INTENSO DESEJO romance Capítulo 2

­–– Mel? –– A voz grave e cansada sussurra meu nome, a intensidade do timbre abala minhas pernas e tenho que segurar forte no corrimão da escada para me manter de pé.

–– Sim, Lorenzo? –– Vejo seu maxilar apertar, a coloração rosada deixar sua mão direita com a pressão que ela exerce sobre o copo com Uisque e temo que o vidro se parta.

Você odeia quando o chamo pelo nome completo.

Bom, eu odeio quando bebe sem parar, estamos bem iguais aqui.

–– Não me chame assim. –– Ele protesta, afetado pela bebida.

Suspiro desanimada.

–– Desculpe, tio. –– Seus ombros relaxam em resposta.

Desço mais um degrau, faltando apenas quatro para que meus pés encontrem o chão e sigam ao seu encontro, o único caminho que eu sempre quero percorrer.

–– Você deveria está dormindo, princesa.

–– Não consegui. –– Explico, me sentindo corajosa o suficiente para descer mais dois degraus de uma vez.

Agora é sua vez de suspirar. Exausto demais para começar uma briga. Eu o agradeço em pensamento por isso, me mantendo em silêncio enquanto espero sua próxima fala.

–– Desculpe. –– Pede. Franzo o cenho, juntando minhas duas sobrancelhas.

–– Era nossa responsabilidade cuidar de você. –– Se antecipa em explicar.

Cerro meus punhos e encaro o branco da parede.

Você não tem culpa. Quero falar, mas meus lábios não me obedecem.

O silêncio se estabiliza e ele põe o copo com o Uisque na mesinha à sua esquerda.

–– Quando seus pais morreram e a deixaram sobre nossa responsabilidade, eu deveria ter estado mais presente na vida de vocês duas. No entanto, não o fiz. A vontade de crescer financeiramente e oferecer uma vida mais confortável, segura para ambas falou mais alto.

Meu coração dispara. Falar dos meus pais em uma situação como essa só faz a dor aumentar. Eu era tão pequena para ter seus rostos frescos em minha memória.

–– A culpa não foi sua. –– Falo, tentando levar algum alento ao seu coração quebrado.

Mais suspiros, mas sou incapaz de falar se estão saindo de mim ou dele. Sua respiração sempre foi tão audível em momentos semelhantes a este.

Seu corpo se ergue do sofá e ele passa a bagunçar os fios negros do cabelo, por quase um minuto o observo de longe, os ombros tensos como se estivessem sobrecarregados demais para relaxar, a pele dourada pelo sol sem o brilho costumeiro, o rosto marcado por uma expressão cansada e sombria .Desço mais um degrau, coloco toda minha força de vontade para não correr para seus braços e confortá-lo. Ele grita para o nada, como um animal encurralado e sei que é uma forma de expulsar a raiva do seu corpo, no entanto, isso me impede de ter qualquer avanço na nossa aproximação.

–– Eu devia ter percebido que ela tinha voltado com isso. Fui tão cego. –– Diz e não posso deixar de me prender em suas palavras.

–– Voltado? –– Pergunto, avaliando cada reação do seu corpo.

–– Sim, após a morte da sua mãe Solange entrou em depressão, ela não conseguia suportar a ideia de que perdeu a única irmã em um acidente de trânsito banal.

Calafrio percorre minha espinha.

Lembranças.

Lembranças.

Lembranças.

Eu tinha apenas cinco anos, tudo aconteceu um pouco depois do casamento dele com tia Solange.

–– Ela passou a beber, no começo não prestei tanto atenção. Estava preocupado com o seu bem-estar, você era tão pequena e frágil. –– Seus olhos me buscam, nunca consegui descrever o amarelo deles, mas sempre gostei de pensar que são tão doces como caramelos. Odeio vê-los tão tristes e culpados.

–– Não foi culpa sua.

–– Ela virou uma alcoólatra. –– Sussurra de volta, renegando minhas palavras.

–– Não foi culpa sua. –– Repito.

–– Era minha obrigação cuidar dela. A culpa é totalmente minha, Melissa. –– Rosna.

Não contenho as lágrimas que descem pelo meu rosto, olhando para seu olhos transtornados e perdidos sinto medo de perder mais alguém. A única que me restara.

Continuamos nos encarando, as veias do seu pescoço parecem que vão explodir e jorrar sangue por toda a nossa sala.

Balanço a cabeça para afastar as lágrimas.

–– Ela mentiu pra nós dois, fingia ir para o grupo de reabilitação quando na verdade ia pra um bar.

–– Você não entende. –– Dispara, bagunçando ainda mais os fios negros com as mãos, visivelmente abalado, cheio de fúria.

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