INDECENTE DESEJO romance Capítulo 4

— Você sabe a data e o endereço exato dessa boate? — Pergunto.

— Ocorrerá amanhã a noite na boate Vazz, você sabe qual é.

Sim, eu sabia. Era uma das minhas boates favoritas quando mais jovem.

— Vou precisar de uma máscara. — Falo.

— Não, nós vamos precisar de duas máscaras. — Ele me surpreende ao dizer, mas decido não questionar, será bom ter alguém conhecido para controlar minha raiva.

O fato de Curvelo ser um município pequeno e interiorano faz com que todos os seus habitantes se sintam membros de uma só família e se intrometam sem permissão na vida uns dos outros, apesar de ser um homem reservado meus pais me educaram para ser gentil e cortês com qualquer pessoa que cruze meu caminho, independente se essas pessoas são um bando de bisbilhoteiros intrometidos ou não. Ainda assim, eu não me senti bem—vindo ou confortável na minha própria casa, meus pensamentos estavam distantes e perdidos nas lembranças. Faz muito tempo desde a última vez em que estive aqui e as mudanças são visíveis. Todo mundo parece pensar três vezes no que vai falar quando me direciona a palavra.

Puxo as mangas da minha blusa social para cima, sorrio mais uma vez para a mulher gentil e amorosa que trabalha pra minha família desde muito nova.

— Vou subir. — Declaro, impaciente com toda a protelação que o almoço se deu. Alguns olhares  me são direcionados rapidamente, toda a atenção está sendo sufocante, é como se fosse meu primeiro dia na cadeia de novo e eu fosse uma maldita atração.

— Você mal tocou na comida.

A mulher mais velha abaixa os ombros, me dando um olhar triste e decepcionada. Rosno baixo, levantando e parando ao seu lado. — Tudo estava delicioso, minha Deusa. —Digo, depositando um beijo em seus cabelos já grisalhos.

Não dando tempo pra nenhum protesto de Guilhermino, subo as escadas e vou em direção ao meu antigo quarto, o mesmo que eu dividia com ela e passei os melhores dias da minha vida. Seguro a maçaneta com força, respirando pesado e tomando um tempo. Assim que a porta se abre e meus olhos confirmam a minha suspeita meu coração acelera, nada foi alterado ou acrescentado.

É como se o passado não fosse tão distante, como se ela fosse entrar pela mesma porta que entrei, declarar que tudo não passou de um pesadelo e me beijar arduamente.

Fecho os olhos e inspiro forte, acreditando ainda poder sentir o cheiro dela.

Meu peito dói com as lembranças, o maldito dia onde tudo começou a ruir, de alguma forma eu sabia que algo iria acontecer. É como se eu pudesse ver toda a cena.

" O cabelo loiro esparramado pelo meu travesseiro, a imagem angelical e serena me faz deixá-la dormir mais um pouco. Sigo para um banho gelado e solitário, relaxo assim que a água entra em contato com meus músculos e tento não pensar que dentre algumas horas terei de lidar com a visita indesejada de meu sogro e sua família bastarda. Minha mulher esteve tensa por quase toda noite e precisei ser paciente e carinhoso para fazê-la esquecer com que teria que lidar hoje, mas eu mesmo estou inquieto com a chegada dos possíveis hóspedes, esses três meses de casado me deram tempo para ouvir e ler bastantes histórias da família Leal e tenho certeza que toda essa cordialidade não passa de pretexto do cachorro velho para encontrar uma forma de me separar da sua primogênita, sei muito bem que sou uma pedra em seu sapato e que seus planos para ela não incluía um casamento com um simples fazendeiro do interior. Não tenho o sobrenome requintado e nem o prestígio necessário para pertencer sua família, dane-se, não preciso dele para nada.

—Henrico? — Três batidinhas na porta e uma voz doce me trazem de volta, desligo o chuveiro e afasto o divisor que separam as duas partes do banheiro e sigo para a porta capturando no caminho uma das toalhas brancas que sempre ficam disponíveis no armário abaixo da pia.

— Oi, meu anjo.—Digo assim que a vejo em pé na minha frente, olhando—me com as bilas azuis e graúdas que me amolecem a alma. Tudo é sereno e tranquilo com ela. Beijo sua testa e observo sua expressão desapontada. — O que aconteceu?

— Queria tomar banho com você. — Declara, fazendo os lábios finos formarem um pequeno bico. Sorrio perante seu jeito meigo.

— Desculpe, mas você dormia tão bem que não quis te acordar.

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