Assim que entrei na sala, acompanhado do médico, vi meu pai enrolado num monte de fios que controlavam cada movimento dele. Sabia o quanto ele odiava aquela situação e o motivo pelo qual fugia: tudo se repetia, já tinha acontecido anteriormente.
Me aproximei da cama e peguei a mão dele, que a apertou:
- Estou cansado. – Ele disse, de olhos fechados.
- Então descanse.
- É complicado saber que não vamos mais nos ver... – Os olhos dele seguiam fechados – Vou sentir saudades.
- Não, você não vai sentir saudades. Mas eu vou...
- Sei que não fui um pai perfeito. E por isso peço perdão. Mas entenda, nunca foi com má intenção. Sempre amei você, por mais filho da puta que eu tenha sido.
- Acho que todo mundo tem uma fase filho da puta na vida. O bom é que podemos nos dar conta disso um dia. Você fez o melhor que pôde.
- Faça valer cada gota do meu suor... Mas não ponha a North B. acima da sua família, como eu fiz.
- Não vou fazer isso. Não se preocupe.
- Agora... Me dê um beijo, meu filho. E vá! Eu não quero que você me veja morrer.
Segurei a porra das lágrimas que tentavam escorrer e senti meu peito apertado. Nós dois sabíamos que aquilo aconteceria e ainda assim parecia que eu não estava preparado para aquele momento.
Mas se tinha uma coisa que eu não fazia era contestar meu pai. Dei um beijo nele, talvez o primeiro da minha vida e abracei-o, dizendo no seu ouvido:
- Obrigado por tudo... Vai em paz, Casavelha! Amo você.
Soltei a mão dele e saí, as mãos apertando os olhos para não chorar.
Porra, aquilo doía pra caralho! Me deu vontade de gritar e por um momento pareceu que eu não ia aguentar.
Até que cheguei de novo na recepção, com os olhos lacrimejando. E a vi... Parada, fechando o blazer ainda mais, os cabelos loiros caindo sobre o tecido. Eu não estava perto dela, mas sabia exatamente o cheiro que os fios dourados tinham e o quanto eu gostava deles enrolados no meu corpo durante a noite.
- Fez o teste? – Perguntei, esquecendo tudo que ficou do corredor para trás.
Ela assentiu com a cabeça, antes de dizer:
- Eu fiz os três.
- Fez três xixis?
- Sim... Um pouquinho de cada vez.
- Porra, como conseguiu?
- Meu rim realmente está em bom estado. E ele vale muito, desclassificado.
- Eu não quero saber sobre o seu rim, Bárbara. Quero saber sobre o teste...
- Deu positivo... Três vezes.
Fiquei sem reação, olhando para ela. Foi como se o chão saísse de baixo dos meus pés por alguns segundos e eu ficasse a flutuar. Minha cabeça ficou vazia, o coração bateu dobrado e eu conseguia ouvi-lo no mesmo compasso do meu cérebro.
- Você... Ficou feliz? – Ela perguntou, levantando os ombros, incerta da minha resposta.
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