Ponto de vista da Kaia
Eu observei a reação do meu pai ao que a Alora acabou de admitir. O médico da matilha encarava sua nova paciente, completamente chocado.
— Você bebeu acônito... E sobreviveu? — O médico perguntou, pasmo.
— Quase não. — Ela respondeu. — Fiquei em coma por quatro anos. As máquinas é que me mantiveram viva.
— Você já pensou em fazer um transplante? — As palavras do médico pareceram um pesadelo horrível que não queria passar.
— Não vou fazer transplante. Não quero ficar pensando demais nisso... Só quero aproveitar meu tempo com o Beckett e com a Kaia. — Ela falou firme, sem olhar para mim nem uma vez.
— Eu recomendaria...
— Obrigada, doutor, mas eu sei exatamente do meu estado. Já fiz todos os exames, os melhores especialistas me avaliaram... Só preciso de um alívio para a dor, se você puder receitar.
— Se o Alfa autorizar...
O olhar do meu pai cruzou comigo antes de voltar para o doutor.
— Sim, eu autorizo. Na verdade, Alora, você pode se retirar por enquanto. Tenho algumas coisas da matilha para conversar com o Samson e com a Kaia... Depois a gente se junta a você.
— Tudo bem, já vou preparar um chá. — Ela disse, levantando e tentando disfarçar uma careta quando levou a mão à lombar. Saiu do consultório com o doutor, e o Samson se levantou para fechar a porta atrás deles.
Eu soube na hora o que estava por vir...
— Você sabia disso? — Meu pai sussurrou, sabendo que a Alora não estava longe o suficiente para não ouvir, mesmo com seu tom baixo de sempre.
— Eu sabia que ela precisava de um transplante, sim... — Suspirei.
— Por isso ela está aqui... Para tentar fazer você ser a doadora? — O Samson soltou na lata.
— Não... Não é isso. Eu realmente acho que ela só quer conhecer a gente, meu pai e eu. Ela só descobriu isso recentemente...
De repente, me senti bem protetora da Alora contra a acusação do Samson.
Ele, de todos, deveria entender o que era uma segunda chance. Toda aquela matilha foi construída em cima daquilo.
— A gente construiu essa matilha com base em segundas chances. Você precisa dar essa chance para ela, Samson. — Eu rosnei baixo. Me virei e vi meu pai arqueando uma sobrancelha diante da minha reação.
— E aquele companheiro dela... Aquele alfa... — Ele perguntou.
— Pode ser um problema se ela virar membro da nossa matilha.
— Não dá para chamar ele aqui? Deve estar preocupado para caramba com ela. — O Samson sugeriu, e eu senti o pânico subindo dentro de mim. Eu sabia que meu pai percebeu porque meu coração começou a acelerar.
— Eu não posso deixar ele vir...
— Por quê, Kaia? — Meu pai juntou as mãos e encostou nos lábios.
Naquele momento era minha chance. A chance de contar para eles. Para contar para ambos.
As palavras estavam quase saindo...
— Kaia?
— Ele não era nada bom, pai. Ela ficaria melhor sem ele, mas ela precisava decidir isso sozinha.
— Então você já o conheceu? — Meu pai insistiu, e eu percebi que já tinha falado demais.
Droga...
— Foi só de passagem...
Ele sabia que eu mentia, eu nunca tinha conseguido mentir para meu pai.
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