Nas Mãos do Dono do Morro romance Capítulo 38

Felipe

(...)

Foi bastante intensa a forma como eu me abri pra Amanda, foi de um jeito que nunca aconteceu antes. Eu acredito no amor, sei que existe e agora mais do que nunca, porque eu estou começando a suspeitar que desde o momento em que a vi até agora, foi se criando um sentimento diferente dentro de mim, como eu não havia experimentado antes.

— O que você vai fazer, mano?

— Foi mal ae, minha mente está à mil.

Eu não posso decepcionar o sapo. Não posso decepcionar todos que abraçaram essa causa. Não posso tornar em vão a morte do nenão e de todos os outros. Não posso simplesmente sair.

— Vai mesmo comprar a tal garota e entregar para o governador?

— Eu estou tentando não pensar nesse problema, sapo.

Merda. Ele me lembrou de algo que eu estava tentando me esquecer a todo custo.

Aquele doente do caralho desistiu da Amanda, mas agora ele quer que eu compre uma criança de onze anos.

— Mas tem o que pensar?

— Não! Eu só estou tentando não pensar em como vou matar o governador, porque assim que eu me decidir em como farei isso, devo me preparar pra ir em cana, você tá ligado que é cana na certa, não tá?

— Contrate o Fernandinho, você sabe que com ele é trabalho limpo.

— Ele vai cobrar muito caro pelo serviço, e aí a nossa grana vai tudo pro ralo, como vai ficar a nossa casa de assistência pro povo? Você sabe que a política é só uma faxada, é o dinheiro nosso que vai manter tudo.

— Mas o conforto sa comunidade vale a vida de uma criança? Eu não estou te reconhecendo, Felipe.

— Não, não vale, você está certo, meu irmão, sempre esteve, se eu tivesse te ouvido e não tivesse entrado nessa fria com o governador, não estaríamos nessa merda.

— A gente pode fazer outros assaltos, você sabe que nisso não tem ninguém melhor que nóis.

— Não é sempre que aparece uma oportunidade boa, de roubar muito, mas dane-se, vamos enfiar toda a nossa grana no Fernandinho, quero que ele faça um trabalho limpo, faça uma armação pra parecer que foi um infarto, desse jeito ninguém vai investigar a morte do governador, consequentemente ninguém virá atrás de nóis.

— Isso, cara, eu tinha fé de que eu não ia precisar meter um tiro na sua cara, — sapo me abraçou chorando de alívio.

Fico sem jeito. Eu realmente estava muito errado em me meter com o governador, eu deveria ter caído fora como o sapo me aconselhou.

— Ei, chefe, os cara que tavam de tocaia avisaram que tão com o arrombado, — Júlio chegou avisando uma ótima notícia.

— Fala pra eles levar o maldito lá na cabana da cerra, — falei me ajeitando pra seguir pra lá.

Eu contei pra todos os meus parceiros o que ele fez, assim como eu eles lutam pela justiça e ficaram felizes em mais uma vez terem a chance de acabar com um monstro, óbvio que eles vão me esperar pra fazer a melhor parte. Ficaram de tocaia no endereço que a Amanda me passou.

No trajeto até o carro eu pego o meu celular de dentro do bolso e ligo pra Amanda:

— Pegamos ele, Amanda, ele vai apagar o vídeo e tirar a sua imagem do mercado negro, depois disso vai morrer agonizando, — avisei empolgado.

— Ótimo, mas eu ainda preciso ficar aqui?

— Sim, enquanto o governador respirar, eu não confio nele, fique ai, por favor, a sua família está bem, eles não correm perigo.

— Este hotel é um luxo, mas nas condições em que eu estou, não consigo desfrutar nada, sinto que tem alguém me vigiando.

— E realmente tem, pra sua proteção.

— Estou falando se alguém que não quer me proteger.

— É a paranoia, você está protegida, tchau, preciso ir, — desliguei depois de ouvir o tchau dela.

Percebi que o sapo estava me esperando desligar o telefone.

Fiz um gesto com a cabeça pra ele me dizer o que ele quer.

— Posso entrar em contato com o Fernandinho e encomendar o serviço? — perguntou em um tom de voz baixo.

Apenas balancei a cabeça, confirmando que eu estou de acordo, torcendo interiormente para estar fazendo o que é certo.

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