Amanda
Estou a uma distância se aproximadamente dez metros do Felipe.
Vê-lo de óculos escuro, vestindo um terno e com os lábios contraídos enquanto segura a própria mão em frente a uma sepultura é de partir o coração.
Todos ja foram embora, inclusive a viúva, os filhos e os netos, mas o Felipe, ele continua aqui...
Respiro fundo e passo por passo eu me aproximo dele, fui andando lentamente e quando me aproximei só fiquei parada em seu lado.
— Era pra ter sido eu, deveria ter sido eu, — Felipe resmungou em um tom de voz embargado.
— Felipe...
— O nenão estava com uma arma na mão por livre e espontânea vontade, servindo o crime, ele sabia que ou ele matava ou ele morria, ele estava lá pra isso... Eu sei que com a vida que eu levo eu posso levar um tiro no peito a qualquer momento... Mas o doutor, Amanda, ele estava lá pra curar, ele não merecia ter a vida arrancada desse jeito.
— Ele sabia os riscos de estar lá, todos nós sabemos.
— Não, eu sinto uma necessidade enorme de picotear alguém e bater, bater e bater até arrebentar a cara desse alguém, — dis fazendo gestos com a mão, uma aberta e a outra dando socos nela, — quero fazer esse alguém virar carne moída na minha mão.
— Felipe! Me ouça! Eu não sei qual o tipo de ligação que você tinha com o doutor, mas parece ser algo paternal, por isso...
— Não, não era isso... Ele só era o doutor e eu era alguém que o apoiava, eu sabia o que ele fazia pela nossa comunidade, um lugar abandonado e esquecido, mas ele fazia o que podia pelo nosso povo, isso o tornava sagrado para mim.
— Muitas pessoas fazem trabalho voluntário na comunidade e
— Não! Amanda, o doutor não merecia morrer.
— Não estou dizendo isso, só quero que você por favor se acalme, o doutor não iria gostar de vê-lo tão perturbado e sedento por sangue.
— Você também não merece morrer, Amamda, eu estou cansado disso.
— Cansado? Eu não vou morrer, Felipe, você precisa se acalmar, descansar.
— Eu não tenho tempo pra descansar, eu vou agora mesmo planejar como vou fazer pra pipocar todos os culpados pelo ataque de ontem, eles queriam tomar o nosso poder, mataram o nenão e o doutor, eu não vou deixar isso barato.
— Eles também morreram, deve ter alguém querendo se vingar.
— Estou preparado, que venham todos, as metralhadoras e os fuzis esperam por eles.
— Pelo amor de Deus, você pode ser uma pessoa normal?
— Uma pessoa normal?
— Sim, só fique triste pelo doutor, pelo nenão, e depois siga com a sua vida, sem pensar em violência, sem pensar em assassinar alguem... É difícil isso? Faça como eu, abra um mercado ou uma loja, algo assim e...
— E depois o que? Sair transar com um qualquer?
— S-sim, se for o que você q-quiser...
— Eu não sou tão idiota de sair com qualquer um.
— Qualquer uma, você quer dizer, né?
— Não, eu quis dizer qualquer um mesmo.
— Está insinuando alguma coisa ou você virou gay?
— Se ser a porra de uma pessoa normal significa trepar com qualquer um, saiba que você se deu muito mal.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Nas Mãos do Dono do Morro