Lembranças das noites quentes de verão Falido, fodido e renascido das cinzas

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- O que significa isso? – J.R perguntou

- São os dados obtidos pela auditoria terceirizada que contratei. Mariane desviou dinheiro, sonegou e deixou de pagar impostos. Ou seja, a J.R Recording não só está falida, mas deixará de existir muito em breve, quando o próprio governo a fechar. Era isso que você queria? Pois bem, conseguiu! – Olhei para ela, por fim.

- Não... Você não fez isso. – J.R olhou para Mariane.

- Pai, não tínhamos combinado que esta auditoria não ocorreria? – Mariane disse nervosamente.

- Eu segui com ela, mesmo sem autorização. Havia uma pessoa da empresa que contratei que ficou aqui, sem que vocês soubessem. E deu seguimento ao trabalho. Porque eu tinha certeza que você roubava a própria empresa, Mariane. Mas precisava de provas.

- Mariane... Eu confiei em você... E em troca... Me destruiu. – J.R sentou-se em sua cadeira, completamente desnorteado.

- Por que você fez isso? – Olhei para minha irmã, procurando respostas.

Ela ficou um tempo calada, antes de dizer:

- Tenho meus motivos. Mas não lhe dizem respeito.

- Isso é completamente sem sentido. Assim como tudo que vocês dois fizeram para destruir meu relacionamento com Charles.

- Acalme-se! – Charles pegou minha mão, quando não contive mais as lágrimas.

Desvencilhei-me dele, pois precisava ser forte e conseguir sozinha. E naquele momento, Charles me deixava mais emotiva do que eu deveria estar.

- Pai, o que mais me intriga é por que você me chamou para passar as festas de final de ano com vocês na praia, sabendo que Charles era o pai de Melody? Qual foi sua intenção naquele momento... Acabar com o restava de mim?

Ele me encarou, sem dizer nada. Não me importei mais que me vissem chorando, porque estava simplesmente destruída por dentro ao perceber o quanto os dois eram dissimulados e insensíveis. E ao mesmo tempo, tentavam ainda me esconder fatos que em breve eu descobriria, com ou sem a ajuda deles.

- Que tipo de pai é você, J.R? – Charles perguntou – Afinal, eu vi sentimentos da sua parte por Melody... Então... Por que fazer Sabrina e eu sofrermos desta forma? Não passou pela sua cabeça que a menina pudesse saber a verdade sobre o pai?

- Eu... Não fiz de propósito. Fui... Obrigado. – Ele olhou na direção de Mariane.

Mariane, por sua vez, encarou o pai, parecendo ainda mais nervosa:

- Quer mesmo chegar nesta parte?

- Que diferença faz agora? – Foi a resposta dele para a filha mais velha.

Senti meu coração acelerar ainda mais. O que eles escondiam, afinal?

- Por que foi “obrigado”? – insisti – Por favor... Eu preciso saber o motivo do ódio de vocês por mim.

- Não é ódio, Sabrina. Nunca foi – ele levantou os olhos na minha direção, sentado em sua grande cadeira de couro, atrás da mesa gigantesca, onde passou praticamente a vida inteira dando ordens e sendo o dono do mundo – Eu amo você, pois é minha filha. E sempre quis o seu bem.

- Fico imaginando o que faria se não a amasse... E não quisesse o bem dela. – Charles ironizou, enquanto sentava num dos confortáveis sofás em couro, de frente para nós.

Eu e Mariane estávamos de pé. Eu sabia que talvez a conversa demorasse mais do que eu esperava, mas não conseguia sentar. Estava nervosa demais para me manter quieta, num só lugar.

- Só quem tem um filho sabe do que um pai é capaz. – Ele vociferou para Charles.

- Eu tenho... Uma filha que você me impediu de conhecer por exatos cinco anos. E eu sou capaz de matar e morrer por ela, acredite. E também pela mãe dela... – me olhou – Acha que isso é proteção ou amor, J.R? Afastar sua filha do homem que ela amava, com um filho no ventre?

- Vocês nunca irão me entender... Mas sim, fiz pelo bem dela. Colin era o homem certo. Sempre foi.

- Por Deus! A escolha era minha. – Gritei.

- Nunca foram nossas escolhas... Sempre foram as dele. Não entende isso? – Mariane gritou.

J.R suspirou, parecendo sentir um pouco da dor da rejeição das filhas.

- Eu planejei a prisão de Charles. – Disse meu pai, olhando nos meus olhos.

Charles levantou-se imediatamente e eu o abracei, sentindo seu coração bater tão forte que parecia querer saltar do peito. Agora era a vez de ele acalmar-se. Em nada adiantaria agir com violência e perdermos a verdade de

- Por favor... Não... – Implorei.

me olhou profundamente. Sim, eu conseguia sentir a dor dele no verde profundo de seus olhos. Foram quatro anos, privado da liberdade de viver, condenado injustamente.

poucos ele foi acalmando e senti seu corpo relaxar. Então voltei-me novamente para meu pai, os olhos marejados, sem

Foi capaz de tal atrocidade?

Acredite ou não, foi para o seu

Balancei a cabeça, incrédula:

meu sofrimento, a prisão de um homem inocente... Por quatro anos! Diz que isso era para o meu bem? Que tipo de pessoa você é? Desde o início eu imaginava que era o responsável por tudo... Mas confesso que, lá no fundo, tinha esperanças que não fosse... Que estivesse

O passado dele era um caos. Um homem sem perspectiva de futuro, sendo pai aos dezesseis anos de idade... Tocando num bar de beira de estrada, fétido, frequentado por pessoas sem

não tinha o direito! – Charles gritou, bravo a um ponto que eu nunca tinha

Imaginei que fosse fazer o mesmo com o bebê dela... – Tentou

Sequer me deu uma chance para descobrir o que eu faria... Julgou, sem nem falar comigo

Eu só queria minha filha longe de você. Criei minhas meninas com tudo que quiseram a vida inteira... Dei-lhes tudo que o dinheiro podia comprar. E planejei casamentos com pessoas que pudessem lhes dar nada menos do que eu proporcionei a elas a vida inteira. São... As minhas meninas! – Ele nos

um gemido e olhei para Mariane, que limpava o rosto, tentando fingir que não estava chorando.