CALIENTE (morro) romance Capítulo 94

- AFRODITE -

Sinto dedos frios tocarem meu pescoço e devagar abro meus olhos fitando a pessoa que me acordou .

Estática , é assim que eu fico quando essa mesma pessoa se abaixa tirando a criança que adormeceu nos meus braços de perto de mim .

O medo dele fazer mal ao próprio filho me domina e por isso falo :

-- Não faz nada com ele , por favor - peço , rezando mentalmente pro seu lado paterno me atender.

Taz me olha sorrindo diabolicamente e ajeita o Rauan no seu colo deixando uma das mãos livres pra vim até o meu pescoço.

Dedilhando sem apertar .

Taz - Que homem cê acha que eu sou priminha ? Nunca que eu faria mal ao meu filho - seus dedos pressionam minha pele com força - Mas a você ? Eu já não posso falar a mesma coisa .

-- Tariel - levo minha mão solta pra cima da sua numa falha tentativa de tirar de mim ao começar a ficar sem ar - Para com isso - me debato sentindo meus olhos pesarem.

Zeca - Solta ela Taz ! - a ordem é obedecida instantaneamente - Agora vaza daqui antes que eu cumpra com a ameaça que te fiz da última vez.

Tusso violentamente ao tentar puxar o ar pros meus pulmões e sinto meus olhos se encherem de lágrimas , lágrimas de puro ódio .

Eu não mereço isso , tenho certeza que não mereço .

Taz - Cê que manda chefe - ele me olha por um momento e sorrir de lado antes de obedecer mais uma vez .

Toco meu pescoço dolorido devagar ao parar de tossir e só então consigo encher meus pulmões de ar . Me sinto fraca e por isso fecho meus olhos ouvindo os passos se aproximarem de mim .

Respiro tremulamente tentando não chorar .

Eu prometi pra mim mesma que só choraria de felicidade - mesmo sabendo que um dos maiores motivos da minha não está mais vivo - e desde então tenho me esforçado ao máximo pra cumprir .

Zeca - Ele te machucou pequena ? - seus dedos tocam minha bochecha , tão carinhosamente que meu estômago se revira com o nojo que eu começo a sentir - Fala pra mim .

Trinco meu maxilar ao abrir meus olhos e encaro o assassino do homem que eu amo , meu ódio por ele não tem medida e é tão intenso que eu sinto meu sangue borbulhar dentro das minhas veias .

Agora mais do que antes.

-- Falar pra você ? - ergo uma sombrancelha - E o que você vai fazer ? Conversar com ele como fez da última vez que aquele covarde tentou me matar dessa mesma forma ? Ah , por favor !

Zeca - É o que eu posso fazer , Di . Ainda preciso dele - fala calmamente indo sentar na poltrona reclinável que fica ao lado da porta , a mesma poltrona que ele costuma dormir ao vim velar meu sono à noite .

-- Não , não é - me ajeito sentando na maca e assim que consigo sinto uma forte pontada no pé da minha barriga - Ai - gemo de dor colocando minha mão no local e no mesmo segundo Zeca volta pro meu lado tentando me tocar - Sai , me deixa em paz , não me toca ! Isso é culpa sua ! - tento me afastar e acabo puxando meu pulso preso.

Dói muito e sem controlar algumas lágrimas descem pelo meu rosto .

Zeca - Fica quieta que eu vou te soltar - ele fala rápido tirando a chave do bolso da sua bermuda e sem escolha eu acabo obedecendo - Se comporta que eu já volto , vou chamar o doutor - diz depois de libertar meu pulso algemado e sai do quarto me trancando nele .

Eu até penso em levantar ao ver que agora não estou mais presa à maldita maca mas outra pontada me faz esquecer esse pensamento.

Ai meu Deus !

Solto o ar devagar e deito novamente , o medo de toda a raiva que eu ando sentindo ter de alguma forma afetado meus bebês me faz parar e respirar fundo tentando me acalmar .

Por mais difícil que seja , eu tento.

Samuel - Eu sabia que isso ia acontecer , hoje ela está mais revoltada que o normal - ele abre a porta falando e ultrapassa vindo na minha direção - Ainda te perguntei se você estava sentindo alguma dor .

Ignoro sua fala e existência focando somente em inspirar e expirar regularmente .

