- O filho da puta poderia ter pego qualquer mulher, mas comeu a sua irmã. Isso é... Abominável. Isso que, na sua opinião, vocês se davam bem. Se não se dessem ele faria o que? Comeria a sua mãe?
- Charles, podemos não falar mais sobre isso?
- Sobre o que você quer falar?
- Sobre você... Me deve algumas questões sobre sua vida, não acha?
Ele deixou o box, pegando a toalha e se secando.
- Está fugindo de mim, “el cantante”?
- Eu? Não, claro que não.
- Você é casado? – Olhei para os dedos dele, com alguns anéis que em nada lembravam aliança de compromisso ou casamento.
- Claro que não. Eu estaria sendo tão cretino quanto o seu noivo. – Ele colocou a cueca e depois a calça.
- Ex noivo. – Corrigi.
- Ex... Espero que realmente leve adiante que ele é o ex, Sabrina. Não acho que deva voltar para ele um dia, independente do que acontecer. Não deve ceder à pressão que diz haver por parte da sua família.
- Eu não vou voltar, Charles... Jamais. Fui traída da pior forma possível, entende?
Ele saiu pela porta. Desliguei o chuveiro e peguei uma toalha, me secando. Eu não tinha roupa para colocar. E não tinha intenção de colocar novamente o vestido de noiva rasgado.
Parei na frente de Charles, com a toalha enrolada ao corpo e brinquei:
- Que acha de eu fazer compras assim?
- Acho que vai chamar muito a atenção. – Ele sorriu, balançando a cabeça.
- Também imaginei isso. Então é pouco provável que eu suba na sua moto para comprarmos comida. Preciso que me traga roupas, se deseja que eu fique.
- Eu desejo que fique, Sabrina. Trarei roupas, não se preocupe. – Ele colocou a camiseta e por cima a jaqueta.
Pegou a chave da moto e fui na direção dele, puxando sua mão e parando no caminho:
- Quero que me fale sobre você, Charles. Eu já contei como vim parar aqui. Sei que há muito mais que eu poderia dizer, mas por hora isso explica o que houve comigo.
Ele colocou a chave de volta na mesinha. Se dirigiu à sacada e fui atrás dele.
A sacada era de um bom tamanho e tinha duas poltronas de frente para o mar. A casa ficava tão próxima da água que chegou a me dar certo receio.
O dia estava lindo. O sol brilhava alto no céu e me chamou a atenção o grande número de aves na areia úmida, procurando comida.
Não havia pessoas por ali. Um lugar bem deserto, mesmo em época de alta temporada: verão.
- Planejou me trazer para este lugar deserto? – Perguntei, olhando para o sol refletido no mar, as ondas fortes e espumantes estrondando na areia.
- Claro que sim. Não estava nos planos dividir você com ninguém. Sem contar o fato de que pode tomar banho de mar nua comigo. – Sorriu.
Eu ri e me apoiei sobre a grade de ferro, que cercava a sacada. Charles colocou a mão sobre a minha e disse, sem olhar na minha direção:
- Eu tenho um filho.
Olhei-o e ele não me encarou de volta. Seguiu olhando para o nada, além do mar, como se procurasse um ponto onde acabava aquela imensidão de água. A mão afirmou ainda mais a minha, receoso de eu tentar tirá-la. Percebi que ele ficou mais ofegante e conseguia ver sua camisa tremer, seguindo as batidas intensas do coração.
- Você... Foi casado? – Perguntei, sem ter certeza do que falar sobre aquela revelação.
- Não... Nunca casei com a mãe da criança.
- Onde ele está agora?
- Eu... Não sei.
- Não sabe? – Perguntei confusa.
Enfim ele olhou para mim, sem retirar a mão da minha:
- Perdi a guarda.
- Perdeu a guarda? – Aquilo me preocupou.
Eu ainda estava no início do curso de Direito, mas sabia que para uma mãe ou pai perder a guarda do próprio filho alguma coisa complicada ou difícil de resolver tinha acontecido.
- Por que você tinha a guarda e não a mãe?
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