- AFRODITE -
Faço um bico olhando pra pequena tela que reproduz a imagem dos trigêmeos e mais uma vez limpo as lágrimas que ameaçam escorrer pelo meu rosto .
É muito doloroso ver eles crescendo, saber que daqui à duas semanas vão nascer e não vão ter a presença do pai deles .
Dói , dói na alma .
Eu tento ser forte por eles , eles que são os presentes que o Bóris me deixou , os frutos do nosso amor.
Aquele amor que chegou como um trem sem freio nas nossas vidas , atropelando tudo com sua intensidade .
Eu ainda sofro a perca desse amor , ainda estou em luto e tenho pra mim que sempre vou estar pois o Bóris era minha âncora , meu porto seguro , aquele que quando sorria iluminava meu dia mais que o sol e que quando me tocava me incendiava mais que o inferno .
Ele me fez a mulher mais feliz desse mundo , tentou me mostrar que eu era mais forte do que parecia e que eu devia parar de se boazinha com todo mundo .
É ... Hoje eu entendo o porque.
A culpa do amor da minha vida , do pai dos meus filhos está morto é totalmente minha e do fato de eu ter tido misericórdia do Zeca a um tempo atrás.
Juro , se eu pudesse voltar no tempo teria feito tudo diferente , teria deixado ele matar quem ele quisesse , tudo pra ter ele do meu lado nesse momento .
Na minha última ultrasson , vendo perfeitamente o quanto o narizinho e a boquinha do nosso menininho se parecem com os dele .
Ai , como dói.
Puxo o ar com força pela boca e o solto em partes , tentando aliviar essa pressão no meu peito.
Aquela que a quase três meses faz parte da minha vida assim como a algema no meu pulso que me prende a maca hospitalar , como os exames semanais que conferem o bem estar dos meus bebês e como os remédios diários que eu tomo pra impedir que o aborto que eu comecei a sofrer naquela noite se conclua.
Samuel - Está sentindo algum tipo de dor ? - movo a cabeça em negativa sem olhar pra ele , o odeio tanto , todos eles - Eu preciso saber , Afrodite . Acredite ; eu também não queria es...
-- Mas está , Samuel - interrompo , minha voz saindo trêmula - Você é o maior responsável por eu estar aqui em sabe lá Deus aonde , algemada numa maca , longe do meu pai e amigos - paro de falar ao sentir meus olhos se enchendo de lágrimas novamente.
Limpo antes que elas escorram , não vou chorar , não na frente dele.
Samuel - Eu já te falei : ele estava ameaçando matar a minha namorada se eu não passasse informações sobre ... - ergo minha mão pedindo pra ele calar a boca e assim ele faz .
Já ouvi essa desculpa uma porção de vezes , da primeira eu até entendi o seu lado mas a cada dia que passa eu me revolto mais e mais , com todos eles.
Com o Zeca , que parece um maníaco estando sempre a espreita me olhando, vigiando como se eu fosse fugir.
Com o Taz , que se mostrou o pior ser do mundo , sempre me torturando, jogando na minha cara o quanto eu sou tóxica praqueles que entram na minha vida .
E com o Samuel , o obstetra que passava informações sobre mim pro Zeca e que assim como eu é obrigado a ficar aqui mas com o privilégio de andar por onde quiser .
Samuel - Tudo bem , entendi que voltamos a estaca zero novamente - suspira - Mais tarde eu volto pra trazer a sua janta e o Dactil - diz depois de limpar a máquina e deixar dois lenços na beira da maca para que eu limpe minha barriga - Se quiser ir ao banheiro, já sabe o que fazer .
Fico calada e observo ele caminhar até a porta do pequeno quarto equipado com todo tipo de máquinas necessárias para acompanhar minha gestação , Samuel me olha por um momento de lá e como se sentisse dó de me trancar mais uma vez deixa a porta entre aberta .
Engulo a saliva olhando pra pequena brecha e desvio pras duas folhas de papel , pego ambas com a mão solta e passo sobre minha enorme barriga tirando o gel pra só depois as jogar no lixo.
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