Antes que eu dissesse qualquer coisa, Melody abriu a porta e me puxou, envolvendo os braços na minha cintura, saudosa.
- Oi, meu amor. – Peguei-a no colo, abraçando-a.
- Sou Charles. – Ele apresentou-se, pela janela do carro.
Colin desceu e o encarou. A noite estava escura e um vento fresco soprava do mar, congelando minha espinha.
- Colin Monaghan. – Respondeu meu ex noivo, de forma firme.
- Imaginei que fosse... – Charles olhou-me seriamente – Onde está Yuna?
- Ela acabou de sair do carro... Tivemos uma série de problemas. Mas eu lhe conto tudo depois. Por hora, preciso de um banho... E descanso.
- Oi, Colin. – Melody sorriu para ele, acenando.
- Olá, Medy. – Ele retribuiu o sorriso.
- Você quer jantar conosco? Papai trouxe pizza, que é o prato preferido da mamãe.
- É? Eu... Não sabia disso. – Ele sorriu, balançando a cabeça, confuso com a situação.
- Obrigada por tudo, Colin. Nos falamos sobre os processos.
- Ligo para você quando precisar de mais informações para dar entrada nos processos. E... Bem, não era minha intenção ficar para o jantar, não se preocupe. – Sorriu e entrou no carro, dando a partida.
Assim que ele se foi, enquanto olhávamos os faróis se afastando pela estrada escura, Charles perguntou:
- Quanto tempo ficou sozinha com ele?
- Menos de cinco minutos, “el cantante”.
- Era necessário?
- Charles, se eu quisesse ficar com Colin, teria feito isso há quase seis anos atrás.
Ele passou a mãos nos cabelos, demonstrando nervosismo:
- Por que não outro advogado, porra?
- Papai, não pode dizer palavrões... – Melody recriminou.
Charles sorriu e a pegou no colo:
- Acho que papai precisa de castigo... Melody vai decidir qual vai ser o castigo. O que acha?
Ela riu:
- Sim! – Levantou os bracinhos para cima, feliz, mostrando os dentinhos brancos, que brilhavam na escuridão.
- E mamãe também vai levar um castigo... Por pegar Medy no colo. O que acha? – Ele fingiu cochichar no ouvido dela.
Ele foi andando com ela em direção à casa e fiquei alguns passos para trás. Eu entendia o ciúme dele... Talvez sentisse a mesma coisa, se fosse ao contrário a cena. Mas estava cansada demais para justificar-me. Minha cabeça ainda doía.
Logo ele começou a andar mais devagar e quando os alcancei, passou o braço sobre mim, puxando-me de encontro a eles. Melody sorriu e disse:
- Papai, mamãe e Medy se amam... Para sempre.
- Para sempre. – Confirmei.
- Para sempre. – Ele deu um beijo no topo da minha cabeça.
Assim que entramos em casa, Yuna estava com uma caneca de chá fumegante:
- Antes de tudo, sente-se e beba isso. Vai relaxar um pouco. – Ela garantiu.
Sentei e fiz o que ela mandou, sem contestar.
- O que houve? – Charles perguntou.
- Não contou a ele? – Ela me olhou.
- Não deu tempo.
- O que aconteceu? Por que não deu tempo de contar? – Melody perguntou.
- É assunto de adultos, meu amor.
- Papai conheceu Tuga, Solitário I e Hamster. Eu matei a saudade da nossa casinha. E agora a gente tem um carro... E visitamos a vovó do Gui e a mamãe dele também.
Olhei imediatamente para Charles:
- Como assim?
- Não deu tempo de contar. – Ele repetiu minha frase.
Suspirei, bebendo o chá quase fervente aos poucos, queimando levemente os lábios quando sorvia sem assoprar antes.
- Eu vou levar Melody para o banho... – Yuna a pegou no colo – Depois podemos pedir algo para comer. Você precisa se alimentar... – Me olhou.
- Papai trouxe pizza. – Melody lembrou.
- Pizza não é muito saudável... – Yuna falava enquanto levava Melody dali.
- Meu carro... Conseguiu trazê-lo?
- Vir dirigindo seria demorado demais. Eu não quis passar a noite toda com Melody na estrada. Nem achei seguro. Providenciei para que ele chegue amanhã, sem falta.
- Obrigada.
- Sua casa é aconchegante... Tem seu cheiro. – Ele puxou uma cadeira e sentou-se na minha frente, encarando-me.
- Isso é bom ou ruim? – Sorri.
- Você tem um cheiro único... – ele aspirou o ar próximo de mim – Aroma de amor da minha vida.
Eu ri, em meio ao caos que estava minha mente:
- Só você para me fazer sorrir, “el cantante”...
- Sua cara está péssima.
- Tenho algumas coisas pra lhe contar.
- Ruins? – ele suspirou, jogando-se para trás no acento, a cabeça apoiando-se nos braços.
- Por que foi vê-las?
- Eu precisava saber se Guilherme voltou para casa.
- E voltou?
- Sim, mas pegou o resto das suas coisas e foi embora definitivamente.
- Droga!
- Não... Eu achei isso ótimo. Ele precisa sair daquele lugar para crescer.
- E Kelly?
- Eu não a via há anos...
- E...
- E... Que eu implorei para ela contar a verdade ao nosso filho, sobre o passado, tudo que houve...
- Ela não aceitou. – Imaginei de antemão.
Ele me olhou por um tempo, sem dizer nada. Sim, eu tinha adivinhado. Não me passou pela cabeça que as duas fossem facilitar as coisas.
- Ela vai me foder por toda sua existência. – Ele respondeu.
- Charles, eu preciso lhe contar uma coisa.
Ele se aproximou e me encarou:
- Pode começar, Sabrina... Sou todo ouvidos.
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