INTENSO DESEJO romance Capítulo 3

Eu não tenho muitas amigas, mas as poucas que adquiri na escola interna, nova aliança, no interior de Minas gerais, me ligaram desde que descobriram o que aconteceu com tia Solange. Ontem o número de ligações aumentou drasticamente quando Cíntia descobriu sobre minha saída do colégio. Estava doendo em mim aquele afastamento também, no entanto, era o melhor para a minha família nas circunstâncias atuais e sinceramente, a garota sempre teve estava fazendo uma cena maior do que o necessário, mas isto era ela e sua inclinação para o drama falando. Elas fizeram conferência por vídeo para tentar encontrar uma solução, porém, não havia um problema para tal e encerrei o assunto.

Hoje fazem um mês desde o enterro e minha rotina se resume a tomar café da manhã com Lorenzo, vê-lo partir para o restaurante e esperar por sua volta, esta é a pior parte, porque ele sempre chega quando já estou indo dormir e é frustrante pra caralho! Sinto que é proposital, como se minha companhia fosse demais pra ele suportar.

–– Bom dia, Mel.

–– Bom dia, Lorenzo. –– Enfatizo seu nome e ele para a garrafa de café no meio do caminho.Coloco a torrada com geléia pela metade de volta ao meu prato e finjo que vou me levantar da cadeira.

–– O que fiz dessa vez? –– Pergunta, segurando meu braço para me impedir de sair da mesa.

–– Por que acha que fez algo? –– Indago, enquanto me acomodo de volta no lugar e corto uma fatia de bolo de cenoura.

–– Você me chamou de Lorenzo. –– Explica e dou de ombros, fingindo não entender seu ponto.

–– É o seu nome. –– Cruza os braços e gira todo seu tronco em minha direção em um único movimento.

–– Você só me chama assim quando está chateada, o que eu fiz?

–– Nada. –– Continuo a comer enquanto sinto seus olhos queimarem em mim.

––Tenho todo o tempo do mundo, Melissa. –– Meu sangue ferve mediante suas palavras.

–– Desde quando? –– Giro em sua direção e encaro sua expressão surpresa.

–– O que houve com você? ––Pergunta, aturdido com minha reação.

–– O que houve comigo? –– Repito sua pergunta, minha cabeça dói e de repente sinto vontade de lhe pontuar todos os motivos para minha irritação.

–– Você. –– Resumo.

Seus lábios apertam e seus olhos checam cada parte do meu rosto, buscando algum esclarecimento.

–– Eu não fiz nada. –– Se defende quando percebe que não direi mais nada.

–– Isso mesmo, como eu havia falado antes, nada. Absolutamente nada.

–– O que você quer dizer?

–– Eu sou a adolescente aqui. Eu quem deveria criar situações. No entanto, quem está se trancando no escritório e ignorando as pessoas é você.

Ele bufa.

Bufo de volta.

–– Eu não queria falar com ninguém. –– Defende-se.

Ele parece exausto. Bem, somos dois.

–– Nem comigo? –– Murmuro magoada. Seus braços me amparam e de repente estamos os dois em pé entrelaçados.

–– Eu sempre quero falar com você. –– Traz as pontas de seus dedos em minhas costas fazendo pequenos círculos. Os pelos do meu pescoço se arrepiam com seu toque.

–– Você me excluiu. ––Resmungo, parecendo melosa e carente.

–– Não foi minha intenção. –– Sua respiração sopra os fios soltos e finos de meus cabelos. Nosso abraço se intensifica, me sinto saudosa e sensível.

–– Me senti sozinha. –– Estou fungando contra seu peito, nem ao menos tinha reparado que comecei a chorar.

–– Eu tô aqui, agora. Sempre estarei. –– Promete.

Desço meus braços de seu pescoço e os passo por sua cintura apertabdo-o ainda mais contra mim. Ele solta uma gargalhada fraco e bagunça alguns fios dos meus cabelos.

–– Sentiu mesmo minha falta, hein. –– Brinca e o afasto, dando uma cotovelada em sua costela de leve.

–– Eita, você tá ficando muito fortinha.

Dou de ombros.

–– Você vai trabalhar? –– Pergunto. Seus olhos me encarando.

–– Sim, mas voltarei logo. Até vou te fazer um jantar. –– Pisca e o encaro surpresa.

–– Você nunca mais cozinhou. — Comento empolgada e ele sorrir de canto, tendo a certeza que me ganhou com sua promessa.

–– Então, será algo especial. Coloque uma roupa bem bonita.

Sinto vontade de pular tamanha alegria, mas me contenho e dou-lhe outro abraço apertado.

–– Você não sente falta de cozinhar? –– Questiono, voltando para o meu café da manhã.

A fome tinha voltado.

–– Eu tive meu tempo como cozinheiro, mas gosto do rumo que as coisas seguiram. Tenho as minhas filiais de restaurante e posso administrar tudo do meu escritório, junto com meus novos empreendimentos. –– Será que você ainda leva jeito?–– Sua face me encara ofendida.

–– Espere até hoje a noite, garotinha. Espere e veja. –– Diz convencido.

–– Apenas não me mate. –– Pisco em sua direção e ele parece avaliar a sugestão.

–– Você anda muito atrevida, garotinha. Você vai se lambuzar com a minha comida.

–– É melhor não colocar tantas expectativas, titio.

Ele me encara em um olhar diferente.

–– Muito atrevida. –– Volta a sorrir e solta uma piscadela.

–– Vou dispensar a Olga, trarei notícias para você hoje. Até mais tarde, Mel.

–– Até mais tarde, tio Enzo.

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