Filha da Lua romance Capítulo 10

Gastón saiu a muito tempo e como não tinha nada pra fazer resolvi ligar para a Sol mas ela não me atendeu, deve estar com o namorado. O jeito é navegar na internet, quem sabe acho algo importante.

Abro meu notebook e vejo a imagem de um lobo branco. Isso me lembra que eu nem parei para pensar que estou rodeada de lobos aqui, sei que é loucura mas até parece que só foi um sonho.

Aproveito e pesquiso sobre os mesmos e o que descubro é o seguinte;

  "Os lobos vivem em grupos chamados alcateias, lideradas por um macho alfa, o qual apresenta maior força e poder de caça comparado aos outros membros do grupo.

    O macho alfa forma casal com a fêmea alfa, responsável pelas fêmeas da alcateia. Eles formam um casal monogâmico que vivem juntos durante toda a vida e lideram o grupo.

     Quando um macho alfa morre, a liderança passa para o macho beta, o segundo na hierarquia de organização da alcatéia."

   Até os lobos vivem mais civilizados que nós humanos...

— O que será que aconteceu para o lobo virar homem? Dói só de pensar.

  Me levanto e vou até a cozinha, a casa toda está toda silenciosa. Espero que meu pai esteja bem...

  Assim que volto para a sala dou de cara com Gastón que acaba de chegar.

— Demorou! O que Edgar falou?

— Colocamos mais pessoal à procura do seu pai, temos que encontrá-lo logo. E você o que queria perguntar?

— Ah sim, como assim é para eu me preparar? E para que?

— Estela, seu pai falou que a lua azul iria aparecer antes né?

— Sim, dois dias antes...

— Pois é… Hoje é o dia.

— Mas você falou-

— Eu sei, mas antecipou ainda mais. Não sabemos o motivo, só sei que teremos que subir meia noite na floresta.

— Mas por que?

— Bem, hoje a noite é sua transformação e assim que você se transformar o seu companheiro irá aparecer.

— Acho que li algo sobre isso na internet… Mas como ele irá aparecer?

— Assim que nos transformarmos sentimos. É meio que, como posso explicar… É mágico, você vai ver!

— Mas dói? Digo, para se transformar?

— Sim e não, você vai ver. Não posso contar muito, mas se você tiver a pelagem diferente então nesse caso seu companheiro será de outra alcatéia...

— Outra… Como assim?

— Diz uma lenda que a filha da lua nascerá e sua pelagem será da cor da alcateia inimiga. Temos vários inimigos, lobos que decidiram criar sua própria alcateia e assim viraram inimigos. Mas você não é ela, não pode ser!

— E se eu for?

— Não vamos pensar assim. Agora temos que nos arrumar, já são onze horas e todos estão nos esperando. Queremos ver você se transformar...

— Gastón… Mas se eu for, terei que ir embora daqui?

— Não, seu pai não deixaria e nem eu... Estela...

— Você...? – seus olhos brilham.

— Quero testar uma coisa, mas preciso da tua autorização… – do que Gaston está falando?

— Pra que minha autorização?

— Se eu te beijar e você for minha companheira, saberemos que não será a filha da Lua...

— Mas e se eu não for? E você acabou de dizer que eu tenho que estar transformada para saber quem é meu companheiro.

— Não necessariamente, como eu já sou lobo saberei se é você ou não.

— Não tem só você aqui na vila, pode ser outro lobo… Terei que beijar todos, é isso? – ele está brincando comigo né.

— Apenas confie em mim, quem sabe você sinta alguma coisa. Não posso deixar você ser a filha da Lua, o inimigo não merece você.

O que dizer, Gastón é um gato mas não sei se o vejo sendo algo a mais que um amigo. É estranho pensar nisso, sei que briguei com sua namorada e tal… Falando a verdade, também estou curiosa, quero saber que tipo de loba vou ser.

— Ok, espero não me arrepender. – digo fechando meus olhos com força como se estivesse prestes a cair em um precipício.

  O beijo me pega de surpresa o que me deixa sem reação. Sabe quando você sabe o que vai acontecer mas mesmo assim se surpreende? Pois é o que estava acontecendo comigo. Sinto seus lábios se moverem por cima dos meus… Sua boca quente faz cócegas na minha mas de repente minha visão escurece e vejo um homem de costas. Não sei quem é mas minha vontade é de correr até ele e o abraçar, então vejo como se eu estivesse lá, vejo meu corpo chegar por trás e o abraçar.

