INDECENTE DESEJO romance Capítulo 3

6 meses depois...

Respiro fundo, inalando finalmente o ar puro da liberdade. Encaro com um sorriso a imagem de Guilhermino recostado sobre sua caminhonete azul do outro lado da rua, ele está aqui assim como prometeu. Olho para trás e encaro uma última vez a penitenciária que foi meu lar por três anos e meio. Caminho em direção a meu amigo, com passos moderados e cautelosos, observo seus olhos estreitarem em minha direção, mais precisamente no cigarro entre meus lábios e não posso deixar de sorrir logo após soprar a fumaça no ar.

Este foi uma hábito que adquiri na cadeia, experimentei em uma noite, onde nem mesmos meus planos de vingança conseguiam me trazer paz e voilá.

Bingo!

Levanto as mãos em rendição quando ele arqueia a sobrancelha esquerda em desaprovação, trago uma última vez do meu Dunhill, presente do meu companheiro de cela em comemoração a minha saída. Tendo a ciência que não terei permissão para fumar dentro de seu carro, apago o cigarro e o descarto na única lixeira próxima.

Saco.

— Desde quando você fuma?

Dou de ombros.

— Tem alguns meses. — Respondo sucinto, dando a conversa por encerrada. Eu não quero falar do meu novo vício e ele entende que isso.

Entramos em sua caminhonete em silêncio, permanecendo assim até uma música começar a soar no rádio.

É estranho está de volta ao mundo real, quer dizer, com certeza todas as merdas que aconteceram comigo dentro daquele lugar foram reais, mas eu só tinha paredes pra observar o tempo todo, não existiam expectativas ou bons momentos, todos os dias eram apenas aceitáveis. Abaixo o vidro da janela do carro, permitindo uma visão melhor do que acontece lá fora.

Fecho os olhos por um momento e me deixo levar, a música baixa do carro e a brisa suave vindo da janela aberta são o suficiente para que a raiva volte. Ele me tiraram até mesmo isso todos esses meses. Meu maxilar contrai e tento buscar calma no refrão da canção.

Posso sentir a tensão vindo de Guilhermino, mas mantenho meus olhos fechados mais um pouco. Compreendo sua preocupação com minhas próximas ações e não o culpo, tenho lhe deixado informado sobre tudo o que planejei para a corja dos Leal e o assustei, fui modificado com a prisão e sou diferente do garoto que ele conheceu moleque.

Por isso, eu estava fumando. A nicotina me mantém calmo quando o nervosismo e a ansiedade surgem, funciona como um escape.

— Madá está fazendo um belo assado de panela em sua homenagem. — Ele fala, dando um leve tapa em meu ponto para me chamar a atenção.

Sorrio sincero com a menção do nome da mulher.

— Ótimo.

Ele bufa.

— Ótimo? Tudo que tem pra falar é isso? Onde está sua empolgação pra comer uma comida de verdade?

Um sorriso de canto repuxa meus lábios.

A comida não era tão ruim, na verdade, era o menor dos problemas que alguém pode ter naquele lugar.

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