Na manhã seguinte, não desci para o café da manhã. Recebi a esteticista e a massagista, que minha mãe havia mandado chamar. O problema é que mesmo depois da visita delas, eu continuava com a cara péssima.
Meu problema não era estético. Ele era interno... Dentro do meu coração.
No final da manhã, pedi para o motorista me levar na Faculdade de Ciências Exatas de Noriah Norte.
Depois de demonstrar meu interesse em ingressar no curso de Matemática, fiz um tour guiado pelo local.
Embora o prédio fosse metade do tamanho da faculdade de Direito, o local era agradável. E o melhor de tudo: eu poderia cursar sem pagar nada, caso fosse bem numa prova aplicada após a matrícula.
Nunca passou pela minha cabeça que pudesse cursar uma boa faculdade de forma gratuita. Bastava eu ir bem no exame. E eu era boa com números e fórmulas, então tinha boas chances de conseguir atingir a média. E não usar o dinheiro do meu pai para estudar já era um grande passo para a minha independência com relação a ele.
Fiz a matrícula e agendei a prova. Estava ansiosa e de certa forma feliz.
Passei o restante do dia conhecendo os lugares de área comum do prédio, como biblioteca, centro de informações digitais e assisti uma palestra sobre a Matemática para a área docente na atualidade.
Ocupei tanto minha mente que só voltei a pensar em Charles quando entrei no carro novamente, indo em direção à minha casa.
Estava morrendo de fome. Iria pedir para Min-Ji preparar panquecas de chocolate com calda quente. Só de pensar naquilo já me deu água na boca.
Assim que entrei em casa, fui diretamente para a cozinha. Min-ji não estava, mas pedi para as cozinheiras fazerem o que eu desejava mais do que qualquer coisa, como se não comesse aquilo naquela hora, pudesse morrer.
Quando estava indo para o meu quarto, ouvi meu pai, na sala principal:
- Sabrina, venha aqui, por favor.
Suspirei e senti um leve tremor percorrer meu corpo. Nas últimas semanas, não conseguíamos nos entender em nenhuma conversa.
- Oi... Pai.
- Por que foi à Faculdade de Ciências Exatas? – Ele perguntou seriamente.
Respirei fundo:
- O meu motorista é um traidor. Eu quero um carro.
- Não... Só quando merecer.
- Eu não sou uma criança, papai. Eu cresci... Não sou uma... – Eu diria “garotinha”, mas a palavra morreu na minha boca, não saindo.
- Como se sente?
- Melhor.
- Por que não quis aceitar a visita do médico?
- Porque fiquei bem logo depois. Certamente foi algo que comi na rua ontem.
- Ok, então não foi nada sério.
- Creio que não.
- Agora me fale sobre a faculdade.
- Não quero fazer Direito. Por favor, me deixe fazer Matemática.
- Com qual objetivo?
- Estudar... Fazer algo que gosto. Sou boa com números... Tenho talento para isso.
- Então administre a J.R Recording ou faça a parte financeira da empresa. Troque o curso.
- Eu vi uma palestra hoje à tarde sobre dar aulas de Matemática. – Falei, temerosa.
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