Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 94

Faltava quinze minutos para às 22 horas quando eu e Melody chegamos à porta de entrada no Ginásio de Esportes.

Entreguei os ingressos à pessoa responsável, que disse:

- Sinto muito, senhora. A menina não pode entrar.

Fiquei olhando para a mulher, confusa. Como assim ela não podia entrar? Melody era filha de Charles.

- Ela... É minha filha. – Comecei a retirar nossos documentos da bolsa e tentei lhe entregar.

Ela se recusou a pegar:

- Não. A menina não entra.

- Sou a responsável por ela. Como lhe disse, é minha filha e autorizo a entrada dela.

- Só pode entrar a partir de dezoito anos.

- Mas ele canta a porra de uma música sobre a Garota Riquinha que a minha filha escuta o tempo todo.

- Mamãe, você falou palavrão. – Melody puxou minha mão, lembrando-me do “porra”.

- Péssimo exemplo, senhora. Agora, por favor, saia da fila que há mais pessoa para entrar. Estamos atrasados.

- Paguei o ingresso e vamos entrar. – Falei, tentando empurrá-la com meu corpo e entrar, sem permissão.

Não demorou muito e dois seguranças já estavam na minha frente:

- A senhora não pode entrar com a criança.

- É minha filha... – Tentei explicar.

- Não pode. E pronto. Se continuar, vamos chamar a Polícia.

- Ela é filho de Charles, porra! – Gritei.

Eles começaram a rir, junto dos próximos da fila.

- Sim, acredito. – Disse um dos seguranças, debochadamente.

- Chame a assessoria de imprensa dele. Quem é o empresário? Qual a gravadora? – Perguntei.

- A senhora sabe realmente quem é Charlie B.? – A mulher me perguntou, não olhando na minha direção enquanto pegava ingressos e autorizava entrada de várias pessoas.

- Ele é o meu papai. – Melody falou, os lábios abertos num sorriso tão lindo que chegou a amolecer as minhas pernas.

Felizmente não tripudiaram na minha filha, como fizeram comigo. Respirei fundo e peguei meu celular. Meus olhos arregalaram quando vi a gravadora dele: J.R. Recording.

- J.R. Recording? – Quase gritei.

- Sim, senhora. Agora, por favor, afaste-se. A senhora está atrapalhando a passagem.

- Quem é o empresário dele dentro da J.R Recording? Jordan Rockfeller?

Assim que ouvi a voz dele, senti meu coração bater tão forte que parecia explodir. Minha pele arrepiou-se. Era ele... Meu Charles, meu “el cantante”.

Ele iniciou pela minha música... A que compôs para marcar nosso encontro. Era impossível me conter e não me derramar em emoção. Abracei minha filha com força, dizendo:

- Não foi hoje... Mas será outro dia. Você sabe disso, não é mesmo?

- Eu sei. – Ela me apertou.

Ficamos ali, ouvindo as músicas dele, do lado de fora, como duas doidas: eu chorando e ela dormindo, logo em seguida.

Eu queria ficar mais... Até o final. A voz dele no microfone era maravilhosa. E eu podia vê-lo no palco se fechasse meus olhos. Cada grito da plateia me dava a certeza da simpatia e sucesso dele. Só não tinha certeza se todos viam o quanto ele era realmente talentoso ou idolatravam meu “el cantante” por seus olhos verdes estonteantes, o corpo perfeito e a boca que simplesmente exigia um beijo de língua.

O vento começou a soprar mais fresco. E eu não ficaria com minha filha ali, ao relento, passando da meia-noite. O vestido dela era fino e sem mangas e o corpinho estava arrepiado.

Peguei-a com dificuldade, deitando-a, como fazia quando ela era um bebê. E a levei para o carro, deitando-a no banco traseiro e pondo dois cintos envolta dela.

Fechei a porta e ouvi a voz dele pela última vez:

- Não me dei por vencida, “el cantante”. Eu vou voltar... E você sabe que vou. O que sinto por você é forte demais para deixá-lo ir...

Entrei no carro e dirigi de volta para casa. Nosso jantar se transformou numa loucura. E nada mais importava: ele nunca esteve tão próximo de nós. Era agora ou nunca. Hora de lhe revelar a verdade.

E não importava se ele lembrava ou não de mim. Se estava casado. Se a fama tinha lhe subido à cabeça. Ainda assim eu lhe contaria que tinha uma filha. Porque era direito de Melody conhecer o pai.

Chegamos em casa e pus Melody na cama. Deitei do jeito que estava na minha cama, ainda de sapatos de salto. Sequer a maquiagem fui capaz de desfazer. Minha cabeça dava mil voltas e cheguei a sentir náusea. Meu estômago doía.

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