Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 194

Por Deus, Yuna, você nunca assistiu televisão. Que não seja neste momento que decidiu fazer isso, pois não quero que minha filha testemunhe o que vamos contar ao mundo. Não aos cinco anos de idade!

Rosy ficou um pouco surpresa com minha presença, mas logo alguém trouxe uma cadeira e sentei-me ao lado de “el cantante”, atrás da bancada branca, brilhante e impecável, olhando para câmera que exibia o programa em horário nobre, com transmissão para todo o país.

- A moça em questão sou eu... Sabrina Rockfeller. – Falei firmemente, pegando a mão dele, que estava fria e ao mesmo tempo suada.

- Seja bem-vinda, Sabrina Rockfeller. Rockfeller... Tem algo a ver com a J.R Recording?

- Sim... Sou filha de Jordan Rockfeller, da J.R Recording.

Ela ficou impressionada:

- Pois bem, Sabrina – deu um sorriso – Foi ao bar pronta para casar? Desistiu do casamento planejado anteriormente por causa de Charlie B.?

- Gostaria de deixar bem claro que eu não traí meu noivo, embora tenha me apaixonado por Charles no momento que meus olhos encontraram os dele, no Cálice Efervescente – apertei ainda mais sua mão, procurando segurança, que obtive ali, com um simples enlace entre nosso corpo – Mas quem, em sã consciência, largaria um noivo que conhece há quatro anos por um homem que viu em no máximo três horas? Nem um beijo trocamos... Imaginei estar louca, só isso. Mas no sábado, dia do casamento... E não, não vou contar o nome do noivo, em respeito à privacidade dele, que não quero expor de forma alguma, pois apesar de tudo, é uma pessoa que estimo e admiro imensamente. Bem, na hora de entrar na igreja para o casamento, minha irmã, Mariane Rockfeller, confessou que na noite anterior, dormiu com meu noivo.

- Céus! – Rosy deixou escapar.

- Sim... “céus”... Na verdade, “inferno” seria a palavra. Eu estava na igreja, pronta para casar. Não me restou outra alternativa a não ser entrar e dizer “não” para ele, no altar.

- Sim... Lembro algo sobre esta história... A filha mais nova de Jordan Rockfeller ter abandonado o noivo e o próprio casamento.

- Claro que nada mais me impedia de correr atrás do cantor que eu havia conhecido na noite anterior. Estava com raiva, me sentindo completamente traída, não só por ele, mas também pela minha irmã. Não que se fosse com outra pessoa, tivesse doído menos. Mas nunca se espera que você seja ferida por uma das pessoas que mais ama... E que deveria, por ser mais velha, me proteger e não tripudiar sobre mim – suspirei – Mas hoje penso que tudo acontece da forma que tem que ser. Afinal, cheguei de noiva aonde eu sempre deveria ter estado... – Olhei para “el cantante”.

- Eu a olhei chegando e pensei: Recebi meu presente! Embrulhado e tudo! Não pode ser real.

Nós três rimos.

- Eu mal sabia que naquele, estava acabando com a vida de Charles Bailey. – Falei seriamente.

- Como assim? – Rosy me encarou, curiosa.

- Eu fui com ele para uma casa no litoral, longe dali. Ficamos menos de três dias por lá. Neste meio tempo, Charles teve o celular e carteira com todos seus documentos furtados numa loja de conveniência e eu queimei meu tornozelo na moto. Ainda tenho a marca. Mas foram os melhores dias da minha vida... Dezoito anos que não significaram nada frente aos três dias que passei ao lado dele – confessei – Mas precisava tranquilizar minha família e dizer que estava bem. Então fiz uma ligação, avisando meu pai. Eu e Charles nos despedimos e anotei o número do meu celular num papel, que ele pôs dentro da jaqueta. Como chovia quando voltávamos para capital, ele me emprestou a jaqueta. E foi embora... Deixando a nossa única forma de contato ali dentro.

- Mas ele não sabia como encontrá-la sem ser por telefone?

- Não... Porque eu não disse que era uma Rockfeller. E não quis que Charles soubesse onde eu morava, temendo a reação de meu pai ao saber do meu envolvimento com ele.

- Hum...

- Voltei para casa sabendo que seria difícil o reencontro. Mas ainda tínhamos o Cálice Efervescente. Era lá que ele estava todas as noites, cantando sua bela música e servindo bebidas. Porém, não por obra do destino, como sempre pensei ser... Não nos vimos mais.

- Como assim? Afinal, “você” sabia onde encontrá-lo?

- Porque meu pai, Jordan Rockefeller, imediatamente fechou o bar onde Charles tocava, demitindo todos os que lá trabalhavam, sem se importar com nada além de me afastar do cantor pobre, que julgou que não era para mim. Ele exigia que eu voltasse para meu ex, que me traiu com minha própria irmã, pelo simples fato de ele ser rico.

Engoli em seco, como se estivesse revivendo aqueles momentos do passado. O silêncio no estúdio foi mortal.

