Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 138

Quando desci com Melody, todos estavam na sala principal. Ela usava o vestido rosa que amava, cheio de babados e rendas. Não quis esperar a noite de Natal para usar.

- Você está linda! – Charles disse, sem conter a emoção ao vê-la.

Ela rodou várias vezes, fazendo a saia girar:

- Eu sou uma princesa. – Começou a se exibir.

- É a princesa do vovô. – J.R abriu os braços e ela se jogou neles, sendo paparicada e mimada por ele e Calissa.

Eu não conseguia entender como ele conseguia ser tão doce e amável com ela. Sinceramente, eu nunca havia visto aquele J.R na vida: relaxado, cheio de amor e carinho para dar.

Respirei fundo e sentei no sofá, de frente para Charles e Mariane. Yuna estava do meu lado. Guilherme ainda não havia descido.

Mariane levantou o braço de Charles e pôs sobre os ombros dela, deitando no peito dele. Senti o sangue ferver dentro de mim. Olhei para Melody, que estava contando várias histórias ao mesmo tempo para os avós, empolgada.

Deitei a cabeça para trás, olhando para o teto. “Viva com o que você mesma planejou, Sabrina, sua doida.”

J.R e Charles pouco se falavam e isso não era somente naquele momento. Foi desde que chegamos. Mas eu não poderia tirar aquilo por base, pois Calissa também não parecia ter muita intimidade com ele. O que me fazia crer que o relacionamento dele com Mariane fosse bem recente.

Guilherme desceu e sentou-se ao meu lado. Tinha tomado outro banho e estava cheirando bem. Sorri para ele, que pegou minha mão. Respirei fundo, sabendo que a situação poderia explodir a qualquer momento.

Melody viu que seu pai estava sendo requisitado demais pela namorada-tia e desceu do colo de J.R, correndo para o dele, que rapidamente desvencilhou-se de minha irmã e acolheu a filha, sorrindo encantadoramente para ela.

- Você pode cantar uma música para mim, Charlie B.? – Ela pediu.

- Claro que sim, pequena. Quantas você quiser. Vamos comigo buscar o violão?

Ela assentiu com a cabeça e ele pegou-a no colo, subindo as escadas.

- Não se preocupa de ela ficar com ele assim, sendo que é um completo desconhecido para vocês? – Minha mãe perguntou, arqueando a sobrancelha.

- Medy sempre foi assim... E não tivemos muito contato com o sexo masculino nos últimos anos, a não ser Do-Yoon, irmão de Yuna e Gui, que apareceu há poucos meses nas nossas vidas – olhei para ele, que seguiu segurando minha mão – Ao ver a forma como ela age com Gui ou mesmo Charlie B. me pego pensando se o pai não lhe fez mais falta do que eu imagino.

Houve um silêncio não tão breve no ambiente. Yuna quebrou-o:

- Bonita árvore de Natal.

- Fizemos em função de Melody... – Calissa respondeu – Desde a partida de Sabrina os Natais não foram mais comemorados na família Rockfeller.

- Troque o termo “partida” por “expulsão”, mamãe. Afinal, não foi por livre e espontânea vontade.

- Melody iluminou nossas vidas – J.R me olhou – Obrigado por ter aceitado trazê-la.

- Gui, eu estava conversando com meu pai anteriormente. E ele me disse que gostou muito de você. – Debochei.

- Sim, sim... – Ele ficou confuso – Inclusive perguntei à Sabrina sobre o que você faz... Ou... Pretende fazer. – Coçou a cabeça, a voz mais baixa.

- Concluí o Ensino Médio há alguns dias... Aliás, Sabrina era minha professora de Matemática.

- Envolveu-se... Com seu aluno? – Mariane me olhou.

- Sim. – Sorri, debochadamente.

- Eu gosto de andar de skate... Talvez siga com isso.

- Skate... É uma profissão? – Calissa perguntou.

- Skate não... Se chama skatista, no caso. – Ele explicou.

Eu gargalhei por dentro, ao ver a cara de espanto do meu pai.

- Isso... Dá dinheiro?

- Se eu for bom no que faço, sim.

- Acha que... Daria conta de sustentar minha filha e Melody com seu salário?

Eu ri:

- Por que está perguntando isso? Sustentei a mim e Melody sozinha, por cinco anos. Eu nunca precisei de um homem para isso. Há um mundo lá fora, não tão longe daqui, onde as pessoas são livres e fazem o que querem... E justo para terem esta sensação, não precisam de homens pagando suas contas e cobrando por isso. Neste mundo, as mulheres vão embora quando querem ou não estão satisfeitas com algo, não precisando ficar simplesmente porque não tem onde morar... Ou como se sustentar. Porque elas são autossuficientes.

- Você, neste caso, como vai se sustentar, já que está desempregada? – Mariane me perguntou.

Olhei para ela, curiosa:

- Como sabe? Por acaso está vigiando a minha vida? E... Por que faria isso? Com qual objetivo?

Fiquei completamente confusa com o comentário dela. Como sabia, sendo que morava em outro país?

Charles desceu ajudando Melody, que segurava o violão, orgulhosa. Os dois sentaram-se em outro sofá e ele começou a mostrar-lhe como tocar. Pai e filha se divertiam e enquanto os demais tentavam manter uma conversa, eu os observava, sentindo meu coração bater mais forte.

A atenção que ele tinha com ela era sem igual. A forma como ela o olhava transbordava amor. Toquei meu ventre, rezando internamente para estar grávida, dando a ele a oportunidade de ver um filho crescer desde bebê ao seu lado.

- Cante uma música para mim? – Melody pediu, entregando o violão para ele.

Ele sorriu e me olhou, começando a tocar “O começo de algo bom”. Deus, eu sabia que aquela música ele tinha composto para mim, com o objetivo de me encontrar. Mal sabia que já tínhamos Melody quando a ouvi pela primeira vez.

A voz de “el cantante” era maravilhosa. E acho que um solo, só ele e o violão, conseguia ser ainda mais perfeito que a versão em estúdio.

Ela falou uma coisa no ouvido de Charles, que sorriu, sem parar de cantar, me encarando sem disfarçar.

- O que ela disse? – Mariane perguntou, sentando-se ao lado deles e tentando fazer carinho em Melody, que a olhou, surpresa.

- Eu disse que lembro desta música... Quando eu estava na barriga da mamãe. – Ela riu, pondo a mão na boca, achando divertido.

Mariane não sorriu. Ficou pálida. Mas engoliu a raiva e perguntou:

- Quer sentar no meu colo?

- Não. – Melody foi direta.

- É impressão minha ou você não gosta muito de mim? – Ela sorriu, aturdida.

- Eu não gosto de você.

- Filha... – Tentei criticar, em tom não muito firme.

- Lembra o que eu disse? – Yuna meteu-se – Ela é sincera... Só isso.

- Eu... Vou me retirar. Estou com sono. – J.R disse, levantando-se.

- Vou acompanhá-lo. – Calissa imediatamente falou.

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