Isabela
As sobrancelhas dele quase se unem, a boca se forma numa linha quase reta, o maxilar fica tenso quando ele ouve do outro lado. Eu dou um tempo, mas a curiosidade é grande e me levanto, entro para dentro, me enveredando pelos cantos. Raed está na sala de jantar.
—Camily, não insista. Eu vou me casar, está resolvido. —Ele se cala. —E daí que vou me casar por causa da criança? Ela precisa de um pai, uma família normal que eu não tive. Foi meu pai que te pediu para me ligar, não foi? Não me liga mais. Eu vou bloquear esse número e todos que você usar para me ligar. Aliás, eu vou mudar de linha. Khara! (Merda!)
Eu fungo e vou até a sacada. Raed surge momentos depois.
—Não faça mais isso. Não atenda por mim.
Eu respiro fundo:
—Não acha esse casamento um mal começo? Essa sua ex, seu pai...
Ele me corta:
—Minha ex é passado. Esqueça meu pai, já disse. Relaxe, curta o momento!
Raed
Allah! Não quero algo imposto, forçado, sei que minhas ações dizem ao contrário. Eu posso aprisioná-la a mim, mas não posso força-la me amar. Preciso senti-la mais receptiva, sei que só assim conseguirei expor mais o quanto a desejo e quem sabe a natureza dos meus sentimentos.
Ela se ajeita melhor na espreguiçadeira, seus olhos fixos em mim.
—Você poderia dizer que perdi o bebê e então me ajudaria a sumir. Eu poderia recomeçar em qualquer lugar...
Meu coração martela em meu peito enquanto olho para ela.
—Isabela, pare! Eu não farei isso. Esqueça!
Ela se vira para frente, parece frustrada. Eu respiro fundo.
—Por Allah! Toda vez que penso que você finalmente está se dando conta que eu sou a sua melhor opção, você me vem com essas mesmas falas? Por que você não nos dá uma chance?
Ela ainda está olhando para frente.
— E eu me sinto como se o universo tivesse conspirado, e me armado uma cilada. —Ela diz ácida.
As palavras dela me são dolorosas, mas muito mais a maneira convincente que ela diz tudo isso. Minha fachada de tranquilidade que fora cuidadosamente erguida se foi e eu travo meus dentes, minha respiração se agita. Passo a mão nos cabelos.
Ela se vira para mim:
—Raed, não se ofenda. Eu sou-lhe muito grata, você já me ajudou muito no passado, quando participava das reuniões e traduzia para seu pai os termos técnicos que eu desconhecia. Sei que tem o coração bom e a prova disso é que está tentando me ajudar novamente, sei que se preocupa com essa criança.
A ira retorce meu íntimo, e isso transparece no meu rosto. Urro as palavras:
— Pare de me dizer que sou bom! Porque eu não sou bom, ouviu!
Isabela se assusta e eu respiro fundo e me levanto, vou até o parapeito, meus olhos fixos no mar prateado pelo luar, algumas embarcações iluminadas no horizonte. Tento me acalmar, mas está difícil. Eu estou nervoso. Nunca pensei que eu tivesse problema para me expressar, mas me deparo de repente com esse nó. Não consigo me fazer entender. Fora a culpa que carrego por esconder o fato de meu pai a ter liberado.
Isabela surge ao meu lado, mas eu não olho para ela.
—Raed, eu não quis te ofender. Eu só quero minha vida de volta.
Um sentimento borbulha em meu peito — o fato de ela ter se entregado tão facilmente ao meu irmão. Um homem que só queria aproveitar-se dela.
Ela não entende que só quero protegê-la? Quero lhe dar o melhor. Cuidar da criança como se fosse minha! Khara! Nunca precisei conquistar alguém, as mulheres sempre me foram muito propícias
Eu a encaro finalmente e digo fora de mim as palavras que me estão atravessadas na garganta:
Desejo?
—Podemos nos dar muito bem. —Digo e mordisco seus lábios.
Ela me devolve um olhar firme que trava o meu nos dela.
—O que foi Raed? Você era o tipo de criança que queria os brinquedos de seu irmão? Por isso me quer também?
Eu travo. Não estava preparado para as palavras ácidas.
Mas por favor alguém me diga se há algo que te prepare para esse comentário?
