Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 137

Senti um frio na barriga e uma dor dentro de mim. Eu gostava de Guilherme e estava magoando-o e fazendo-o sofrer. E essa nunca foi minha intenção. Novamente o destino brincava comigo, quando pôs o filho de “el cantante” no meu caminho. E talvez exatamente este “detalhe” que tenha feito eu me interessar por ele.

- Gui, não sabe o quanto eu sinto por tudo que está acontecendo – toquei o rosto dele, encarando os olhos cor de mel. Percebi que ele era mais parecido com a avó do que com Kelly e Charles, embora o sorriso fosse exatamente como o do pai – Não queria magoá-lo. Mas nunca lhe menti sobre meus sentimentos pelo pai de Melody. Só tivemos o azar de... Ele ser o seu pai.

- Melody já sabe que somos irmãos?

- Não... Acho que não se deu em conta, mesmo sendo esperta. Porque isso é meio surreal: eu, você, Charles, Medy... E minha família.

- Medy virou a água de propósito em mim. Queria que eu saísse da mesa. Ela me vê como o oponente do pai, assim em Mariane a sua rival.

- Não... Ela não teria feito isso de propósito com você.

- Medy nunca virou nada à mesa, Sabrina. E sempre comeu sozinha. Decidiu comer no seu colo, como um bebê, e virar a água ao mesmo tempo? Sabemos que ela é esperta demais para isso.

- Perdoe ela, se foi de caso pensado. Ela tem cinco anos.

- Eu amo Medy também... Ainda mais sabendo que ela é minha irmã.

- Gui, você é um garoto maravilhoso. A mulher que conquistar seu coração, será uma sortuda.

- Meu coração pertence a você, Sabrina. Não tem lugar para outra pessoa nele.

- Não torne tudo mais difícil para mim.

- Até quando vocês dois vão fingir que não se conhecem? Está muito claro... Tão cristalino quanto água...

- Gui, volte, por favor. Eu estou pedindo, do fundo do meu coração.

- Como seu namorado?

O olhei, sem dizer nada.

- Ele está namorando a sua irmã vagabunda. Você sequer transou comigo por causa dele. Acha que ele foi fiel desta forma à você ou a sua lembrança? Acha que ele não comeu a sua irmã?

- Não, não acho que ele não tenha comido ela. Sei que isso aconteceu. Assim como também sei que se eu tivesse tido outra pessoa ao longo deste tempo, Charles não me recriminaria. Ele não me pediu que me guardasse unicamente para ele. Nem foi planejado por mim isso... Aconteceu, simplesmente aconteceu. Me dediquei à minha filha e esqueci de mim. Então você apareceu...

- E você se interessou por mim... – ele balançou a cabeça, aturdido – Tente ao menos me dar uma chance, porra! Durma comigo.

O olhei, perplexa:

- Acha mesmo que as coisas funcionam assim? Quer provar que é melhor de cama do que o seu pai, é isso?

- Eu sou melhor do que ele.

- Gui, eu estou... – Parei imediatamente.

Estive a um passo de contar-lhe que eu estava grávida e que ele teria outro irmão ou irmã. Mas me contive. Seria pior. Guilherme partiria sem pensar duas vezes e sequer entenderia como aquilo foi acontecer. Na verdade, nem eu tinha certeza.

- Fique... Ao menos até o Natal. – Implorei.

- Não posso...

- Seria seu primeiro Natal com seu pai... E sua irmã. Você mesmo disse que sua avó dorme sempre às 22 horas. Então deve ter passado a maioria dos Natais com desconhecidos. Somos a sua família... De verdade. E por mais que cometamos mil erros, gostamos de você... Eu, seu pai, Melody.

Ele passou por mim e foi andando até o mar. Fui atrás dele, parando ao seu lado. O vento estava forte, jogando meus cabelos para trás.

As ondas estavam bravias, certamente em função da tempestade que caiu anteriormente.

