Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 157

Entramos no helicóptero e deixamos a casa de praia dos Rockfeller na noite de Natal, quando passava da meia-noite.

Eu não tinha dúvidas de que tomei a decisão certa. Não podia mais ficar naquela casa. Eu não era obrigada.

O caminho até o Hotel foi silencioso. Ninguém dizia nada. Melody estava preocupada por descer de pijama, mas a tranquilizei que ninguém a veria.

Descemos no heliponto do próprio Hotel que Charles havia reservado. Um funcionário nos esperava e conduziu-nos aos quartos, que ficavam no décimo andar. Eu nem sabia exatamente em que lugar de Noriah Norte estávamos.

- O senhor Bailey reservou três quartos – ele explicou – Ambos um ao lado do outro.

- Claro... Três. – Guilherme riu, ironicamente.

O funcionário abriu a porta e perguntei à Yuna:

- Fica com a gente?

- Se quiser, fico.

- Eu quero.

Ela entrou, trazendo sua mala.

- Vou ficar também. – Guilherme entrou, pegando os outros dois cartões que davam acesso aos demais quartos.

Suspirei, tentando saber se resistiria a tudo que estava acontecendo. Sendo que o que me preocupava era Charles. Eu sabia que o fato de ele me ver sobre uma mesa, exposta e entregue ao seu filho, certamente foi o pior que lhe aconteceu. E uma coisa era ele aceitar que eu e Gui nos envolvemos. Outra era ver a cena do que fizemos, ao vivo e a cores.

Fui para o banho, me sentindo suja, como se a esponja e o sabão pudessem limpar todo meu passado. Deus, eu teria outro bebê. E se ele também não tivesse um pai presente, como Melody?

Eu não merecia aquilo... Charles não merecia. Melody não merecia. Guilherme não merecia.

Me enrolei numa toalha e vi que Yuna estava tentando colocar Medy para dormir.

O local era bonito, grande e certamente caro. Tinha uma sala, com vista de toda cidade e dois quartos separados, um deles com banheiro. Sentei no sofá confortável, olhando para o céu e tentando encontrar uma estrela, sem sucesso.

Senti as mãos de Guilherme, quentes, sobre minha perna. Ele estava parado ao lado do sofá.

- Não quero que me toque.

- Eu não consigo... – Ele disse, não me obedecendo.

Levantei rapidamente, furiosa:

- Guilherme, eu estou grávida.

Vi os olhos cor de mel tornarem-se escuros, ao mesmo tempo que a testa dele se enrugava. Ficou confuso, pensativo, um meio sorriso sarcástico no canto dos lábios:

- Como assim?

- Estou esperando um filho de Charles.

- Mas... Não tem como.

- Eu o encontrei num show em Noriah Sul, na noite que Melody caiu da escada e você se acidentou de skate.

- E... Transou com ele?

- Sim... E fiquei grávida. Eu gosto muito de você, Guilherme, mas eu amo seu pai. Não há mais chances de continuarmos com isso, em hipótese alguma... Entende agora?

- Ele sabe?

- Sim... Desde o momento que nos encontramos quando Medy fugiu naquela manhã.

- Vocês... Estavam juntos o tempo todo, não é mesmo?

- Sim.

Vi as lágrimas rolarem pelo rosto dele e me senti tão culpada que tive vontade de voltar no tempo para impedir qualquer coisa que aconteceu entre nós.

Me aproximei dele, abraçando-o. Senti os braços de Guilherme me envolverem com força:

- Eu sou louco por você, Sabrina.

- Gui... Vai aparecer outra pessoa na sua vida... Eu sei... Tenho certeza disto.

- Eu só quero você...

- Merece mais do que eu, Gui. Eu... Amo Charles... Desde que o vi pela primeira vez. Nós temos Medy... E um outro bebê dentro de mim...

- Mil vezes porra... Este filho da puta me tirou tudo.

Afastei-me e peguei seu rosto entre minhas mãos, encarando-o:

- Por favor, ouça o seu pai. Lhe dê uma chance. Ele merece. Não o odeie sem saber o que houve no passado... São tantos mal-entendidos que os separara, que “nos” separaram...

- Não posso... Não consigo...

Limpei as lágrimas dele.

- Eu... Quero o meu papai...

Ouvimos Melody ao nosso lado, os olhos lacrimejantes.

Guilherme e pegou no colo e em seguida abraçou-a, sendo correspondido:

- Eu amo você, Medy.

- Eu amo você, Gui... – Ela falou com a voz arrastada.

Guilherme largou-a no chão e ajoelhou-se, ficando na altura dela, como o pai fez dias atrás. Eles eram tão parecidos em algumas coisas... E nem se davam conta.

- Sabia que... Bem... Nós dois... – Ele parecia querer encontrar as palavras certas.

- Somos irmãos... – Ela sorriu.

- Sim... – Era perceptível a emoção dele.

- Nós vamos ser uma família, Gui... Eu, você, mamãe, papai e o bebê. Você acha que o bebê vai ser menino ou menina? Papai disse que eu sou a irmã do meio agora... E você vai ser o irmão mais velho...

Ele levantou e foi em direção à porta, limpando as lágrimas. Corri e me pus na frente dele:

- Não, Gui...

Ele me entregou os dois cartões:

- Vou embora, Sabrina. Não consigo mais suportar tudo isso.

- Por favor... Ouça Melody... Seremos uma família...

- Não, nunca seremos uma família, Sabrina. Nem sonhe com isso.

Ele saiu e fechou a porta. Escorei-me sobre ela e fechei os olhos, respirando fundo e tentando ser forte.

- Mamãe... Gui vai voltar. Ele vai aceitar ser da nossa família... Não se preocupe.

- Tomara, docinho... Desejo do fundo do meu coração que ele aceite o pai... E nós. – Sorri, enquanto ela me dava os braços.

Peguei-a no colo e a abracei, sentindo seu cheiro perfeito: perfume de filha, o mais gostoso e que inclusive curava dores e feridas.

A campainha tocou. Olhei para ela e disse:

- Você tem razão, meu bem. Ele voltou.

Abri a porta e demos de cara com Charles. Ficamos nos encarando um tempo, sem dizer nada. Melody jogou-se nos braços dele, não evitando o riso feliz.

- Papai disse que você não deve ficar no colo da mamãe, lembra-se?

- Mas eu gosto do colo da mamãe. – Contestou.

- Mas não faz bem para o bebê. – Ele entrou e fechou a porta atrás de si.

- Você demorou, papai!

- Você acha? Eu acredito que saí minutos depois de vocês... Simplesmente porque é impossível viver sem a presença de vocês duas... Quando tudo que eu almejei a vida toda... Foi este momento.

Os olhos dele entraram nos meus.

- Eu não vou me afastar de vocês, entendeu? Nunca... Jamais. Simplesmente porque não existe vida longe das minhas garotinhas. O mundo que se exploda. Eu vou estar aqui... Para sempre, onde é o meu lugar.

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