Eu preciso me acalmar , eu vou me acalmar. Pelo bem dos meus bebês , eu vou .

Zeca - Sabia que ia acontecer o que ? E porque não me falou antes ?

Samuel abre a boca pra responder mas a fecha quando o som parecido com uma explosão vem do lado de fora .

É automático , eu paro com meu exercício de respiração e sinto meu coração acelerar dentro do peito .

É o meu pai , tenho certeza que é ele.

Minha certeza só aumenta quando eu ouço o barulho que eu reconheceria a km de distância . Tiros.

Zeca - Fica com ela que eu vou ver o que está acontecendo - avisa e sai me deixando com o médico que me olha com o desespero evidente nas suas grandes orbes castanhas .

Sorrio , e ignorando a dor de outra pontada eu sento me arrastando pra beirada da maca .

Eu preciso sair daqui , encontrar meu pai e deixar que ele me leve pra casa .

Samuel - Ei , você não pode sair daí - ele tenta me impedir mas eu o chuto com toda a força que tenho pra longe e com a ajuda da escadinha desço .

Tento fazer tudo o mais rápido que consigo mas o tamanho e o peso da minha barriga não ajudam muito.

Paro por alguns segundos respirando fundo e deslizo minhas mãos pra parte baixa dela .

Agora sim .

Samuel usa desses segundos pra se arrastar até mim e segurar meu tornozelo que parece uma bola de tão inchado que está.

Samuel - Eu falei que você não pode sair - ele me segura com força quando eu tento me desvencilhar do seu aperto - Fica quieta sua vadia ou eu vou acabar te derrubando . E nós dois sabemos o que uma queda faria com seus bebês .

Balanço minha cabeça em negação , estou cansada das pessoas mencionando meus bebês pra conseguirem o que querem de mim , cansada das pessoas acharem que eles são os meus pontos fracos .

Não ! Eles não são o meu ponto fraco .

São o meu ponto forte , uma parte do Bóris em mim e está na hora de lutar por eles .

-- Cala a boca seu filho da puta ! - grito com raiva e usando do meu outro pé dou um chute forte e certeiro na sua testa fazendo ele me soltar .

Não perco tempo e me afasto o quanto antes , segurando minha barriga como se ela fosse cair a qualquer momento.

Ultrapasso a porta com tanta vontade de sair daqui que nem ouço os passos se aproximando pelo corredor , só me assusto quando alguém segura meu braço me obrigando a parar e olhar pro seu rosto .

-- Me solta ! - tento me desvencilhar mas falho miseravelmente .

Zeca - Eles estão aqui por você - diz o que eu já imaginava e minha autoconfiança só aumenta - Preciso tirar você e meus netos daqui - ele tenta me puxar mas eu travo meus pés descalços no chão impedindo - Não dificulta isso , pretinha . Por favor . Eu não posso deixar eles tirarem vocês de mim .

A maneira que ele me chama é o estopim.

Eu sinto o ódio dominar cada parte do meu ser , é tão forte que eu tremo de cima abaixo .

Ele não tem esse direito . Não tinha quando matou o pai dos meus filhos e tem menos ainda de me chamar pelo apelido carinhoso que ele me deu .

Respiro fundo , sem me importar com mais nada eu tiro uma das mãos da minha barriga e a fecho em punho dando um soco no meio dos seus peitos .

-- Você não tem a permissão de me chamar de pretinha - grito e bato mais uma vez - Nunca teve e nunca vai ter seu monstro - choro quando ele consegue me imobilizar mas não paro de tentar me soltar .

Zeca - Eu te chamo como eu bem quiser - ele grita com raiva me prensando na parede mais próxima - Sabe porque ?

- Eu gostaria de saber ! - a voz rouca que ecoa pelo corredor me deixa desnorteada .

Não pode ser ele , pode ?

Não , não pode . Eu o vi morrer , vi ele cair e não levantar pouco antes de ser levada , eu vi .

A sombra de um homem alto portando um fuzil surge na curva do corredor e meu peito se aperta quando ele aparece , as lágrimas presentes nos meus olhos descem sem controle .

Lágrimas de felicidade.

É ele , aquele que prometeu sempre voltar pra mim , cumpridor das suas promessas.

Bóris.

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