Nas Mãos do Dono do Morro romance Capítulo 37

Amanda

Eu não sei porque o outro Felipe fez isso. Por que ele filmou a nossa transa? Por que ele me expôs assim? Será que foi porque eu não quis mais ficar com ele? Ele não tinha o direito de fazer isso, na verdade ele já é culpado por me filmar sem o meu consentimento. Sinto que estou desnuda, estou desprotegida do mundo. Todos vão me olhar com desprezo e me tomar como puta, porque a sociedade é assim, se é um homem que sai comendo todas por aí ele é visto como um herói, um garanhão, um exemplo a ser seguido pelos outros homens... Mas se é uma mulher que fica com alguém que não tem compromisso, aí ela não presta, é uma puta, uma qualquer. Eu cresci sabendo disso. Por que eu fui me aventurar e tentar fazer o que eu queria? Desde o primeiro momento foi um erro... Eu sei que eu queria muito, foi bom demais... Mas será que valeu a pena? Será que valeu a pena eu gozar gostoso e agora me sentir um lixo?

Não estou entendendo mais nada. Ele quer se casar comigo justo agora que descobriu que eu fiquei com outro? Ele quer que eu acredite nisso?

Sinto muito medo de que ele esteja me zoando só pra se vingar do vídeo. Não temos nada por decisão dele, nenhum compromisso, mas talvez na cabeça de bandido dele ele se sinta traído, pelo fato de ele ainda querer ficar comigo. Isso é tão frustrante.

E agora isso, com quem ele estava falando sobre mim?

— Não vai me dizer, Felipe?

— Amanda, você corre um grande perigo, você está em um site de vendas no mercado negro da Internet — ele falou e em seguida soltou o ar.

Eu fiquei olhando pra ele por alguns segundos, processando o que ele acabou de me dizer.

— Site de vendas? Eu estou à venda? — questionei me divertindo com esse comentário sem sentido.

— O governador é da máfia, ele me contratou pra fazer uns trabalhos sujos pra ele em troca de favores pra comunidade, — começou a explicar olhando pra paisagem à frente, fiquei ouvindo atentamente, ele parece estar dizendo sobre um assunto muito sério, — o primeiro trabalho que ele me passou foi comprar uma mulher pra ele, uma escrava sexual... Eu fiquei um pouco receoso, mas por fim decidi que compraria, pela nossa comunidade... Quando eu fui ver a mulher que ele queria, era você — disse virando o rosto pra mim.

— Isso é verdade? — comecei a sentir os meus nervos tremerem dentro do meu corpo e um nó começar a se fazer em minha garganta.

— Sim, você e centenas de mulheres estão à venda na Internet, isso é um absurdo, eu sei, mas é a verdade.

— Me mostra, — pedi com a voz sufocada pelo desespero.

Eu não sei muito bem o que isso significa, mas coisa boa não deve ser. Ser escravatura sexual de alguém que me comprou deve ser uma das piores torturas que alguém pode passar.

— Amanda, eu tô ferrado, não sei o que fazer, Amanda, eu devia ter ouvido a minha mãe.

— Do que você está falando?

— Eu sempre pensei que pudesse mudar o mundo, pelo menos o nosso mundo, Amanda, eu meti a cara e tentei, eu errei, roubei, enganei, matei e agora eu não sei... Pensei que eu pudesse fazer isso, mas eu não quero fazer parte disso, não quero ser cúmplice na escravidão de uma mulher inocente, e o governador disse que se eu não fazer o serviço ele vai matar todos que eu amo, e tem mais os inimigos da comunidade, se eu sair fora eles invadem e vão governar o nosso povo, roubariam o pouco que temos, estrupariam as nossas mulheres e...

— Você está muito paranoico, essa vida agitada que você tem está mexendo com o seu psicológico.

— Não, eu sei sobre o que eu estou falando, eu vi coisas que você nem imagina, Amanda, um policial estuprou o meu pai na frente da minha mãe e de mim, isso porque ele veio atender uma ocorrência que fizeram contra o meu pai, uma ocorrência falsa, alguém fez para incriminar o meu pai e ele foi preso inocentemente, são tantas coisas, teve a vez que eu estava morrendo de fome e a minha mãe teve que se deitar com o dono de uma mercearia à troco de um saco de leite, são coisas que eu não desejo pra ninguém, por isso a medida que eu fui crescendo eu fui maquinando e aprendendo como as coisas deveriam ser... Ou é você que está no comando, ou você segue o sistema, e o sistema é injusto pra caralho, o sistema não dá chance pra nego favelado... Isso significa nada de remédios, nada de segurança, nada de empregos, nada de educação, nada de saneamento básico, ou seja, a gente que fique na merda, é por isso que temos que ter a nossa própria justiça e é isso que eu tô tentando fazer, só que da única maneira que eu posso, usando uma arma nas mãos, aí é onde eu me torno um criminoso, porque quem rouba da comunidade perde a mão, e se roubar de novo morre, quem vacila morre, não tem chance pra vacilão que tenta quebrar a ordem de como as coisas devem ser.

— Uau... Eu não vejo porque discordar de você, na teoria.

— Mas eu fui longe demais... Eu não deveria ter me aliado ao sistema, o governador é a escória da sociedade, ele é um exemplo fiel das pessoas que estão no comando... Já imaginou? Você sendo tirada da sua família, certeza que você seria dada como morta e nunca mais seria vista, quando na verdade você estaria sofrendo, sendo estuprada de todas as formas, gritando e pedindo por socorro quando ninguém estaria lá para te ajudar.

Engulo em seco. O ar está faltando pra mim.

— Preciso abrir o vidro, pra eu poder respirar, — levei o mei cabelo pra trás e me abanei com as mãos na tentativa dw respirar melhor.

Ele abaixou o vidro pra mim, esticando o braço por mim fazendo que o seu perfume me hipnotize, puxando-me para abraçá-lo. Mas eu não faço, ao fico olhando pra ele, sem saber o que dizer, nem o que fazer.

— Eu acho que eu devo meter bala no governador, — ele falou analisando a sua arma.

— De onde você tirou isso? Teve mesmo que trazer em um enterro?

— Não ouviu nada do que eu disse?

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