Encaro a porta da minha própria casa por tempo demais, algo que poderia ser questionado por qualquer um se eu não estivesse sozinho aqui, plantado feito um psicopata doente por quase quinze minutos. Mas o grande problema é que não tem absolutamente ninguém, quanto desejo desesperadamente que alguma alma solidária apareça e chame a polícia. Não importa, prefiro ficar atrás das grades do que sozinho aqui com ela.
Com a sobrinha que não possui meu sangue, mas ainda é a única família que tenho. A garota que tem feito coisas estranhas nos últimos meses e tem me deixado fora de si.
Merda.
Hoje ainda era sábado, o que significa que não haverá ninguém mais naquela maldita casa além de nós dois, nenhum ser vivo para impedir que eu cometa alguma sandice e vá parar realmente na cadeia ou no inferno.
Droga! Ela estava furiosa ontem, não posso lidar com outro confronto daqueles sem responder de forma afiada. Eu me sinto afiado hoje, como se tivesse me preparado a manhã toda para responder cada uma das suas indagações.
Destravo o código de segurança na porta e giro a maçaneta, caminho por toda a sala e deixo a pasta em seu lugar de sempre, na bancada da cozinha.
A casa está silenciosa e respiro aliviado, sem brigas hoje. Checo o relógio em meu pulso e observo ser muito cedo para que minha garota esteja dormindo. Subo as escadas e sigo para seu quarto, a preocupação queima em meu consciente. Ela não pode ter saído sem avisar, resmungo.
A porta de seu quarto se encontra aberta e a cama está alinhada como se tivesse acabado de ser arrumada, checo seu armário de roupas por segurança e alívio me invade por detectar que não tem nada faltando. Depois de ontem não me surpreenderia se ela tentasse fugir pra longe de mim, eu não deixaria para o bem dela.
Onde essa garota se meteu? Deixo seu quarto e vasculho cada cômodo do andar de cima, até mesmo em meu quarto embora torça para não encontrá-la realmente lá, seria muito para os meus nervos já abalados. Volto para o andar de baixo e crispo a testa ao ver o cômodo mais improvável iluminado.
Ela não fez isso.
Ela não entrou lá, justo na cova do leão.
Caminho em passos largos e duros, com as mãos fechadas e maxilar trincado. Parece que minha reação fria de ontem a deixou instigada a provação e atos rebeldes, agora foi demais e ela merece uma lição. Aquele lugar é o meu refúgio, a merda do único lugar que não estava impregnado com o seu perfume provocativo.
–– O que você pensa que está fazendo, Melissa? –– Falo alto e grosso, a pegando de surpresa e fazendo seu corpo tremer.
Eu não a quero ali, merda.
Seus olhos azuis me encaram assustados, nunca os vi assim antes, ótimo. Eu posso ver como eles parecem prontos para se entregarem ao choro e acabar comigo, mas minha garota é teimoso e ultimamente adora me desafiar. Isso não vai prestar.
–– Por acaso perdeu a capacidade de enxergar, não vê que estou comendo?— Tenta me provocar, mesmo que seus olhos estejam brilhando com lágrimas presas.
Bufo. Passo meus olhos sobre minha mesa e mordo continuamente meu lábio inferior para manter o controle e não avançar em sua direção, tem a merda de comida mexicana espalhada por toda a mesa do meu escritório particular, controlo minha respiração e encaro seu rosto prendendo seu olhar no meu.
–– Que merda você está comendo, Melissa? Quem te deixou entrar aqui?
Ela sorrir. Um sorriso presunçoso com traços de malícia que me faz perder a cabeça. “Onde ela aprendeu a fazer isso?”
Provocadora do caralho.
–– Oh, eu pedi a nossa comida e resolvi comer aqui. –– Fala de forma angelical, como se não soubesse o quanto sua atitude me tirou do sério.
Nada poderia me irritar mais.
–– Eu odeio qualquer comida que não seja caseira, você sabe.
–– Bem, achei que era época de mudanças. –– Ela friza tanto a última palavra que ganho a certeza de que tudo faz parte do seu plano para roubar meu juízo.
–– Você quer me enlouquecer, garotinha?
Ela franze os lábios em um bico e parece ainda mais brava que na noite anterior, com suas mãos na cintura e olhar sanguinário.
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