INDECENTE DESEJO romance Capítulo 5

Chegar a maior idade costuma ser um grande marco para a maioria dos adolescentes, a euforia da tão sonhada independência e falsa liberdade, mas não pra mim. O vestido caro e elegante que alguém do marketing do meu pai escolheu está deitado sobre minha cama faz meia hora e tudo que consigo sentir é frustração. Eu ainda quero fugir e ligar o foda-se pra todo mundo dessa casa, mas não é tão fácil e por mais que eu queira pegar minha mochila, encher com roupas simples e sumir do mapa, Augusto me encontraria a onde quer que eu fosse. Preciso ser paciente a calma, assim como fiz ano após ano, esperando, ansiando pelo dia que nada poderia me prender. Aceitei que meus aniversários se transformassem em eventos políticos e sociais para planejar.

Suspiro, aliso o tecido rendado do vestido negro e passo pelos meus braços, virando para encarar minha imagem no reflexo do espelho quando já estou por inteira vestida. O modelo abraça minhas curvas e ressalta a cor esverdeada dos meus olhos cobertos por uma maquiagem simples, o pequeno decote em forma de coração é discreto comparado com a grande abertura na lateral, revelando a pele pálida da minha coxa. Meu cabelo está bagunçado, como se eu tivesse penteado com os dedos ou deixado secar naturalmente, ao menos, isso foi escolha minha.

A festa está barulhenta, o Dj toca músicas atuais e a maioria dos convidados estão jogados na pista, dançando de forma eufórica. A mídia não foi permitida aqui dentro, nem mesmo os convidados terão permissão para gravar ou fotografar. Pelo menos, não enquanto meu pai estiver circulando. Sorrio para alguns convidados, alguns conhecidos e outros nem tanto.

Aproveito o momento de distração que meus pais se encontram e escapo de fininho rumo ao bar. Ajeito a máscara de renda preta que cobre metade do meu rosto, apenas para assegurar que ela está no lugar certo. Bato no balcão para chamar a atenção do bar man e sorrio ao constatar o quão bonito ele é.

O moreno corresponde e sorrir de volta, mostrando uma covinha pra lá de charmosa no canto esquerdo da boca.

— O que a senhorita deseja?

Sinto minha pele esquentar com os pensamentos que surgem com sua pergunta.

— Campari, por favor.

Ele arqueia uma de suas sobrancelhas, me avaliando por inteira, provavelmente julgando meu pedido antes de assentir e estender o copo na minha frente.

— Quantos anos você tem? —Pergunta com interesse, apoiando as duas mãos no balcão, fixo no meu rosto.

— Idade suficiente para provar bebida de verdade. — Uma voz desconhecida fala. Um homem alto, com uma máscara cobrindo só metade do seu rosto, usando blusa social negra com as mangas levantadas até a parte dos cotovelos surge bem ao meu lado, puxando um dos bancos e se sentando sem nenhum convite.

Franzo o cenho, fazendo cara feia. Não consigo visualizar seu rosto com precisão por conta da máscara, mas tenho a sensação de familiaridade e me contorço por dentro com a possibilidade de ser algum dos filhos desses políticos meia boca, a droga dessa festa está cheia deles.

— Já tenho minha bebida.— Falo, aproveitando para tomar um gole dela.

Com o canto dos olhos observo que é a vez dele de fazer cara feia.

— Isso é bebida de gente fresca. — Diz, não se importando em usar um tom de desdém.

Torço o rosto. Voltando minha atenção pra ele, ignorando que ele acabara de me chamar de fresca e tento soar educada, levando em consideração que ainda não sei sua identidade, embora pareça que ele sabe quem sou.

— Com licença. — Falo, me pondo de pé, deixando até mesmo minha bebida pra trás.

Ele se levanta, agarrando meu braço e me impedindo de prosseguir, encaro sua mão e depois seus olhos escuros. O bar man já nos deixou para atender outras pessoas faz um bom tempo, olho a nossa volta checando se tem alguém prestando atenção.

— Quem é você? — Questiono.

— Sabe quem eu sou. — Responde, me fazendo estreitar as sobrancelhas em confusão. Ele está próximo o suficiente para que possa sentir o aroma forte do seu perfume. Me lembra madeira molhada.

— Não consigo enxergar seu rosto. — Falo, me justificando. Comprimindo mais os olhos, tentando pegar algum detalhe que me relembre Alguém.

— Eu te reconheci mesmo de máscara. — Fala e eu bufo em resposta.

— Ela é transparente, não esconde muita coisa.

— Você tem razão. — Concorda comigo.

— Vai soltar meu braço agora? — Pergunto, encarando seus dedos que ainda apertam, não tão forte, a pele desnuda do meu braço.

Ele sorrir, embora não mostre seus dentes.

— Claro, garota bonita. Você vai me deixar te mostrar o que é bebida de verdade? — Fala, largando meu braço.

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