- Ok. – Ela foi diretamente para o telefone.
Peguei meu celular, que eu não via desde o dia antes do casamento. Estava quase sem bateria. E tinha 102 ligações de Colin. Sim... Ele tentou falar comigo 102 vezes. E acabou com a bateria do meu celular. Imprestável filho da puta e destruidor de baterias.
Cinco ligações da mãe dele e uma do pai. Algumas do meu pai, minha mãe, Mariane. Nenhuma de Tay, Lina, Dill ou Tefy. Acho que no fundo eu sempre soube que elas não eram minhas amigas e estavam ao meu lado simplesmente pelos benefícios que isso trazia.
As conhecia desde o Ensino Médio. Não as procurei e sim o contrário. Sempre que o nome Rockfeller era pronunciado, era como se todas as portas e possibilidades se abrissem. E elas tentaram se aproveitar disso. E usufruíram por um bom tempo de passeios caros, ingressos cortesia, visitas a camarins de artistas internacionalmente conhecidos, bares com open bar às custas de J.R, festas privadas de alto nível, primeira fila nos desfiles dos maiores estilistas... E serem conhecidas como amigas de Sabrina Rockfeller, a caçula de J.R e Calissa.
Enquanto meu cabelereiro não chegava, contei algumas coisas sobre o “el cantante” para Min. Ela deixou o tempo todo bem claro a preocupação que sentia com tudo que estava acontecendo.
- Oh, my god! – disse o cabelereiro quando viu meu estado – Parece que tomou banho no mar, não usou shampoo e sequer penteou estas madeixas, linda. Vou ter que cortar um pouco.
- Sem problemas. – dei de ombros – Só quero poder passar os dedos entre os fios.
Ele abriu a maleta e me pôs sentada de frente para o espelho da penteadeira camarim:
- Eu sinto muito pelo que houve, querida.
- Não sinta... Eu não sinto. – Falei, olhando minha própria imagem refletida no espelho.
- Contaram que você... Tentou se matar depois do que houve!
Eu gargalhei:
- Onde ouviu isso?
- Por aí... Fofoca da alta sociedade.
- Tenho cara de quem tentou se matar? – Encontrei os olhos dele pelo espelho.
- Tem cara de quem tentou suicidar os fios castanhos... Estão quase sem vida. – Ele sorriu discretamente.
Quando levantou os fios, ficou com a mão imóvel, os olhos no meu pescoço:
- Ai, Jesus, você dormiu com um vampiro?
Eu comecei a rir:
- Na verdade foi só um gostoso que encontrei por aí...
- Me dê o endereço, por favor. Quero afogar as mágoas como você.
- Não afoguei as mágoas – olhei-o seriamente – “Eu” não quis casar com Colin.
- Eu ouvi dizer que ele está arrasado. Acha que ele vai ficar com sua irmã?
- Pouco me importa – dei de ombros, sabendo que ele dividiria tudo que falei com a próxima cliente – Minha irmã acha o mesmo que eu de Colin.
- E... O que vocês acham de Colin? – Ele pegou a tesoura, mais preocupado com a resposta do que com salvar meus cabelos.
- Que ele tem um pau pequeno pra caralho.
Passei o dia no quarto e não desci para nada. Minha mãe foi para a gravadora e por sorte não veio fazer perguntas também, nem tentar amenizar os ânimos entre eu e meu pai.
À noite, recusei descer para o jantar. Não queria encontrar todos novamente. E ainda doía a atitude de meu pai, especialmente a bofetada.
Min me trouxe um prato com o que sabia que eu gostava do jantar e de sobremesa brigadeiro de colher.
Comi tudo e quando estava lambendo a colher com a sobremesa, disse:
- Quando tiver um filho, jamais vou proibi-lo de comer doces e chocolates.
Ela riu:
- Vai sim, eu garanto.
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