Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 176

- Ele quem? – Olhei na cara do homem, seriamente, só querendo a confirmação do que eu já sabia naquele momento.

A expressão dele foi de pavor. Houve um silêncio breve, mas que pareceu uma eternidade. Sentia meu coração quase saltar pela boca e uma sensação horrível dentro de mim.

- A verdade... Por favor. – Pedi.

Ele balançou a cabeça, em forma de negação.

- Quanto vocês receberam para roubar meu carro? – Perguntei, tentando conter as lágrimas.

- O próprio carro. – A mulher disse.

- Quem foi... Eu já sei... Só me confirmem, por favor.

- Não sabemos. – O homem atropelou a fala dela, antes que entregasse a verdade.

- Como não sabem? Vocês falaram com ele.

- Por telefone. Não sabemos o nome... Nem como ele é.

- Mentira! – Tentei avançar nele, mas Colin me impediu.

- Queremos a verdade, ou vamos chamar a polícia. – Colin ameaçou, enquanto ainda segurava meu corpo, impedindo-me de agredir o desgraçado.

- Eu pago... Pago pela informação. – Arrisquei.

A expressão dele mudou imediatamente. Sim, certos tipos de pessoas só funcionavam com dinheiro. Meu pai era uma delas. E eu só queria a confirmação de que havia sido ele.

- Quanto... Está disposta a pagar? – A mulher interessou-se.

- Colin, quanto estamos interessados em pagar? – Perguntei a ele, enquanto me desvencilhava de seus braços.

Colin arqueou a sobrancelha, confuso.

- Então, Colin Traidor, quanto você está disposto a pagar pela verdade? – Yuna o intimidou.

- Estou... Desempregada. – Lembrei-o, sem jeito.

Colin balançou a cabeça, atordoado, me puxando pelo braço para o lado, nos afastando um pouco dos demais:

- Você sabe que isto não está certo, não é mesmo? – Falou no meu ouvido.

- Quero a confirmação de quem montou toda a armadilha para mim. Eu preciso saber, Colin.

- Que diferença faz, Sabrina? Você já está com ele... Nada vai mudar o que já aconteceu.

- Por favor... Eu preciso... – Implorei, a voz fraca, sentindo uma forte dor de cabeça, do nada.

Colin suspirou e foi até eles, enquanto abria a carteira. Retirou um maço de dinheiro e entregou ao homem:

- Acho que isso é suficiente... Pela verdade e para eu não os colocar na cadeia imediatamente. Sou advogado.

- Conhecemos o senhor, da TV. – A mulher disse.

Ele enrugou a testa, desorientado.

- Quem foi? – Perguntei, enquanto o homem não olhava para mim, contando as cédulas.

- Jordan Rockfeller.

Fiquei tonta imediatamente e uma forte náusea tomou conta de mim. Dei alguns passos em direção à mata e vomitei. Yuna veio me ajudar, deixando que eu apoiasse o corpo trêmulo no dela.

Senti a mão dela apertando a minha enquanto o mundo desabava sobre mim e tudo girava.

- Podemos ir agora? Nós só fizemos o que ele mandou... Não machucamos ela. Depois do que houve, nós ficamos com o carro. Ele inclusive passou para o nosso nome.

- Mas... Estava registrado como roubado – falei, num fio de voz – Teve um policial naquele dia...

- Ele nunca registrou o roubo. – A mulher garantiu.

- Saiam daqui, agora! – Colin gritou, aturdido, vindo na minha direção, tentando ajudar a amparar-me.

- Não! – Pedi, limpando os lábios, voltando para próximo deles.

- O que você quer mais, Sabrina? Chega! Isso está acabando com você. – O olhar de Colin na minha direção era de dó.

- Vocês furtaram a carteira e o celular do meu namorado... Na loja de conveniência do posto de gasolina... Dias antes.

- Seu pai sabia cada passo seu nesta cidade, moça. – A mulher falou.

- Ele... Pagou para isso também?

- Sim.

- Depois de quase seis anos... E certamente tendo feito este tipo de coisa a vida toda, também para outras pessoas... Como lembram do caso dela? – Colin perguntou.

- Porque... Bem, até hoje quando precisamos de dinheiro... Recorrermos ao senhor Rockfeller. – A mulher explicou, abaixando a cabeça.

- E ele dá? Mas... Por qual motivo?

- Em troca de... Não falarmos a verdade... Para ninguém.

Recostei-me no carro, tentando buscar o ar que começava a fugir dos meus pulmões.

