Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 125

A menina era filha dela. Era minha filha... “Nossa” filha. Eu não tive dúvidas. Eu senti quando pus meus olhos nela. Sabrina me escondeu a menina por... Quase seis anos. Como pôde?

- Está namorando o meu filho? – olhei para ela – Ele tem... Dezoito anos.

- Dezoito anos... – ela riu – Se importa com isso? Acha que ele é um “garotinho”?

Porra! Ela foi tão debochada quanto agressiva. E senti os olhos dela lacrimejarem e a voz sair trêmula, como os lábios.

Por mais que estivesse puto por ela estar com meu filho, tive vontade de pegá-la no colo e sair dali correndo, sem rumo, para nunca mais voltar.

Mas precisava ficar calmo. Estávamos juntos novamente num mesmo lugar, eu sabia quem ela era de fato agora e aquilo já se tornava um grande avanço.

Acontecesse o que fosse dali para frente, eu sabia a minha “garotinha” era Sabrina Rockfeller. Ela não era mais um fantasma... Estava ali, na minha frente, em carne, osso, curvas perfeitas e sobrenome.

- Mariane... Por que nunca me contou que tinha uma irmã? – Questionei-a, confuso.

- Ela não contou porque me mataram... Quando eu tinha dezoito anos – Sabrina respondeu pela irmã – Quer contar a ele o motivo, “irmã”?

- Sabrina, precisamos conversar. – Mariane tentou tocá-la e ela afastou-se.

Vi as lágrimas escorrendo pelo rosto dela e dei um passo na sua direção, sendo contido por Mariane, que se pôs entre nós.

Estávamos separados pela irmã vagabunda, que a traiu um dia antes do casamento. Ainda assim, eu era grato por Mariane ter feito aquilo, pois desta forma pude ficar com a noiva, por meros dias, que renderam a menina de olhos verdes que me olhava de longe, enquanto Guilherme tentava distraí-la. Tinha a sensação de que ela sabia quem eu era. E que o “pai” balbuciado não foi em vão, como me pareceu inicialmente.

J.R estava próximo deles e ambos falavam com ela ao mesmo tempo. Entretanto os olhinhos verdes arregalados estavam sobre mim o tempo todo, curiosos, amedrontados.

- Por Deus, o que está acontecendo aqui? Vocês... Se conhecem... Todos? De onde? – Calissa estava nervosa.

Sabrina ficou pálida e saiu correndo. Tentei passar por Mariane, que não permitiu.

- O que está acontecendo, Mariane?

- Não sei... Me diga você, Charles – ela me olhou – Você está estranho.

Dizer ou não a ela que a irmã era a mulher que eu procurei por anos e amei desde sempre? Calissa já tinha desaparecido dali, certamente indo atrás de Sabrina também.

Guilherme veio até mim, com a menina pela mão. Ela seguia me olhando desconfiada.

- Como... Sabrina está? – Perguntei, sabendo que não conseguiria passar dali sem a permissão de Mariane.

- Foi ao banheiro... – Ele estava confuso também.

Abaixei-me e fiquei na altura da menininha mais linda que já vi em toda a minha vida.

- Oi. – Falei, sorrindo, sentindo emoções jamais experimentadas antes.

Caralho, meus dois filhos estavam ali, juntos. Eu sentia em cada batida do meu coração que ela era minha.

- Oi. – Ela respondeu, ainda tímida, com um meio sorriso.

- Sabe quem eu sou?

- Sim. – A voz era fininha e doce. O sorriso se alargou.

- Quem eu sou? – Por Deus, diga que sabe quem eu sou de verdade.

- Charlie B. – Mariane respondeu – Você já ouviu falar dele? – Intrometeu-se.

- Você canta a música da Garota Riquinha. – Ela disse enquanto ia para trás de Guilherme, escondendo-se de mim, mas com o rosto sem encobrir, ainda tentando me ver.

Me deu vontade de pegá-la no colo e apertá-la com tanta força, enquanto com o outro braço trazer meu filho para junto de mim.

Respirei fundo e levantei-me, olhando para Guilherme:

- Como você veio parar aqui?

- Não ouviu? Eu sou namorado de Sabrina.

Passei a mãos entre os cabelos, tentando entender como aquilo foi acontecer. Eu não sabia se sentia ódio de Sabrina ou pena de mim mesmo. Jamais imaginei suportar vê-la ao lado de algum homem. Mas com meu filho... Não sei se tinha vontade de me jogar no mar e nunca mais voltar ou agradecer a ela por fazê-lo conhecer a mulher mais incrível que já vi.

