Bebi até a última gota do leite, sentindo o estômago contrair.
- Retire as panquecas daqui, Min-ji... Por favor. – Calissa pediu.
Min-ji pegou a bandeja e olhou-me. Em seguida perguntou para minha mãe:
- Senhora... Quanto tempo esta fúria dele vai durar?
- Até hoje – Calissa garantiu, enquanto me punha na cama – Ou ele para com isso ou vou embora desta casa, junto das minhas filhas.
Olhei-a, confusa, não falando nada, ainda sentindo a ardência, embora mais fraca.
- Sim, foi seu pai que fez isso. Juro que tentei entendê-lo de todas as formas, mas agora isso passou dos limites.
- Como... Ele pôde?
- Ele está bêbado... Mas não justifica seu ato desprezível.
- Quer... Que eu faça panquecas novas, querida? – Min perguntou.
- Não... Obrigada. Não quero mais nada... Nem sei se vou conseguir voltar a comer novamente nesta casa.
- Eu juro que isso nunca mais vai acontecer. – Calissa garantiu.
- Boa noite, Sabrina. Se precisar de qualquer coisa, é só me chamar. Estarei acordada... Até me certificar que você dormiu. – Disse Min-ji, saindo.
Deitei e tentei me acalmar, sentindo uma raiva incontida dentro de mim. Mas minha mãe ficou ali, alisando meus cabelos. Depois de um tempo, senti sono. Fechei os olhos e percebi o beijo dela na minha bochecha e a claridade diminuir. Ouvi o som da porta se fechando.
Abri os olhos e senti meu coração bater forte. A boca ainda ardia. Levantei e fui para o closet. Se meu pai achava que era uma guerra, eu mostraria que também sabia lutar.
Peguei uma mala grande e comecei a jogar roupas aleatoriamente dentro. Iria embora dali, para sempre. Meu corpo estava quente, o rosto avermelhado e as mãos suavam frio.
Quando a mala encheu eu não consegui fechá-la. Sentei sobre ela e fechei os olhos. Comecei a rir, ao perceber que peguei somente casacos, pois era o que tinha naquela área do closet. Quem preparava-se para ir embora levando somente casacos?
A quem eu queria enganar? Não sabia nem para onde ir. Não conhecia ninguém. Não tinha dinheiro. Sair da mansão Rockfeller era o mesmo que morar na rua.
Eu precisava ser paciente. E aguardar para conseguir a minha independência e poder enfim deixar aquela prisão... Uma gaiola de ouro.
Fui até a parte dos sapatos. Vários deles eu comprei em viagens ou fiquei até na fila para conseguir o par único e exclusivo. Eu e minha irmã tínhamos livre passagens nos desfiles dos estilistas mais concorridos internacionalmente, pois éramos ótimas clientes.
De que me adiantava ter tantos sapatos se eu não podia sair para usá-los? Comecei a jogá-los para todos os lados, descontando minha raiva neles. O vidro superior do armário de jóias se quebrou. Então vi o par rosa pink. Peguei-o e coloquei nos pés, lembrando onde havia estado com eles. Era para ser meu sapato de casamento... No entanto me levou à praia e aos dias felizes ao lado de Charles. Toquei a concha no meu pescoço e sentei no chão, olhando-me no espelho, completamente destruída:
- Onde você está, Charles? Eu preciso de você... Me leve daqui...
Despertei sentindo dor no pescoço. Estava deitada no chão do closet, abraçada aos sapatos rosa. Levantei e fui até a cama, cambaleando. Havia vestígios de saliva que escorreram pela boca, mas estava tão cansada e dolorida que nem me preocupei.
Acabei pegando no sono de novo, de forma leve.
- Pai? – Encolhi-me ao vê-lo sentado na cama, ao meu lado.
Ele alisou meu rosto, enquanto eu tentava pôr a coberta para cobrir qualquer parte que ele quisesse tocar.
- Me perdoe... Por favor.
O encarei, incerta do que dizer. Lembro de ter falado para minha irmã que não a perdoava, mas também não a odiava. Era exatamente o que eu sentia naquele momento por ele.
- Sei que eu errei... Eu fui um péssimo pai.
- Quando mandou fechar o Cálice Efervescente?
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