Helena nunca gostou de surpresas, mas naquela tarde decidiu fazer uma.
Saiu do trabalho mais cedo, comprou os doces favoritos de Gabriel e pegou um táxi direto para o apartamento dele. Queria reacender o que estava se apagando há semanas. Ele andava distante, frio, com desculpas prontas demais para alguém que prometeu passar a vida ao lado dela.
"Talvez seja o estresse", repetia para si mesma como um mantra. Ela acreditava — porque amar, para Helena, sempre significava dar o benefício da dúvida.
Girou a chave na fechadura devagar, sorrindo ao imaginar o rosto dele ao vê-la ali, de surpresa. Mas a cena que encontrou congelou o sangue em suas veias.
Gemidos. Rápidos, abafados, intensos.
No sofá da sala.
A irmã.
O noivo.
Nus.
— AH, MEU DEUS! — o grito escapou da garganta de Helena antes que pudesse se conter.
Gabriel empurrou Isadora, tentando cobrir a nudez com uma almofada ridiculamente pequena. Isadora, por outro lado, apenas puxou o lençol do sofá e cobriu os seios, olhando para Helena com os olhos semicerrados. Sem culpa. Sem vergonha.
— Você tá louca? Invadindo a casa dos outros desse jeito? — Isadora resmungou, como se tivesse sido a ofendida.
Helena sentiu o mundo girar. As mãos tremiam, o estômago se revirava. Ela olhava para os dois, mas nada fazia sentido.
— É isso? É isso que vocês faziam quando ele dizia que tinha reunião? Quando você sumia no meio da noite? Vocês dois... ME TRAINDO?! — sua voz saiu entrecortada, rasgada pela dor.
— Helena... — Gabriel tentou se aproximar, mas ela recuou, como se ele fosse uma doença.
— NÃO ENCOSTA EM MIM! — ela gritou, o rosto encharcado de lágrimas. — Três anos, Gabriel. Três malditos anos! E você me troca pela minha irmã? MINHA IRMÃ?!
— Ela nunca foi sua irmã de verdade — ele disse baixo, como se aquilo explicasse tudo.
Helena ficou em silêncio por alguns segundos. O tempo pareceu parar.
Então ela riu. Uma risada amarga, de cortar a alma.
— Então é assim que termina? Vocês fodendo no sofá e jogando a culpa em mim? Vocês são dois monstros.
— Helena... — Isadora suspirou, sem olhar nos olhos dela. — A gente se ama. Sempre se amou. Você só estava no caminho.
Helena sentiu o coração se despedaçar em mil pedaços. Pegou a bolsa do chão com mãos trêmulas, olhou mais uma vez para aquela cena — a traição escancarada, o desprezo nos olhos dos dois — e saiu sem dizer mais nada.
Mas dentro dela, algo nascia.
Não era dor.
Não era mágoa.
Era sede de vingança.
A mãe olhou para ela como quem analisa um problema — não como quem olha para uma filha ferida.
— Você sempre foi difícil, Helena. Rígida. Fria. Sempre exigiu demais. Talvez esse choque te faça repensar quem você é.
A dor foi substituída por incredulidade. O pai não disse nada. Nem sequer a defendeu.
— Vocês preferem ela, não é? Sempre preferiram. Mesmo ela não sendo sangue de vocês.
— Não é uma questão de sangue, Helena — o pai disse, finalmente. — Isadora nos deu menos problemas. É mais doce. Mais... sociável.
Helena riu. Uma risada rouca, machucada, cheia de desprezo.
— Ela é uma cobra disfarçada de flor. E vocês vão descobrir isso tarde demais.
Ela olhou para os dois como se estivesse diante de estranhos.
— Eu enterrei qualquer ilusão hoje. Vocês não são minha família. E eu não vou mais implorar pelo amor de ninguém.
Virou as costas sem ouvir mais nada. Subiu as escadas com passos firmes, trêmula, mas decidida.
Naquele momento, Helena não era mais a mulher que aceitava migalhas.
Ela seria a mulher que faria todos se arrependerem de tê-la ignorado.

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