INDECENTE DESEJO romance Capítulo 7

Existem duas coisas que podem tornar meu dia melhor e estou indo fazer uma delas agora, já que passar um tempo com Dona Anna Maria se tornou impossível desde que ela decidiu embarcar no mundo da política e participar com frequência dos eventos. Esposa do ano.

Um sorriso se forma em meus lábios assim que avisto a sacada do lar aquarela, morada de quase vinte crianças de ambos os sexos e idades distintas, onde tenho me voluntariado desde os dezesseis. Conheci o lugar quando tinha doze anos, fazendo uma visita ao bairro onde minha mãe cresceu. Acontece que foi paixão a primeira vista e de quebra encontrei um refúgio seguro. O táxi estaciona de frente a instituição e o agradeço, pagando pela corrida e saltando para fora do com pressa. Estou morrendo de saudade dos meus pequenos. Dou uma última olhada pra trás para checar se Júlio e César, meus seguranças, estão me seguindo. Reviro os olhos ao constatar que sim, no começo, até conseguia despistar e viver como uma garota normal e livre, mas eles descobriram e passaram a me seguir de longe, sem grandes interferências, mas nunca passando despercebidos.

Volto minha atenção para a grande casa e bato no portão de ferro, chamando a atenção de seu Severino que cuida da parte de vigilância do lugar. Ele abre um sorriso quando me ver e corre apressado em minha direção.

— Menina, achei que não viesse mais. — Ele fala, abrindo o cadeado e me dando passagem.

Sorrio agradecida.

— Bom dia, seu Severino. Eu sempre venho. — Pisco pra ele e me encaminho para os quatro degraus que me esperam.

Meu corpo está agitando pelo dia de hoje, não consigo deixar de sorrir quando abro a porta e dou de cara com Vivi e Dieguinho brigando por um biscoito, ambos só tem três aninhos e vivem em pé de guerra por qualquer coisa. Como são os mais novos do lar são paparicados por todos, mas meu coração aperta quando os vejo assim, disputando comida.

Nesses momentos vejo o quanto fui privilegiada, tendo tudo de melhor pra comer e vestir. E não é como se eu não gostasse de entrar em uma loja e não ter que me preocupar com preços, eu apenas nunca me importei por achar a coisa mais natural do mundo, sempre ter o que a hora que quer, mas aqui descobri o quanto vivi em um mundo de fantasias.

— Ei, seus pertinhas. — Falo, ganhando a atenção dos dois seres, eles dão gritinhos e correm pra mim.

Me abaixo, ficando na altura deles e os abraço forte.

Nossa, eu estava com saudade disso.

Inalo o cheirinho de bebê natural de ambos e dou um beijo na cabeça de cada um.

—Titia, Digo quér meu bicoito. — Vivi fala, segurando meu rosto com suas duas mãozinhas para que eu lhe dê total atenção.

— Mintila,o bicoito é meu! Vi é mentilosa.

Diego fala, puxando o biscoito da mão da menina e colocando todo na boca. Ele parece com raiva quando faz isso, se torna até engraçado pela careta que ele faz pra ela.

Minha menina faz biquinho, ainda olhando pro garoto sem acreditar no que ele acabara de fazer um abre o berreiro. Chorando como uma desesperada, enquanto Diego a olha assustado, quase arrependido do que fez.

Ele cobre os ouvidos.

— Você é muito cholona, Vi. — Diz.

Ela aumenta o choro e sou obrigada a tomar uma atitude.

— Ei, garota. Você não pode chorar por um pedaço de biscoito, você é durona, lembra? — Digo, enxugando as lágrimas do rostinho redondo, empurrando pro fundo da minha consciência a sensação de inutilidade

Ela funga, processando minhas palavras e cessando o choro.

— Eu não gosto dele. — Ela diz, apontando para um Diego silencioso ainda do outro lado.

Ele sempre foi mais observador, quieto.

Quando penso em abrir a boca para interceder, meu menino toma a frente e beija os cabelinhos ruivos de Vivian.

— Você é minha amiga, não é? — Ele pergunta, segurando o rosto dela com as duas mãos, todo bonitinho, cheio de personalidade.

Um silêncio paira sobre os dois e observo tudo com atenção. Eles parecem se conectar só com o olhar.

— Você é mau. —Ela resmunga, baixo.

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