Yuna pegou-me pela mão, levando-me ao carro de Colin. Abriu a porta e me pôs no banco de trás.

Colin veio logo atrás dela, sentando-se no banco do motorista. Yuna tomou o lugar ao lado dele, pondo o cinto de segurança:

- Precisamos levá-la ao Hospital mais próximo. Ela não está bem.

- Eu estou bem... – Menti, sentindo o ar ficar cada vez mais rarefeito.

- Você está grávida... Percebo sua falta de ar.

- É nervosismo... Só isso.

- Hospital. – Yuna disse firmemente para Colin.

Enquanto o carro estava em movimento, abri a janela, sentindo o vento forte entrando nas minhas narinas, amenizando um pouco a falta de ar. Creio que mesmo que eu não estivesse grávida, teria vomitado da mesma forma. Porque aquilo tudo que ouvi era nojento, vil, repulsivo.

Certamente o casal escapou dali em segundos depois que saímos. Porque sim, Yuna e Colin puseram eu e o bebê em primeiro lugar.

Eu tentava puxar o ar pelas narinas o mais profundamente que conseguia. Ainda assim parecia me faltar oxigênio e senti o coração muito acelerado.

Os dois conversavam, mas eu não conseguia prestar atenção. Tudo fervilhava na minha mente.

- Mas como ele pagou para roubarem Charles na loja de conveniência? Como sabia onde eu estava? Não havia celular... Eu saí da igreja com o vestido de noiva... Nada mais. – Perguntei-me em voz alta, os pensamentos desordenados.

- Agora pare de pensar nisso. Você tem um bebê aí dentro... Precisa ficar calma. Depois pensa melhor, com calma. – Yuna disse, enquanto virava a cabeça para trás, encarando-me.

Realmente Colin passou no Hospital que havia em outra cidade e precisei consultar, mesmo sob protesto, pois Yuna não me deu alternativa, ou chamaria Charles, o que eu não queria que acontecesse, pois ele estava em Noriah Sul com Melody.

A parte boa é que fiz uma ecografia e vi o bebê pela primeira vez. Estava tudo bem com a criança e nem prescreveram medicamento para meu ataque de pânico, em função da gravidez. Aproveitei para marcar a próxima consulta de pré-natal naquele Hospital, que era o mais próximo de onde eu estaria morando nos próximos meses... Ou talvez o resto da vida.

Colin chegou em frente à nossa casa já era quase meia-noite. O Hospital demandou muito tempo de espera, sem contar os exames que tivemos que esperar ficarem prontos.

Yuna saiu e se dirigiu para a casa.

Antes de descer, o olhei:

- Obrigada.

- Eu... Sinto muito por tudo... Que seu pai fez.

- Ainda assim, obrigada por estar comigo, acreditar em mim... E ter pago eles para me contarem a verdade.

Ele pegou minha mão e encarou-me, com seus olhos castanhos escurecidos pela noite, o rosto levemente iluminado pela lâmpada interna do carro:

- Me perdoe... Pelo passado.

O abracei com força, sentindo seu cheiro de perfume caro misturado a suor, certamente causado por tudo que o fiz passar perseguindo aquelas pessoas.

- Eu perdoo, Colin. Acho que perdoei desde sempre... Nunca consegui odiá-lo, mesmo quando tentei, de todas as formas possíveis. – Disse, em seguida me afastando dele.

- Eu precisava ouvir isso, para me livrar da culpa que carrego desde o dia que a traí.

- Naquela manhã, no dia do casamento... Por que você foi na minha casa?

- Eu tentei contar a verdade. Mas não consegui. – Ele abaixou os olhos, demonstrando arrependimento.

- Se tivesse me contado a verdade, talvez eu tivesse levado adiante o casamento, Colin.

- Será? Você parecia estar esperando tudo dar errado para ir ao encontro do futuro pai da sua filha... – Ele balançou a cabeça, com um leve sorriso triste nos lábios.

- Há coisas na vida que não tem explicação... Que parece que eram para ser. Passamos juntos quatro anos das nossas vidas. Eu não me arrependo de ter feito amor com você pela primeira vez... Foi gentil, carinhoso e preocupou-se comigo.

- Apesar do que fiz a você, sempre houve amor da minha parte.

- E da minha sempre teve carinho.

Um carro parou atrás do nosso e vi descerem duas pessoas. Reconheci Melody e Charles.

Abri a porta para descer, mas os dois já estavam ali, impedindo-me de sair.

Charles abaixou a cabeça e olhou para dentro do carro, em seguida me encarando, em busca de explicações.

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