- Você já trata vocês três como uma família... – Ele disse, olhando para o nada.

- E você é parte desta família... E sabe disto.

- Onde tem Charles não há espaço para mim, Sabrina. Eu entrei na justiça para tirar o sobrenome dele do meu nome. Entende o quanto eu não gosto dele?

- Será que não está sendo injusto e escolhendo o lado errado, Gui?

- Minha avó nunca foi o lado errado.

- Talvez ele tenha como lhe explicar tudo que realmente aconteceu.

Ele me olhou seriamente:

- Você sempre vai defendê-lo, não é mesmo?

- O que exatamente você e sua mãe querem dele, judicialmente?

- Quero parte da grana dele.

- Mas você não precisa.

- Talvez ele também não precise de tanto. E não me importo de dividir com Melody tudo.

- Bem, a decisão é sua sobre isso. Mas a de ficar para o Natal... Realmente eu queria fazê-lo mudar de ideia.

Ele sorriu e me empurrou levemente com o próprio corpo, suspirando:

- Ok, o que uma noite a mais fará de diferença, não é mesmo? Lembrando que “uma noite é uma noite”.

Não entendi a parte do “uma noite é uma noite”, mas também não quis perguntar. Afinal, o fato de ele ficar já me deixava contente.

- Vamos voltar, então?

- Vamos. – Ele pegou minha mão e refizemos o caminho de volta.

Claro que o almoço já tinha acabado. E eu não imaginei que fosse diferente. Havia muita tensão, mentira e ressentimentos de anos naquele pouco espaço. Creio que Yuna era a única que não fazia parte do círculo de verdades e mentiras.

Vi Melody no colo de Charles, ainda aconchegada a ele, quase dormindo. Mariane sentada no sofá, observando-os, certamente com a raiva aumentando dentro de si. Eu tinha certeza de que ela sabia que Charles era o pai de Melody. Era impossível esquecer o que eu havia lhe dito, quase seis anos atrás: “Eu sou a garotinha”. Ela sabia da música, do vídeo e que ele procurava alguém. Confessei a ela que a pessoa era eu. E o tempo não teria apagado aquilo, porque não era uma simples informação. Eu estava sendo posta para fora de casa naquele mesmo momento, em função da gravidez e do pai da criança.

Fui até eles e disse:

- Medy, vamos para o quarto com a mamãe?

Ela me olhou, o rosto avermelhado de ficar no ombro dele.

- Eu posso tomar banho de mar?

- Não... Melhor não. Tem vento e as ondas fortes. Vamos esperar para amanhã. A mamãe quer que você tenha uma boa primeira experiência com a praia.

Ela me deu os braços e peguei-a. Minhas mãos e as de Charles se tocaram enquanto a trocávamos de colo e senti um frio na barriga.

Comecei a subir as escadas e Guilherme me acompanhou.

Quando cheguei na porta disse:

- Acho que vou dormir um pouco. Estou cansada. Se não fizer isso, não sei se aguento até a noite.

- Vou fazer isso também. Nos vemos no jantar. – Ele deu um beijo no meu rosto.

- Medy, queremos Gui no jantar conosco, não é mesmo?

Ela olhou para Guilherme e sorriu:

- Sim...

- Você jogou água de propósito no Gui? – Perguntei.

Ela pôs a mão no rosto, fechando os olhinhos e comprimindo a boca. Não tive dúvidas de que Guilherme estava certo: foi de propósito.

- Por que fez isso, Medy? – Ele perguntou.

Ela abriu os olhos e disse:

- Eu não disse que foi de propósito.

- Você é complicada, menininha. – Ele fez cócegas na barriga dela, que começou a gargalhar.

- Acho que deve pedir desculpas para o Gui, pois ele sempre foi bem legal com você... Até lhe deu um hamster.

- Desculpe, Gui... – Ela tentou piscar, fazendo-nos rir.

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