INDECENTE DESEJO romance Capítulo 2

"Uma boa menina não dá vexame."

Uma vez fui ensinada que mentir é feio e desonesto, mas nunca me avisaram sobre as consequências. Bom, descobri sozinha que além de dolorosa elas podem ser irreversíveis. Aos dez anos, quando tudo que eu deseja era ser aceita, menti para ajudar uma colega de classe, Justine, a fingir dor no estômago e se livrar da prova de cálculo. No mesmo dia a garota me enviou uma mensagem de agradecimento cheio de admiração, não soube na hora se deveria me sentir elogiada, mas gostei de ter sua gratidão. Uma semana depois, a diretora me suspendeu. Levou algum tempo até eu perceber que a mentira me cercava, constituía tudo que eu conhecia e por consequência, fazia parte de quem eu era também. Não tinha escapatória, continuei mentindo não por gostar, mas porque era boa demais pra ignorar.

Aprendi que não importa o quanto você esteja ferrada por dentro se um belo sorriso estiver moldando seus lábios, no final, ninguém quer ver lágrimas ou saber das suas angustias.

Meus sorrisos eram ensaiados, ditados, assim, como as minhas roupas e vida. Eu mentia para agradar e fazer feliz a mulher que me trouxe ao mundo, porque ela fazia o mesmo por mim e por mais que r que falasse o contrário, eu sabia que era mentira. Ser esposa do governador de Minas Gerais não era o suficiente, nunca foi. Eu só tinha que fingir mais um pouco, aguentaria até mesmos os arranjos românticos que ela vivia me arrumando, como o falante e babaca Ricardo Alencar, o terceiro filho de um senador esnobe e corrupto que não para de falar desde que fomos apresentados.

— Que tal irmos a um lugar mais reservado?— Olho de soslaio para o garoto, forçando um sorriso enquanto procuro algo em sua aparência que compense sua falta de bom senso.

— Estou confortável aqui, obrigado. — Sugo através canudo de alumínio o líquido amarelo com gosto forte, desejando ter colocado um pouco a mais de vodca. O garoto mantém um brilho malicioso e sugestivo no olhar, encaro por breves segundos seu rosto magro e convencido, me permitindo descer os olhos por todo o seu corpo, assim como vem fazendo comigo desde que se aproximou.

Ombros largos e atléticos, cabelos castanhos que parecem ter sido penteados por dedos e não escova. Lábios finos e rosados, sempre prontos para proferir as mais cruéis palavras e despejar um monte de baboseira. Postura arrogante. Cérebro corrompido.

— Tem certeza? Conheço um lugar onde podemos conversar com mais tranquilidade.

— Creio que não seria conveniente, as pessoas fariam especulações sobre nossa saída repentina em poucos segundos, somos pessoas publicas. — Tento soar convincente, fingindo que este é o único motivo que me impede de sair com ele para qualquer lugar mais íntimo.

Ele gargalha, chamando atenção de um pequeno grupo de pessoas a alguns passos de distância de nós. Arfo. A impaciência me tomando e resolvo que está na hora de arruinar quaisquer expectativas que o paspalho tenha criado.

— Escute, não creio que tenhamos qualquer interesse incomum e sinceramente…não estou interessada em relacionamentos.

Ainda mais com você.

A expressão de surpresa rapidamente é substituída por chateação, vejo a raiva pincelar a cor amendoada de suas íris e deixá-las mais claras. Pelo visto, cutuquei seu ponto fraco e ele não me deixará impune. O nó se forma em minha garganta ao imaginar o tipo de confusão que ele pode me causar nesse coquetel idiota, levando em consideração seu histórico explosivo e rebelde. Tremo ao imaginar as consequências disso quando chegar em casa. Porra.

— Vamos lá, gatinha. Não se faça de difícil, vamos curtir. Ninguém ficará sabendo. — Ele pisca sugestivo, pondo suas mãos em minha cintura, pressionando minha pele com seus dedos longos e mesmo que o tecido impeça o contato direto sinto repulsa.

— Eu disse, não. — Empurro seu corpo pra longe, ignorando a etiqueta ao aumentar minha voz. Suas mãos voltam a me tocar e estou pronta para marcar seu rosto com minha mão quando uma voz conhecida chama minha atenção.

— Algum problema por aqui? — Pedro indaga mais próximo e faz Ricardo erguer o olhar, que ao analisar a figura grande e imponente do meu cunhado retira as mãos de mim. Idiota.

— Eu já estava de saída mesmo, por aqui não tem nada pra mim. — O paspalho fala ao me olhar uma  última vez, trazendo uma sensação de exposição para meu corpo que está coberto por um vestido de seda cinza, de alças finas e que me cobre dois dedos acima do joelho.

— Não tem mesmo. —— Pedro diz, determinado a intimidar o garoto antes que ele dê de costas e nos deixe. Ricardo disfarça sua insegurança com um riso debochado, mas não segura a postura por muito tempo e se vai.

— Cagão. — Resmungo baixo, apenas para que o homem ao meu lado escute. Ele rir e me encara com os dentes brancos e alinhados à amostra. — O quê?

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