CALIENTE (morro) romance Capítulo 91

- AFRODITE -

Faço um bico olhando pra pequena tela que reproduz a imagem dos trigêmeos e mais uma vez limpo as lágrimas que ameaçam escorrer pelo meu rosto .

É muito doloroso ver eles crescendo, saber que daqui à duas semanas vão nascer e não vão ter a presença do pai deles .

Dói , dói na alma .

Eu tento ser forte por eles , eles que são os presentes que o Bóris me deixou , os frutos do nosso amor.

Aquele amor que chegou como um trem sem freio nas nossas vidas , atropelando tudo com sua intensidade .

Eu ainda sofro a perca desse amor , ainda estou em luto e tenho pra mim que sempre vou estar pois o Bóris era minha âncora , meu porto seguro , aquele que quando sorria iluminava meu dia mais que o sol e que quando me tocava me incendiava mais que o inferno .

Ele me fez a mulher mais feliz desse mundo , tentou me mostrar que eu era mais forte do que parecia e que eu devia parar de se boazinha com todo mundo .

É ... Hoje eu entendo o porque.

A culpa do amor da minha vida , do pai dos meus filhos está morto é totalmente minha e do fato de eu ter tido misericórdia do Zeca a um tempo atrás.

Juro , se eu pudesse voltar no tempo teria feito tudo diferente , teria deixado ele matar quem ele quisesse , tudo pra ter ele do meu lado nesse momento .

Na minha última ultrasson , vendo perfeitamente o quanto o narizinho e a boquinha do nosso menininho se parecem com os dele .

Ai , como dói.

Puxo o ar com força pela boca e o solto em partes , tentando aliviar essa pressão no meu peito.

Aquela que a quase três meses faz parte da minha vida assim como a algema no meu pulso que me prende a maca hospitalar , como os exames semanais que conferem o bem estar dos meus bebês e como os remédios diários que eu tomo pra impedir que o aborto que eu comecei a sofrer naquela noite se conclua.

Samuel - Está sentindo algum tipo de dor ? - movo a cabeça em negativa sem olhar pra ele , o odeio tanto , todos eles - Eu preciso saber , Afrodite . Acredite ; eu também não queria es...

-- Mas está , Samuel - interrompo , minha voz saindo trêmula - Você é o maior responsável por eu estar aqui em sabe lá Deus aonde , algemada numa maca , longe do meu pai e amigos - paro de falar ao sentir meus olhos se enchendo de lágrimas novamente.

Limpo antes que elas escorram , não vou chorar , não na frente dele.

Samuel - Eu já te falei : ele estava ameaçando matar a minha namorada se eu não passasse informações sobre ... - ergo minha mão pedindo pra ele calar a boca e assim ele faz .

Já ouvi essa desculpa uma porção de vezes , da primeira eu até entendi o seu lado mas a cada dia que passa eu me revolto mais e mais , com todos eles.

Com o Zeca , que parece um maníaco estando sempre a espreita me olhando, vigiando como se eu fosse fugir.

Com o Taz , que se mostrou o pior ser do mundo , sempre me torturando, jogando na minha cara o quanto eu sou tóxica praqueles que entram na minha vida .

E com o Samuel , o obstetra que passava informações sobre mim pro Zeca e que assim como eu é obrigado a ficar aqui mas com o privilégio de andar por onde quiser .

Samuel - Tudo bem , entendi que voltamos a estaca zero novamente - suspira - Mais tarde eu volto pra trazer a sua janta e o Dactil - diz depois de limpar a máquina e deixar dois lenços na beira da maca para que eu limpe minha barriga - Se quiser ir ao banheiro, já sabe o que fazer .

Fico calada e observo ele caminhar até a porta do pequeno quarto equipado com todo tipo de máquinas necessárias para acompanhar minha gestação , Samuel me olha por um momento de lá e como se sentisse dó de me trancar mais uma vez deixa a porta entre aberta .

Engulo a saliva olhando pra pequena brecha e desvio pras duas folhas de papel , pego ambas com a mão solta e passo sobre minha enorme barriga tirando o gel pra só depois as jogar no lixo.

Cubro minha pele exposta e coloco minha mão encima ao sentir o Gabriel chutar .

Ele está do lado direito , é o mais velho e o mais agitado dos três .

-- Oi mamãe , acordou ? - deslizo minha mão pro outro lado ao sentir os dois mais novos entrarem na brincadeira - Devagar meus amores .

Peço , eles são mais violentos , quase não se mexem mas quando pegam pra mexer ... Quem sofre sou eu.

Curto da interação com meus bebês até que eles param e tudo que me resta mais uma vez é olhar pro teto e rezar baixinho pra que meu pai encontre essa merda de lugar em que o Zeca me mantém presa e venha me resgatar o quanto antes .

Paro , o som de passos se aproximando me fazem engolir em seco.

Que não seja o Taz , que não seja o Taz , que não seja...

- Dindinha ? - solto o ar de uma vez ao ouvir a voz infantil , aliviada por não ser o Taz .

Eu não sei se suportaria mais da sua tortura psicológica hoje .

-- Oi meu amor - sussurro em resposta - Pode entrar , a dindinha tá sozinha.

Demora alguns segundos mas ele entra , o sorriso sapeca me fazendo sorrir .

É ele quem é o responsável por eu ainda ter um pouquinho de sanidade mental , outra vítima do Taz .

Aquele filho da puta sequestrou o próprio filho , tirou a criança da mãe pra tratá-lo como um animal que ele bate, humilha e o mantém preso aqui .

Rauan - Nauan veio correndo - confirmo vendo ele encostar a porta e se aproximar , subir a escadinha que fica ao pé da maca e sentar do meu lado - Priminhos tá bom ?

-- Estão sim , meu amor - passo a mão livre nos seus cabelinhos compridos - Tá muito lindo , sabia ?

Ele faz um bico e olha pro meu pulso algemado , mexe a ponta do narizinho de um lado pro outro e abaixa a cabeça.

Rauan - Nauan não conseguiu pegar a chave pra soltar a mão da dindinha - ele funga e meu peito se aperta - Papai viu e bateu no Nauan .

Engulo a saliva e tento não chorar.

-- Está tudo bem meu amor , a dindinha não falou pra você que não precisava ?

Rauan - Sim , mas Nauan viu a dindinha chorando por causa do dodói na mão e não gostou .

Suspiro olhando rapidamente pro meu pulso , a alguns dias atrás o Taz apertou o objeto que o rodeia e ele cortou minha pele , chorei tanto de dor tentando me soltar que acabei desmaiando, quando acordei estava com a algema mais aberta e o pulso enfaixado igual está agora .

Rauan - Nauan não gosta de ver a dindinha chorando - ele ergue o rosto e faz cara de bravo - Nauan vai tirar a dindinha daqui e vai embora com ela . Ele promete.

Sorrio abraçando essa coisa fofa , sua inocência , determinação e mentalidade que vai além dos seus 4 anos são os motivos pelo qual eu tenho reunido forças pra enfrentar o Taz .

Aquele monstro tem feito tanto mal a essa criança que eu juro , se pudesse , eu mesmo o mataria .

Antes , a idéia de matar mais alguém me assustava e me deixava em pânico. Mas agora , depois de passar por tudo o que eu passei , perder quem eu perdi , eu entendi que matar pessoas ruins não te faz um monstro.

Te faz um exterminador deles.

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