Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 28

Deus, eu não queria pensar! Aquilo me dava dor de cabeça. Segui deitada e senti sono. E não queria dormir. Minha barriga roncou de fome.

Levantei e me enrolei num dos lençóis brancos que estavam jogados no chão, vestígio da noite que passou. Peguei o vestido de noiva rasgado e desci a escadaria que dava para o andar térreo.

Agora, a observar a casa melhor, percebia o quanto ela era aconchegante. Parecia ter sido feita para receber um cantor maduro sem fama e uma garota traída tentando se encontrar na vida.

Usei uma outra porta para acessar a área externa. Abri com a chave que estava na fechadura e deparei-me com degraus esculpidos na própria pedra que abrigava a casa sobre ela, dando diretamente na beira do mar.

O sol estava quente e convidativo. Embora o mar ali fosse um pouco violento, com ondas altas e fortes, a areia era fofa, grossa e quente.

Segui andando, com os pés afundando, tentando encontrar não sei exatamente o que. Ao longe consegui avistar uma casa, imponente, sobre um morro cercado de árvores.

Há quilômetros de distância talvez outra residência, a julgar pelo minúsculo quadrado branco coberto de uma luz brilhante que parecia ser um telhado. O fato é que o lugar era deserto e perfeito. Eu compraria uma propriedade naquela praia sem pensar duas vezes. Muita privacidade e sigilo sem precisar pagar muito por isso.

Quando avistei a casa que estávamos hospedados já mais distante, levantei o vestido na direção dela, deixando o vento balançá-lo com força, como que querendo arrancar das minhas mãos.

- Soltá-lo seria uma afronta contra a mãe natureza, acredite – falei para mim mesma, em voz alta – Mas gostaria muito de me livrar desta coisa.

Meus olhos ofuscaram com a claridade do sol. E eu gargalhei, feliz. Estava livre de Colin Monaghan. Deus me abriu os olhos na última hora e eu precisava ser grata. Estive a um passo de casar com um canalha, capaz de dormir com minha própria irmã. Um homem que sempre pensou em nada além de si mesmo, que não me beijava pela manhã, que não fazia sexo se não fosse como ele queria, sempre exigindo uma cama confortável e com roupas de cama de qualidade e quatro paredes. O homem que nas festas com empresários renomados me exibia orgulhoso, mas dispensava mais tempo a eles do que a mim. O homem que tinha transtorno obsessivo compulsivo por limpeza e exigia que eu tomasse banho antes e depois da transa. Ele só me deixava chupá-lo com preservativo e quando fazia sexo oral em mim era tão rápido que mal dava para sentir. E deixava claro não gostar de fazer e sim de receber. O homem que mal se importou em saber onde seria nossa lua de mel. O homem que fez mais exigência na casa onde moraríamos do que eu. O homem que tinha um closet maior que o da esposa e ostentava sapatos caros e não dava gorjetas, por dizer que as pessoas não faziam nada mais que a obrigação em nos servir. O homem que se preocupava muito mais com o que meu pai pensava a respeito das coisas do que eu, sua noiva.

Como não percebi aquilo tudo antes? Como me deixei enganar, com as afirmações diárias de todos, inclusive da minha irmã, de que eu era uma garota de sorte?

Maldito dia que conheci Colin Monaghan. E não, eu não me vingaria... Simplesmente porque ele não merecia.

Ele e Mariane eram da mesma “laia”. Nenhum merecia nada... Absolutamente nada de mim. Somente o desprezo.

A intenção era jogar a “porra” (como dizia o sensual “el cantante” em seu “vasto” vocabulário), do vestido ao mar. Mas não era nada ecológico fazer aquilo. Então segui meu caminho de volta, sentindo o sol exatamente sobre a minha cabeça, imaginando ser entre meio-dia e uma hora.

Quando voltei a subir para a residência, quase escalando a rocha enorme na qual ela havia sido construída, avistei uma enorme lixeira adiante. Sorri com meu achado e fui até lá, abrindo a porta pesada em metal. Não havia nada ali... Até então. Agora ela abrigava um vestido de noiva rasgado que havia custado quase o preço de um carro. Quanto desperdício!

Assim que abri a porta e entrei na casa novamente, encontrei Charles saindo pela outra.

O vento fez a porta pela qual entrei bater e ele voltou, os olhos preocupados:

- Sabrina?

- Oi... – Acenei, sorrindo, ainda enrolada no lençol.

Ele quase correu na minha direção, apertando-me contra seu corpo. Fiquei um pouco confusa, mas logo retribuí o abraço, sentindo o coração dele bater forte.

- Está... Tudo certo, “el cantante”?

- Eu... Achei que você tivesse ido embora. – Ele disse, ainda sem se afastar, descansando o queixo sobre a minha cabeça.

- Eu acho que não há como sair daqui, não é mesmo? Ainda mais... Usando só um lençol ou uma toalha no corpo. – Comecei a rir.

Ele afastou meu rosto e segurou no queixo, encarando-me:

- Nunca senti tanto medo...

Detive firmemente o olhar no dele, sem dizer nada, sentindo o ar faltar nos meus pulmões e o coração acelerar. Umedeci meus lábios, entreabrindo-os em seguida e piscando os olhos repetidas vezes, tentando conter as palavras que queriam sair da minha boca.

- Mas você está aqui, minha garotinha.

- Sempre vou estar... – Me ouvi dizendo.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Lembranças das noites quentes de verão