Assim que cheguei na porta da igreja, as madrinhas foram entrando na ordem do ensaio, uma a uma. Mariane era a última da fila. Quando chegou a vez dela, minha irmã me encarou, incerta sobre o que fazer.
- Entre, minha irmã! – Falei, tentando dar um sorriso.
A parte boa de chorar de tristeza e raiva durante uma cerimônia de casamento é que todos achavam que as lágrimas eram de emoção e felicidade.
Mariane tomou seu lugar e entrou por último, seguindo pelo corredor com um belo tapete vermelho, que aguardava meus pés envoltos num lindo sapato rosa pink.
Meu pai deu-me seu braço, no qual segurei com minha mãe direita, aflita. O buquê tremulava na minha outra mão.
O antes emocionante e agora irônico som da orquestra municipal tocando e cantando “Ave Maria” iniciou assim que eu e J.R passamos pela porta principal.
A igreja catedral estava decorada lindamente, se é que precisava de flores para enfeitar um local que já era belo por natureza. Dentre os convidados, bem vestidos, com traje seguindo a risca o solicitado no convite, poucos os que eu conhecia.
Enquanto caminhava a passos lentos, ainda derramando algumas lágrimas por conta da traição do meu noivo e minha irmã horas antes, me perguntava o “porquê”. O que faltou em mim que Colin procurou em minha irmã mais velha? Eu fazia tudo que ele queria... Mesmo quando “eu” não queria. Fui uma namorada divertida, uma noiva perfeita, em todos os sentidos. Jamais ele reclamou de nada sobre meu comportamento ou algo que não gostasse na minha forma de agir. Então, de uma hora para outra, horas antes de nosso casamento, ele simplesmente dormia com outra mulher.
Justo Colin, o homem que não era tão louco por sexo, que não quisera transar na cama dos meus pais...
Me peguei sorrindo tristemente, imaginando que ele tivesse transado tanto com Mariane que não tivera mais tesão por mim naquela manhã.
Desgraçado, traidor, idiota... Lá estava ele, impecável, os cabelos bem penteados, um sorriso no rosto e eu poderia apostar, mesmo de longe, que estava tão emocionado que seus olhos lacrimejavam.
Assim que chegamos ao altar, nos encaramos. E sim, eu o conhecia tão bem que acertei em cheio que ele estava emocionado. E vi uma lágrima escorrer dos olhos dele.
Meu pai deu-me um beijo no rosto e limpou a lágrima teimosa que caía do meu olho esquerdo, creio que a última. Ao me entregar para Colin, disse seriamente:
- Lhe entrego neste momento uma das coisas mais preciosas que tenho na vida, algo que dinheiro nenhum pode comprar. Cuide dela como o diamante que ela é... E trate de me dar logo um neto.
Colin sorriu e respondeu:
- Seu diamante é o que tenho de mais precioso também, J.R. Vivi para este momento – olhou nos meus olhos – O momento de me unir oficialmente com o único e grande amor da minha vida.
Meu pai se afastou e olhei para a fileira de madrinhas, imaginando que naquele momento todas riam por dentro do ocorrido depois que me deixaram em casa, completamente bêbada, voltando para a despedida de solteiro e vendo minha irmã e meu noivo me traírem, me apunhalarem pelas costas. Certamente quem não tinha pensamento de deboche, era o de pena. E eu não sei qual deles era pior.
Colin tomou minha mão enquanto Tay pegou o buquê que eu trazia na outra. Percebi os olhos dela sobre ele, amassado pela força que fiz em torno do caule das flores, colocando ali toda a raiva que eu sentia.
Eu tentei prestar atenção na cerimônia, mas milhares de coisas passavam pela minha cabeça que a fala do padre parecia estar distante, mais parecendo uma música de fundo do que um sermão sobre amor, fidelidade e companheirismo.
Nem vi o tempo passar e do nada apareceu um dos padrinhos, com o par novo de alianças para fazermos a troca perante o padre, que as pegou, colocando sobre uma superfície dourada, dizendo enquanto as benzia com gotículas de água benta:
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