Respirei fundo e continuei:

- Meu pai colocou um segurança para me acompanhar a todos os lugares. Ainda assim, tentei encontrar Charles, mas ele havia sumido...

- Deixei um bilhete para ela com um amigo, do Cálice Efervescente. Lembro que naquela semana havia audiência pela guarda do meu filho... A oitava.

- Recebi o bilhete, dias antes do Cálice Efervescente fechar. Porém, o telefone dele dava desligado, certamente por estar indo para Noriah Sul. Decidi ir para a praia, relembrar os momentos vividos com ele – olhei para Charles – A saudade estava acabando comigo. Coincidentemente, naquela noite, na praia praticamente deserta, tive meu carro roubado, junto do celular, bilhete e tudo mais. Roubo à mão armada. Me mandaram ficar no chão, deitada, contando... De 50 até 0. – Engoli em seco, piscando várias vezes para não chorar – Perdi definitivamente o contato com ele, pois o bar fechou dias depois. Mas a vida me reservou uma surpresa... A melhor de todas... – O olhei.

- Nossa filha. – Charles sorriu, o polegar acariciando minha mão.

- Sim, engravidei de Charles.

- Eu, sem o contato dela, decidi compor uma música para Sabrina e usar a internet para encontrá-la.

- “El cantante procura garotinha”... – Eu ri, pondo as mãos no rosto, envergonhada – Enfim, fiquei sabendo da música e decidi largar tudo e ir ao encontro dele. Mas no dia marcado, quando eu saía de casa, passei mal... E descobri a gravidez, junto de toda minha família: mamãe, papai e Mariane. Foi aí que Jordan Rockfeller decidiu intervir na ordem natural das coisas. Pelo menos eu imaginava, inocentemente, sem saber que ele já havia interferido desde a noite que saí da igreja, indo ao Cálice Efervescente.

- Sabrina nunca chegou ao ponto de encontro, que era na casa de praia, onde havíamos ficado juntos.

- Quando meu pai soube da gravidez, exigiu que eu tirasse o bebê.

- Aborto? – Rosy arregalou os olhos.

- Aborto. Foi enfático: “tira o bebê ou vai embora”.

- Um minuto, Sabrina, por favor... – Pediu Rosy, escutando algo no fone de ouvido, arqueando a sobrancelha – Estamos ao vivo e seu pai ligou para emissora e exigiu que o programa pare de ser transmitido. Convido o senhor Jordan a entrar em contato conosco por telefone, caso queira, podendo assim contar sua própria versão dos fatos. – Olhou diretamente para a câmera.

- Enquanto ele não entra em contato, vou seguir... – eu sabia que tinha que ser rápida, antes que ele conseguisse cortar a transmissão de alguma forma – Eu disse que minha escolha era o bebê e ele me mandou embora da mansão Rockfeller, sem celular, sem dinheiro, somente com a roupa do corpo. A única coisa que pude levar comigo foi a jaqueta que tinha ganhado de Charles. E cheguei ao ponto de encontro tarde demais... Era final do dia... Ele não estava mais lá. Achei que tinha ido embora por imaginar que eu não iria.

- Mas não foi o que aconteceu – Charles continuou, também apressado – Assim que cheguei na casa, recebendo a chave de um amigo meu que cuidava da residência e nos emprestou, alguém bateu na porta. Era uma garota... Que eu nunca vi antes. Enfim, não era Sabrina. Ela se jogou sobre mim, tentando forçar uma relação sexual. Óbvio que eu tentei fugir da situação, especialmente por estar amedrontado de Sabrina chegar e me flagrar com outra mulher. A menina despiu-se... E do nada a casa foi invadida pela Polícia. A menina tinha dezesseis anos, havia dado queixa contra mim no dia anterior, acusando-me de persegui-la... Fingindo que tínhamos um relacionamento – suspirou, dando uma pausa – Ela tinha hematomas pelo corpo, que afirmou terem sido feitos por mim, sendo que jamais a toquei. Fui preso em flagrante... Um carro posto em frente à casa estava em situação de roubo e o motorista me reconheceu como o assaltante. Sem contar o fato de eu estar na casa que não era minha e que tinha um dono, que certamente não entendeu o motivo de alguém como eu estar ali. Se alguém acreditou em mim, quando tentei conta a verdade? Não... Claro que não.

Charles fez uma pausa e tomou um copo de água em segundos. Continuou:

- Então fui julgado e condenado por invasão de propriedade privada, tentativa de estupro contra menor de idade e roubo. Creio que a garota hoje deva estar com mais de vinte anos. O nome dela é Tábata Deoli. E já que estamos aqui hoje, Sabrina e eu, em nome da verdade, gostaria muito de pedir, em rede nacional, que ela pense em tudo que sua mentira me causou... E diga o que realmente aconteceu... Para poder tentar deitar à noite em seu travesseiro e não sentir a consciência pesada. Pois eu duvido que ela consiga viver todos os dias normalmente, sem seque pensar em mim e imaginar o quanto sua mentira me prejudicou.

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