O restante da semana foi de felicidade que transbordava por todos os poros do meu corpo. Eu sorria sozinha, cantarolava a minha música aos quatro cantos e creio que talvez saíssem coraçõezinhos pelos meus olhos quando eu piscava.
Nem conseguia acreditar que o reencontraria depois de tanto tempo. Ele não me esqueceu, assim como eu não deixei de pensar nele um minuto sequer. Eu tinha certeza de que estava disposta a deixar tudo por ele.
Charles era minha vida, meu mundo, o ar que eu respirava. O que sentia por ele era simplesmente impossível de descrever, só sentir.
Comecei a faculdade de Matemática gratuitamente. Meu pai nunca se importou com dinheiro e chegou até a ofender-se quando eu disse que queria estudar naquela faculdade.
Enfim, J.R acabou aceitando e tudo parecia ir bem. Eu não havia perdoado Mariane, mas já conseguia manter uma conversa com ela sem acusações ou ironia.
Embora eu gostasse de visitar a J.R Recording, não tinha certeza se queria passar a minha vida trabalhando lá. Já bastava ter Jordan Rockfeller no papel de pai diariamente. Passar mais horas ao lado dele e ainda ter de obedecê-lo como chefe era um fardo pesado demais para carregar.
Mariane se dava melhor com meu pai do que eu. O incrível é que não foi sempre assim, pois há tempos atrás era o contrário. Depois do envolvimento dela com o astro do rock, que era gerenciado por meu pai, a relação deles ficou péssima. Um tempo após o ocorrido, Mariane acabou cedendo e fazendo tudo que nosso pai ordenava. Acho que constatou que as coisas aconteceram exatamente como ele previu. E ela saiu machucada e exposta nacionalmente.
No meu caso, sempre fui a filha correta e fazia absolutamente tudo exatamente como ele queria. Até Colin me trair com minha irmã e eu conhecer Charles e perceber que a vida ia além daquela gaiola de ouro na qual eu vivia presa.
Sim, era assim que eu me sentia. Prisioneira num lugar onde eu tinha tudo que quisesse, desde que obedecesse ao rei supremo: Jordan Rockfeller. Ele nunca soube distinguir família de empregados, lar de trabalho. Nos tratava como se fôssemos funcionários da J.R Recording, esquecendo de que éramos suas filhas.
Na quinta-feira, estávamos jantando em família, quando Mariane disse:
- Pai, o que acha de eu procurar o tal cantor da internet, que compôs aquela música?
- Qual? – Ele levantou os olhos na direção dela.
- O que procura a garota... Que marcou o encontro secreto.
- Não!
- Mas... Por quê? Sabe que irão atrás dele, não é mesmo? E vai perder a chance de tê-lo na J.R Recording.
- Não é o tipo de artista que procuro ou admiro e sabe disso.
- Não procura pessoas talentosas? – Questionei, entrando na conversa.
- Acha ele talentoso? – Minha mãe me encarou.
- Sim. A dele voz é bonita... Diferente. A canção é... Envolvente e cheia de amor.
- Ouviu a música? – Meu pai perguntou.
- Quem não escutou, pai? E se é composição dele mesmo, é perfeita.
- Concordo – Mariane me olhou – Ele é bom. Precisamos dele na J.R Recording.
- Não gosto de pessoas que se escondem. É o caso dele. Por que não mostra o rosto? Do que ele tem medo? Deve ter seus motivos... E certamente não são bons.
- Talvez não queira seus cinco minutos de fama, como você acha e sim encontrar quem procura... Só isso. – Disse minha mãe.
- Todo mundo quer fama e dinheiro. E quem não quer, se corrompe facilmente quando consegue uma das duas coisas. – Ele garantiu.
- Vamos deixá-lo passar então? – Mariane questionou, irritada.
- Por hora, sim. Caso ele seja realmente bom, faço uma oferta irrecusável e o trago para a J.R Recording. Contratos foram feitos para serem quebrados.
- O senhor já teve problemas há pouco tempo por isso. – Observei.
- Faz parte do negócio. – Ele deu de ombros.
Meu telefone tocou. Olhei no visor e era o “Traidor”. Enruguei a testa, curiosa. O que ele queria?
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