- AFRODITE -
Sinto dedos frios tocarem meu pescoço e devagar abro meus olhos fitando a pessoa que me acordou .
Estática , é assim que eu fico quando essa mesma pessoa se abaixa tirando a criança que adormeceu nos meus braços de perto de mim .
O medo dele fazer mal ao próprio filho me domina e por isso falo :
-- Não faz nada com ele , por favor - peço , rezando mentalmente pro seu lado paterno me atender.
Taz me olha sorrindo diabolicamente e ajeita o Rauan no seu colo deixando uma das mãos livres pra vim até o meu pescoço.
Dedilhando sem apertar .
Taz - Que homem cê acha que eu sou priminha ? Nunca que eu faria mal ao meu filho - seus dedos pressionam minha pele com força - Mas a você ? Eu já não posso falar a mesma coisa .
-- Tariel - levo minha mão solta pra cima da sua numa falha tentativa de tirar de mim ao começar a ficar sem ar - Para com isso - me debato sentindo meus olhos pesarem.
Zeca - Solta ela Taz ! - a ordem é obedecida instantaneamente - Agora vaza daqui antes que eu cumpra com a ameaça que te fiz da última vez.
Tusso violentamente ao tentar puxar o ar pros meus pulmões e sinto meus olhos se encherem de lágrimas , lágrimas de puro ódio .
Eu não mereço isso , tenho certeza que não mereço .
Taz - Cê que manda chefe - ele me olha por um momento e sorrir de lado antes de obedecer mais uma vez .
Toco meu pescoço dolorido devagar ao parar de tossir e só então consigo encher meus pulmões de ar . Me sinto fraca e por isso fecho meus olhos ouvindo os passos se aproximarem de mim .
Respiro tremulamente tentando não chorar .
Eu prometi pra mim mesma que só choraria de felicidade - mesmo sabendo que um dos maiores motivos da minha não está mais vivo - e desde então tenho me esforçado ao máximo pra cumprir .
Zeca - Ele te machucou pequena ? - seus dedos tocam minha bochecha , tão carinhosamente que meu estômago se revira com o nojo que eu começo a sentir - Fala pra mim .
Trinco meu maxilar ao abrir meus olhos e encaro o assassino do homem que eu amo , meu ódio por ele não tem medida e é tão intenso que eu sinto meu sangue borbulhar dentro das minhas veias .
Agora mais do que antes.
-- Falar pra você ? - ergo uma sombrancelha - E o que você vai fazer ? Conversar com ele como fez da última vez que aquele covarde tentou me matar dessa mesma forma ? Ah , por favor !
Zeca - É o que eu posso fazer , Di . Ainda preciso dele - fala calmamente indo sentar na poltrona reclinável que fica ao lado da porta , a mesma poltrona que ele costuma dormir ao vim velar meu sono à noite .
-- Não , não é - me ajeito sentando na maca e assim que consigo sinto uma forte pontada no pé da minha barriga - Ai - gemo de dor colocando minha mão no local e no mesmo segundo Zeca volta pro meu lado tentando me tocar - Sai , me deixa em paz , não me toca ! Isso é culpa sua ! - tento me afastar e acabo puxando meu pulso preso.
Dói muito e sem controlar algumas lágrimas descem pelo meu rosto .
Zeca - Fica quieta que eu vou te soltar - ele fala rápido tirando a chave do bolso da sua bermuda e sem escolha eu acabo obedecendo - Se comporta que eu já volto , vou chamar o doutor - diz depois de libertar meu pulso algemado e sai do quarto me trancando nele .
Eu até penso em levantar ao ver que agora não estou mais presa à maldita maca mas outra pontada me faz esquecer esse pensamento.
Ai meu Deus !
Solto o ar devagar e deito novamente , o medo de toda a raiva que eu ando sentindo ter de alguma forma afetado meus bebês me faz parar e respirar fundo tentando me acalmar .
Por mais difícil que seja , eu tento.
Samuel - Eu sabia que isso ia acontecer , hoje ela está mais revoltada que o normal - ele abre a porta falando e ultrapassa vindo na minha direção - Ainda te perguntei se você estava sentindo alguma dor .
Ignoro sua fala e existência focando somente em inspirar e expirar regularmente .
Eu preciso me acalmar , eu vou me acalmar. Pelo bem dos meus bebês , eu vou .
Zeca - Sabia que ia acontecer o que ? E porque não me falou antes ?
Samuel abre a boca pra responder mas a fecha quando o som parecido com uma explosão vem do lado de fora .
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