que é GH e não Gustavo - ele para do meu lado - E segundo e mais importante, eu não vou deixar de ir porque um covarde que deixou a própria mulher morrer e se quer teve coragem pra ir no velório dela pediu - ele me olha - Vamo ? Que agora eu tô com ódio suficiente pra explodir esse Rio de Janeiro inteiro .
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: CALIENTE (morro)