  " — Cheguei atrasada, desculpa. As crianças não queriam me deixar partir. Temos que ter um dia apenas para nós dois, não é?"

  O homem não se vira mas responde e sua voz é angelical, me apaixonei instantaneamente.

" — Ser pai não é moleza, mas adoro ter construído uma família com você. Quero ter mais filhos, só esses três não são o bastante..."

Volto para a realidade e vejo que o Gastón ainda me beija...

— Para… – falo com meus olhos cheios de lágrimas.

— Estela… Você está bem? Eu te machuquei?

— Pensei que seria sozinha. – falo quebrando o silêncio.

— Não, a alcateia toda está aqui para assistir a sua primeira vez. Todos estão ansiosos por isso, pois além da lenda da filha da lua que corre, você é filha do alfa.

— E sua cor também. – fala Stefanny de cabeça baixa.

— Que cor tenho que ser?

— Somos pretos, se você for de outra cor então será aquela que casará com o inimigo.

O resto do caminho é silencioso, chegamos e várias pessoas acenam com a cabeça em minha direção, vejo vários alunos da minha escola e no meio de todos vejo Anna toda sorridente. Até ela é loba?!

— Chegou a hora. – fala Edgar que só agora o vejo — Chegou a hora de sabermos se será hoje que a escolhida da lua se transformará pela primeira vez. Estela por favor venha à frente.

  Fico de frente com o fogo e para a multidão, levanto meus olhos e vejo a lua tão linda em sua forma redonda cheia. Minha cabeça está doendo e isso está me incomodando cada vez mais. Os minutos passam e nada acontece, mas de repente minha visão fica turva. Tento fixar a mesma em algum lugar mas é em vão.

Tento andar mas minhas pernas travam e me fizeram cair ao chão. Ouço pessoas dizendo que começou mas não sei como isso funciona. Eu devia ter perguntado mais ao Gastón.

Uma dor nas costelas tira meu ar por completo. Meus ossos estalam, o que me faz gritar, gritos aterrorizantes saem da minha boca. Sinto meu rosto crescer, meu corpo representar estar em chamas, minhas mãos se quebram e isso me faz urrar de dor. Sinto pêlos crescer por toda parte enquanto meu corpo se quebra e se transforma em outra forma. Por conta da dor minha visão se escurece por uns segundos.

A dor passou, minha visão voltou, sei que estou deitada no chão. Minha respiração é acelerada. Me levanto devagar e ao olhar para baixo vejo patas, patas brancas. Olho para a multidão na qual me encaram com os olhos arregalados.

  Sim, eu sou a escolhida da lua. Olho na direção de Gastón e vejo que o mesmo está afastado de costas para mim, tento andar até o mesmo mas como estou fraca apenas caio no chão.

E agora como será que eu volto a minha forma humana normal? A lasqueira, nem para o Gastón me ajudar.

— Ele não vai te ajudar! – fala uma voz feminina.

Olho para todos os lados mas ninguém se manifesta, quem falou comigo?

— Eu não estou no meio.

  Eu devo estar ficando louca agora, estou escutando uma voz. Mas de onde vem? Onde essa pessoa está?

— Estou dentro de você, eu sou a Maya. Sua loba Maya.

Como assim? Será que eu realmente enlouqueci?

— Você não enlouqueceu, todos lobisomens para se transformar em lobo tem um espírito de lobo junto com sua alma. E no seu caso sou eu.

Todos foram embora, alguns vieram e passaram suas mãos em meus pelos e disseram que sentiam muito por eu ser a escolhida. Mas sei lá, eu só quero ir para casa. Gastón foi o primeiro a partir, não sei, mas acho que ele tinha esperança pelo menos de eu ser da alcatéia do meu pai.

Agora que estou restaurada com forças, ando pela floresta. Sinto cheiros de todo tipo, meu olfato está mais aguçado. Também posso ouvir a quilômetros de distância pássaros em seus ninhos, a noite está fria, o inverno chegou, não vejo a hora de ver a neve cair e tingir tudo de branco.

Ando sem ter um rumo próprio até chegar em uma cachoeira que é iluminada pela lua. Sua água cai formando um lindo lago, me aproximo e me vejo refletida na água. Meu pêlo branco se destaca e a luz da lua o deixa com um brilho a mais. Meus olhos são azuis mas não como os de antes e sim um azul que pode enxergar a alma, o que sente ou teme. Me deito na beirada do lago e o sono me vence e acabo adormecendo.