Despertei e demorei para me dar conta de onde estava. Parecia um pesadelo acordar naquele lugar pequeno e claustrofóbico.
Assim que virei de lado na cama, dei de cara com Yuna, abrindo o armário e pegando um casaco:
- Bom dia, madame. Está frio na rua. Precisa pegar um casaco, caso queira sair.
- Que horas são? – Ainda estava sonolenta e minha voz saiu fraca.
- Sete.
Pus a coberta por cima da cabeça, tentando pegar no sono novamente.
- Não querendo bancar a chata nesta história toda de amor e injustiças, mas acho que você deveria trabalhar.
Pus a cabeça para fora, encarando-a:
- Eu não sei fazer nada.
- Ninguém nasce sabendo fazer alguma coisa.
- Mas... Estou grávida.
- Gravidez não é doença. Acha que vai sobreviver como? Por acaso pensa que vou trabalhar para pôr comida na mesa para você?
Arqueei a sobrancelha, confusa. Yuna era dura e fria. E parecia querer me ferir o tempo todo.
- Entendi que você e Do-Yoon iriam me ajudar.
- “Ajudar” não significa trabalhar para você. Estamos lhe dando abrigo e isso por si só é muito, acredite. Querida, você foi mandada embora por seu próprio pai e foi acolhida na casa de estranhos. Então, acredite, eu e meu irmão somos o melhor que você pode encontrar.
- Eu... Posso tentar fazer o café da manhã. – Ofereci.
- Quem sabe amanhã? Hoje eu já preparei. É o mínimo que pode fazer por nós.
- Você... Acha que a minha presença aqui é ruim? A atrapalho em alguma coisa?
- Tirando a minha total privacidade... Não.
- Mas... Poderia ter negado a minha vinda.
- Não, não poderia. Foi um desejo de minha mãe. E nós temos por hábito ouvirmos os mais velhos e respeitá-los.
- Se isso é uma indireta, saiba que se eu ouvisse meu pai, estaria fazendo um aborto neste momento. E não é minha intenção tirar este bebê. Acha que eu quis vir para cá, um lugar que não conheço, morando com pessoas que nunca vi na vida? Vocês foram não minha última, mas única opção. E sou grata.
Ela balançou a cabeça:
- Tenha um bom dia.
- Você também. E... Caso eu precise, onde fica o controle das cortinas?
Ela gargalhou, fazendo com que eu enrugasse a testa. Saiu e fechou a porta.
Levantei e percebi que ela não estava mais na casa. Do-Yoon também estava de saída.
- Bom dia... – Acenei, esperando uma melhor recepção matinal por parte dele.
- Bom dia, Sabrina. Tem pão sobre a mesa. Café passado e leite no fogão. Não sei se é seu hábito pão no café da manhã...
- Sim. – Mal sabia ele que eu comeria qualquer coisa.
- Caso precise sair, vou deixar a chave na porta. Tranque e leve-a junto.
- Eu vou sair. Preciso comprar alguns itens de primeira necessidade, como escova de dentes, de cabelos, maquiagem, perfume, roupas, sapatos... Eu não tenho nada.
Ele me encarou um tempo e disse:
- Quer que eu peça um táxi ou usará o transporte público?
- Transporte público? – Que diabos eu faria num transporte público?
- Acho que seria melhor usar o transporte público. Assim já se habituaria um pouco com tudo por aqui. – Sugeriu.
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