Imaginei ele a tocando... As mãos sobre a pele macia e cheirosa. A boca dela era um labirinto de prazer. A língua era quente e macia. Lembrei dela me chupando e olhei para o pau dele, guardado na calça jeans.

O garoto deu um passo para trás, confuso. A menina foi para o pinheiro e começou a tocar as bolinhas. Melhor assim. Acho que eu precisava conversar com meu filho. E por mais louco que parecesse, seria na casa dos Rockfeller.

- Pode me deixar a sós com meu filho um minuto, Mariane? – pedi – Quem sabe vai ver como está sua irmã e vem nos informar? Estou curioso. Você não? Por que creio que se importa com ela, não é mesmo?

- Claro... Que sim. – Ela disse, saindo imediatamente.

- Sua nova namorada? – Guilherme foi irônico, um meio sorriso no rosto.

- Nova? Sabe de alguma outra? Porque eu não tive.

- Não. Nunca me interessei em saber sobre você.

- Só se interessa pelo meu dinheiro.

- É só o que quero de você.

- Não tem o bastante, meu filho? Por que não me pediu? Por que me pôs na justiça, sem ao menos tentar conversar antes?

Ele ficou em silêncio alguns minutos, pensando no que responder:

- Não é pelo dinheiro. É pelo prazer de vê-lo perder... Fazer sua vida não ser tão perfeita e tranquila.

- Nunca foi.

- Quer se redimir agora, depois de anos, fingindo que foi um bom pai?

- Nunca me deixaram aproximar-me de você, porra! Eu posso lhe mostrar todos os processos que movi para ter a sua guarda. Cara, você morou comigo até quase três anos de idade.

- E você me levava para prostíbulos, enquanto eu era uma criança.

- Não eram prostíbulos. Eram bares... Onde eu cantava. Eu tentei nos sustentar com a minha música.

- Sim... Trabalhar em algo normal nunca foi uma opção, sequer para ficar comigo.

- Trata sua mãe da mesma forma? Porque eu fiquei com você quando Kelly foi embora, sem motivo.

- Sem motivo? Ela foi estudar.

- Em outro país, com um filho pequeno? Por que não consegue ver o meu lado, porra? Eu assumi toda a responsabilidade por você quando ela simplesmente o abandonou.

- Charles, não tente reaver o tempo perdido.

- Juro que não quero isso. Mas sei que podemos mudar o futuro e não sermos dois estranhos. Eu nunca quis isso. Foi a sua avó e seu avô que nos separaram.

- Lave a sua boca para falar da minha avó.

- Não seja moleque e abra os olhos. Elas fizeram sua cabeça contra mim, a vida inteira.

- Não sou moleque, porra! Já viu a mulher que eu como?

Meu mundo desabou naquele momento. Dei um passo para trás, sentindo como uma facada no coração.

- Moleque... – minha voz ficou fraca, mas fiz um esforço para terminar – Tão moleque... Que a usa para provar que é homem.

Vi Sabrina vindo, com a cara péssima. O rosto estava ainda mais pálido e ela parecia frágil, como nunca a vi na vida.

Calissa a segurava pelo braço e ela parecia um pouco fraca.

Assim que se aproximou, Mariane já vinha atrás dela, junto de J.R. Pelo visto a conversa ia continuar. E acho que era hora da verdade.

Teria que confessar que eu amava Sabrina e que Mariane não significava nada para mim. E eles teriam que me explicar porque jamais tocaram no nome dela naquela casa.

Guilherme ficaria puto, mas merecia perdê-la para aprender a ser homem. Um garoto comandado pela avó e pela mãe, incapaz de pensar por si mesmo, e que ainda usava o fato de estar com a “minha garota” como um troféu.

- Como está? – Guilherme pegou a mão dela.

- Estou bem. – Ela disse, parecendo estar mentindo, os olhos nos meus, sem disfarçar.

- Não está bem não... Ela acabou de vomitar... O que vocês comeram no voo? – Calissa perguntou.

- Sabrina não comeu nada. – Guilherme respondeu.

- Precisamos conversar. – Sabrina me olhou.

Assenti, com a cabeça, atraindo a atenção de todos para nós.

- Onde está Medy? – A garota que eu nem havia me dado em conta que estava na casa falou, olhando para todos os lados.

A porta bateu, num estrondo, fazendo-nos dar um salto.

- Medy fugiu! – Sabrina disse, saindo correndo para rua.

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