Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 93

Inicialmente meu peito se encheu de alegria... Ou não, porque não entendi, exceto o fato de dizer que estava apaixonado por uma garota riquinha, o que ele tentava expressar com o restante da letra.

A música entrava pelos meus ouvidos, passava pelo meu pescoço, ardendo a garganta, descendo pelo estômago, que se retraía, dando um enorme frio na barria e molhava minha calcinha. A voz dele era doce e envolvente. Eu sempre soube que ele estouraria um dia e seria um sucesso. Porque ele era perfeito... E a música... Diferente, carregada de emoção.

E talvez não fosse para mim. Tantos anos haviam passado. E se Charles não lembrasse de mim? Deus, isso seria horrível. Se eu chegasse até ele e mostrasse que tínhamos uma filha e Charles já tivesse uma esposa?

Melody estava tão cheia de expectativas. E por um momento me culpei por ter sempre lhe dito que Charles esperava por nós, em algum lugar e que nos encontraríamos um dia e seríamos uma família feliz. Entenderia ela se não acontecesse como sempre planejamos, ao longo de cinco anos?

Ouvimos várias vezes a mesma música. Depois segui para outra e me deparei com a que ele cantou quando me chamou para o encontro na “nossa” casa de praia.

Eram tantas lembranças, tantas emoções ao mesmo tempo que eu nem sabia direito como agir. Só tinha uma certeza: não poderia continuar chorando na frente da minha filha.

Tentei tantas vezes ouvir novamente a música que ele compôs para mim e não a encontrei mais depois do nosso desencontro na casa. Agora ela estava ali, gravada, com novo ritmo, outros arranjos e acordes, mas ainda assim perfeita, numa mistura de romântico com pop.

Qual seria a gravadora? Por que ele estava em Noriah Sul fazendo show? Como eu não soube nada sobre ele antes? Qual o tamanho da sua fama, afinal?

Chegamos ao Ginásio de Noriah Sul não era nem oito horas da noite. Percebi que havia fila para compra de ingressos e já entrei nela, junto de Melody, em seu lindo vestido e toda sua expectativa de ver o pai pela primeira vez.

Comprados os nossos passaportes para a felicidade, seguimos para um trailer que vendia cachorros quentes na calçada. Estávamos com fome e já anoitecia. Tínhamos o principal, que eram nossas entradas. Não poderia correr o risco de deixar minha filha morrer de fome.

- Você... Conhece Charlie B.? – Perguntei para a atendente do trailer, curiosa.

- Sim, um pouco. Ele é mais famoso em Noriah Norte. Este é o primeiro show dele aqui. E achei bem movimentado. Eu aposto que ele vai se tornar um fenômeno mundial. E não tem como ser diferente, não é mesmo? Você já viu os olhos dele? Parecem...

- Duas esmeraldas... – Completei a fala dela, sem ter certeza se era o que realmente diria.

- Também – ela sorriu – Vou dizer que daria qualquer coisa para deitar naquele peito perfeito. E a boca? Porra, é maravilhosa!

A encarei, sem dizer nada e com cara de poucos amigos. Estávamos falando do meu “el cantante”. Os olhos dele eram iguais aos da minha filha... Deitar no peito dele e receber carinho era maravilhoso. Mal ela sabia que depois do sexo ele acariciava meus cabelos. E gostava de beijar pela manhã. Insaciável, irremediavelmente sexy, “fodia” de forma incansável, todas com muita qualidade.

A boca dele podia chegar em cada pedacinho do corpo de uma mulher... Sua língua era quente e doce. O colo dele era acolhedor. Ele contava sobre o passado com tristeza e temia o que eu pensasse sobre ele. Charlie B. fez uma música para mim... Talvez duas, ou três.

O que aconteceu de tão errado com a gente para termos nos afastado deste jeito, “cantor de bar decadente”? Olhe onde você chegou, meu Charles... Subiu, devagar, mas está lá no alto.

Observei a foto dele num enorme outdoor, de mais de dez metros, ocupando grande parte da área externa do local. Semblante sério, como sempre. Olhos estreitos, sexys. Segurava a guitarra de forma firme. As mãos fortes, dedos finos e longos. A jaqueta de couro que lhe dava o ar ainda mais misterioso.

Ei, “el cantante”, eu guardei sua jaqueta. E aqui está a concha que você me deu, com as nossas iniciais.

Toquei o pingente, fechando os olhos e o vendo como ninguém mais o conhecia: meu Charles, que sorria, que fazia brincadeiras, que era romântico, que confessou seu amor por mim em dois dias e jurou que ficaríamos juntos.

Além da jaqueta, do pingente, eu tenho outra coisa sua, Charles. Olhei para nossa filha, comendo o seu cachorro-quente de forma educada, como Do-Yoon e Yuna a ensinaram. Senti uma lágrima teimosa descendo pelo canto do olho, morrendo no meu queixo... Me diga que vai amá-la tanto quanto a amo. Ela é a nossa melodia... Foi feita durante nosso ato de amor, enquanto eu lhe cantarolava sua melodia preferida: meus gemidos enquanto gozava nos seus braços, sob seu corpo suado e quente. Diga que não me esqueceu... Olhei nos olhos dele como se fosse real. Diga que vai me acolher, mesmo eu estando tão abaixo... Quase no chão.

Lembra da Champagne Vueve Chiqcuot? Eu não sei mais o que é isso... Eu não bebi mais tequila, porque tive medo de ficar no fundo do poço quando lembrasse de nós. Sempre que vejo um espumante, lembro da sua língua no meu corpo adocicado.

Eu deixei minha família, minha casa e tudo que eu tinha pelo que restou de nós: este serzinho perfeito, que tem cheiro de amor, que é esperta e ama animais. Ela sempre soube que você era o papai dela. Eu salvei duas fotos suas no celular... E ela cresceu as vendo. Tanto que o reconheceu... E como não? Afinal, você não mudou nada, meu amor. Um pouco mais magro, mas cada vez mais lindo.

Onde você este nestes cinco anos, Charles? Quem é você, Charlie B.? Você lembra do “el cantante e da garotinha”? Trago na memória sua fala de que este apelido seria só meu e seu.

- Mamãe? – Melody puxou minha mão, balançando meu braço, enquanto eu ainda observava a foto gigante do homem que mudou minha vida para sempre.

- Oi... – Desviei o olhar dele, mirando-a.

- Vamos entrar? Olhe o tamanho da fila... – Ela apontou.

Realmente a fila começava a ficar enorme. Fomos para o final, esperando nossa vez.

Os portões só abriram às 21 horas. E a entrada era lenta.

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