A nova sala de Helena era no último andar.
Não era luxuosa, mas tinha paredes de vidro e acesso direto à sala de Leonardo Alencar — um privilégio reservado a pouquíssimos.
Na prática, ela agora respirava o mesmo ar que ele. Observava seus humores silenciosos, sua rotina quase robótica, suas decisões implacáveis. E, aos poucos, aprendeu a decifrar as rachaduras em sua muralha.
Leonardo era controle. Precisão. Calculava tudo — desde as palavras até os silêncios.
Mas Helena não era mais um número.
— Preciso da projeção para a reunião com investidores até às 15h. — ele disse, sem levantar os olhos do notebook.
— Vai receber às 14h45. E com anotações minhas. — respondeu ela, firme.
Ele levantou os olhos, surpreso. Depois apenas assentiu.
Minutos depois, ao entrar na sala dele com os gráficos e relatórios, ela notou algo novo no ambiente: uma tensão diferente. Quente. Sutil. Elétrica.
— O senhor queria algo mais direto, com impacto visual. Eu refiz as apresentações com base nas últimas três projeções. — disse, colocando o tablet sobre a mesa dele.
Leonardo analisou em silêncio. Passou o dedo pelas telas, os olhos se estreitando, atento.
— Está… melhor do que eu esperava.
— Então pare de esperar tão pouco de mim. — ela rebateu.
Ele largou o tablet. Olhou diretamente para ela.
— Você está jogando um jogo perigoso, Helena.
— Só é perigoso quando o outro jogador não sabe perder. — respondeu ela, recuando um passo — não por medo, mas para mostrar que não tinha medo nenhum.
Ele se levantou.
O coração dela acelerou. Ele era mais alto do que lembrava. Mais intenso. Mas ela sustentou o olhar, firme.
— Por que veio trabalhar comigo, de verdade? — ele perguntou, finalmente.
— Porque eu precisava de uma posição de poder. E porque trabalhar ao lado de um homem como você... é o único lugar onde ninguém vai ousar me humilhar de novo.
Leonardo a observou por longos segundos. Então deu um passo à frente. Estavam perigosamente próximos agora.
— E se eu te humilhar?
Ela sorriu, fria.
— Vai descobrir o que é perder o controle.
Um silêncio. Longo. Denso.
Ele recuou, devagar. Voltou para sua cadeira. Mas o olhar não a deixou.
— Você tem algo... Helena. Algo que não se ensina.
— Chama-se dor. Quando bem usada, se transforma em poder.
Ele assentiu lentamente. Pela primeira vez, Helena percebeu um lampejo de respeito genuíno — e algo mais. Desejo contido.
— Estamos apenas começando. — ele murmurou.
— Eu sei. — ela respondeu, virando-se para sair. — E estou só aquecendo.
Ao sair da sala, Helena sorriu.
Helena voltou para sua sala com a respiração descompassada.
Fechou a porta de vidro e apoiou-se nela, sentindo o frio contra as costas expostas. Por fora, continuava perfeita. Por dentro... um incêndio silencioso tomava forma.
Ela piscou, confusa.
— Sabe?
— Pessoas como nós não se tornam fortes por escolha. — ele completou. — A dor nos esculpe. A frieza é consequência. Não estratégia.
Foi a primeira vez que Helena viu algo… quebrado nele.
Um relance. Rápido. Mas real.
— Então somos mais parecidos do que eu pensei. — ela murmurou.
Ele a olhou intensamente.
— Talvez. O que é um problema. Porque pessoas como nós... se destroem mutuamente.
O silêncio entre eles se estendeu por segundos longos. Helena sentiu o chão balançar sob os saltos. Mas não recuou.
— Ou constroem impérios. — ela disse.
Leonardo sorriu, mas o sorriso não chegou aos olhos.
— Estarei te esperando às sete. Vista algo vermelho. Combina com seu novo veneno.
Quando Helena saiu da sala, o coração martelava no peito. Não era amor. Não era paixão. Era algo mais perigoso: um pacto silencioso entre predadores.
Ela sabia que estava entrando em uma zona onde emoções reais poderiam custar tudo. Mas talvez... fosse exatamente esse risco que a fazia sentir-se viva de novo.
O jogo com Gabriel e Isadora estava só começando.
Mas com Leonardo… o tabuleiro era outro.
E as apostas, infinitamente mais altas.

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