Isabela aproveita meu estado catatônico e foge da minha presença. Eu fico ali, uma mistura de angústia, raiva e desejo.
Isabela
Encontro meu quarto. Fecho a porta e me encosto a ela. Lágrimas descem pelos meus olhos. Detesto confrontos, mas é impossível não me lembrar o homem que Raed era. Sempre pronto a me ajudar, hospitaleiro, cuidadoso. E tenho tentado apelar para esse homem gentil do passado, mas não tem jeito, ele continua com essa ideia fixa de nos casarmos por causa da criança.
Que futuro tem um casamento como esse? Ele pode até se prolongar, mas eu serei feliz? Ele será feliz?
Tenho medo de sofrer. De me envolver com esse homem profundamente e ele continuar na superfície como sempre esteve.
Sento-me na cama.
Afasto meus pensamentos tristes e visto minha camisola. Sem sono, abro a porta de vidro e vou até a varanda. Caminho até o parapeito e olho o mar prateado. Respiro fundo sentindo o cheiro típico da maresia.
Allah! Nunca pensei que me casaria assim, com um mártir.
Estou lidando com um homem traumatizado, que sofreu na infância. Isso o define. Isso define sua atitude em querer se casar e entendo que nada que eu diga ou faça pode mudar seus pensamentos.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Cativa do Sheik
➡️ São 2 EXTREMOS OPOSTOS... 🌎 No Ocidente as pessoas dizem se casar pelo "sentimento" amor, mas na verdade se casam por paixão, pois o amor verdadeiro não é um sentimento e sim uma AÇÃO ativa e comprometida... Aí obviamente os casamentos não duram, pois as pessoas se divorciam por tudo e por nada, basta um novo interesse pessoal surgir, alguém mais interessante aparecer, uma nova paixão começar, o tédio se manifestar... Tudo depende dos interesses pessoais, não há comprometimento real na maioria dos relacionamentos, apenas desejo fugaz... 🌏 Já no Oriente árabe as pessoas se casam meramente por convenções e conveniências, por interesses familiares, sociais, financeiros ou político-religiosos. E há poucos casos de divórcio, mas não porque os casais são comprometidos e felizes, mas sim porque os homens geralmente não querem romper com o que foi convenientemente estabelecido e as mulheres não tem direito de escolha. Ou seja: se é obrigado a suportar a união mesmo que seja tóxica. Além disso, o homem tem a opção de assumir a amante como segunda esposa, impondo-a para a esposa legítima, que não tem poder de negar. Assim é muito fácil dizer que poucos casais se separam... São dois extremos, ambos negativos, ambos com resultados nefastos......
😒 Aff, já começou a apelação... Do nada, sem qualquer lógica, as pessoas começam a agir como cães no cio nesses livros, como se fossem adolescentes sem cérebro conduzidos pelos hormônios e não adultos maduros com sendo crítico e objetivos além do desejos carnais... Nesse contexto árabe, então, fica tudo ainda mais surreal, como se fossem atores ocidentais fingindo ser personagens árabes caricatos num teatrinho de escola... Tudo muito forçado, tudo muito inverossímil, tudo muito superficial e fútil... Puramente com o objetivo de inserir sexo e tensão sexual na estória, mesmo que nem caiba... 🙄 O QUE VOCÊ ACHA QUE JANE AUSTEN DIRIA SOBRE O GÊNERO ROMANCE DE HOJE EM DIA? "Acho que ela ficaria chocada com o que pode ser escrito e publicado em um livro hoje em dia [... ]. Imagino que ela desejaria histórias de amor mais elevadas e menos focadas no carnal, como nos romances de hoje". (Julianne Donaldson, autora premiada de Edenbrooke)....
* Uai, mas que homem sério e decente gosta de mulher fácil? E que homem (decente ou não) valoriza uma mulher dessa, que não se valoriza? Ninguém que se preze - homem ou mulher - valoriza gente fácil. Os que não valem nada e só estão a fim de tirar proveito podem até gostar pela facilidade de uso, mas valorizar? Só se for pra rir... Nada que é fácil tem valor na vida, seja bens de consumo ou pessoas. É uma verdade lógica e cientificamente provada, só os tolos não perceberam ainda... 🙄...
Muito bom mesmo esse livro!...
To gostando desse livro... bem leve e interessante....