Senti um frio na barriga e uma dor dentro de mim. Eu gostava de Guilherme e estava magoando-o e fazendo-o sofrer. E essa nunca foi minha intenção. Novamente o destino brincava comigo, quando pôs o filho de “el cantante” no meu caminho. E talvez exatamente este “detalhe” que tenha feito eu me interessar por ele.
- Gui, não sabe o quanto eu sinto por tudo que está acontecendo – toquei o rosto dele, encarando os olhos cor de mel. Percebi que ele era mais parecido com a avó do que com Kelly e Charles, embora o sorriso fosse exatamente como o do pai – Não queria magoá-lo. Mas nunca lhe menti sobre meus sentimentos pelo pai de Melody. Só tivemos o azar de... Ele ser o seu pai.
- Melody já sabe que somos irmãos?
- Não... Acho que não se deu em conta, mesmo sendo esperta. Porque isso é meio surreal: eu, você, Charles, Medy... E minha família.
- Medy virou a água de propósito em mim. Queria que eu saísse da mesa. Ela me vê como o oponente do pai, assim em Mariane a sua rival.
- Não... Ela não teria feito isso de propósito com você.
- Medy nunca virou nada à mesa, Sabrina. E sempre comeu sozinha. Decidiu comer no seu colo, como um bebê, e virar a água ao mesmo tempo? Sabemos que ela é esperta demais para isso.
- Perdoe ela, se foi de caso pensado. Ela tem cinco anos.
- Eu amo Medy também... Ainda mais sabendo que ela é minha irmã.
- Gui, você é um garoto maravilhoso. A mulher que conquistar seu coração, será uma sortuda.
- Meu coração pertence a você, Sabrina. Não tem lugar para outra pessoa nele.
- Não torne tudo mais difícil para mim.
- Até quando vocês dois vão fingir que não se conhecem? Está muito claro... Tão cristalino quanto água...
- Gui, volte, por favor. Eu estou pedindo, do fundo do meu coração.
- Como seu namorado?
O olhei, sem dizer nada.
- Ele está namorando a sua irmã vagabunda. Você sequer transou comigo por causa dele. Acha que ele foi fiel desta forma à você ou a sua lembrança? Acha que ele não comeu a sua irmã?
- Não, não acho que ele não tenha comido ela. Sei que isso aconteceu. Assim como também sei que se eu tivesse tido outra pessoa ao longo deste tempo, Charles não me recriminaria. Ele não me pediu que me guardasse unicamente para ele. Nem foi planejado por mim isso... Aconteceu, simplesmente aconteceu. Me dediquei à minha filha e esqueci de mim. Então você apareceu...
- E você se interessou por mim... – ele balançou a cabeça, aturdido – Tente ao menos me dar uma chance, porra! Durma comigo.
O olhei, perplexa:
- Acha mesmo que as coisas funcionam assim? Quer provar que é melhor de cama do que o seu pai, é isso?
- Eu sou melhor do que ele.
- Gui, eu estou... – Parei imediatamente.
Estive a um passo de contar-lhe que eu estava grávida e que ele teria outro irmão ou irmã. Mas me contive. Seria pior. Guilherme partiria sem pensar duas vezes e sequer entenderia como aquilo foi acontecer. Na verdade, nem eu tinha certeza.
- Fique... Ao menos até o Natal. – Implorei.
- Não posso...
- Seria seu primeiro Natal com seu pai... E sua irmã. Você mesmo disse que sua avó dorme sempre às 22 horas. Então deve ter passado a maioria dos Natais com desconhecidos. Somos a sua família... De verdade. E por mais que cometamos mil erros, gostamos de você... Eu, seu pai, Melody.
Ele passou por mim e foi andando até o mar. Fui atrás dele, parando ao seu lado. O vento estava forte, jogando meus cabelos para trás.
As ondas estavam bravias, certamente em função da tempestade que caiu anteriormente.
- Você já trata vocês três como uma família... – Ele disse, olhando para o nada.
- E você é parte desta família... E sabe disto.
- Onde tem Charles não há espaço para mim, Sabrina. Eu entrei na justiça para tirar o sobrenome dele do meu nome. Entende o quanto eu não gosto dele?
- Será que não está sendo injusto e escolhendo o lado errado, Gui?
- Minha avó nunca foi o lado errado.
- Talvez ele tenha como lhe explicar tudo que realmente aconteceu.
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