Ponto de Vista da Kaia
Passei os dias seguintes planejando a cerimônia da Alora para entrar na matilha. Normalmente, aquele tipo de cerimônia só acontecia quando a nova integrante era a companheira do Alfa vinda de outra matilha... Mas o retorno da filha perdida do Alfa era um motivo mais do que especial para se comemorar.
Era difícil fazer com que todos os membros participassem, como seria em uma matilha mais segura, mas consegui organizar um esquema de turnos que garantiria nossa proteção e, ao mesmo tempo, permitiria a presença de todos. Contanto que tivéssemos olhos nas fronteiras o tempo todo, todos poderiam aproveitar aquele momento maravilhoso.
Foi ideia do meu pai fazer o evento ao ar livre, com música alta, bebida à vontade e comida sendo preparada ali mesmo, na nossa frente.
Anotei todos os pedidos dele e ainda acrescentei alguns por conta própria.
Pedi a algumas funcionárias para ajudarem a Alora a se arrumar, fazendo o cabelo e a maquiagem dela. Já tinha encomendado o vestido perfeito numa loja local com a qual tinha boas conexões. Queria que a Alora não se preocupasse com nada, só com o momento.
Não convidamos ninguém de fora da matilha. Aquela noite era nossa. Só dos nossos. Depois de tanto tempo cuidando da imagem política, foi libertador não precisar ficar olhando por cima do ombro ou pensando no próximo passo.
Escolhi para ela um vestido de cetim verde-esmeralda escuro, sofisticado, que realçava os olhos verdes da Alora. Éramos parecidas, mas nossos olhos eram o que nos diferenciava de verdade. Os meus tinham um contorno azul ao redor da pupila.
Criei um caminho para ela atravessar, sem cadeiras. A cerimônia seria curta, e todos permaneceriam de pé enquanto a Alora fazia seu juramento à matilha, em cima de um pequeno palco que instalei de manhã.
Grandes hortênsias brancas decoravam o espaço, junto com lanternas acesas e outras de papel branco suspensas, todas enfeitadas com luzes de fada. Para uma cerimônia noturna em um dia quente, ficou tudo lindo.
— Acho que você merece isso... — Disse Samson ao se aproximar, oferecendo a taça de vinho que tinha na mão. Ele estava certo, eu precisava mesmo. Tinha me desdobrado para organizar tudo aquilo. Fui além dos pedidos do meu pai, e eu sabia daquilo.
Aquele era o começo de uma nova era, um recomeço. Daqui para frente, éramos nós três, finalmente uma família reunida.
Estive ansiosa a tarde toda, com aquele nó no estômago só querendo que tudo saísse como planejado.
— Eu com certeza preciso disso. Obrigada, Samson. Estou ansiosa desde cedo... Estou realmente querendo relaxar um pouco hoje. — Falei com um sorriso, dando um gole longo no vinho branco bem gelado.
— Então você vai me dar a primeira dança hoje, antes que se forme uma fila. — Ele respondeu, com aquele ar de brincadeira que ele sempre tinha… mas percebi que estava falando sério.
— Haha! Fila de quem? Do meu pai? Ou de você? Ou do meu pai de novo. — Brinquei, rindo, antes de perceber o olhar dele.
— Tá bom... Uma dança vai ser legal. — Respondi com um sorriso, desviando o olhar quando vi Alora começando a entrar.
Ela estava linda caminhando desde a casa do alfa, sendo escoltada por nosso pai no meio da multidão.
Ela estava nervosa. Eu não precisava do vínculo de matilha para saber daquilo, depois de tanto tempo ao lado dela, eu já começava a sentir o vínculo de gêmeas se fortalecer mais a cada dia.
Mas naquele momento, sabendo que a vida da Alora podia terminar a qualquer momento, a frase parecia amargar na boca.
Senti o vínculo de matilha acender dentro dela quando a multidão explodiu em aplausos, gritos e assobios. Ela naquele momento era uma membro oficial da matilha, uma membro oficial da família do Alfa.
Os olhos dela me encontraram na multidão, enquanto eu permanecia perto do grupo com Samson, observando tudo de longe.
— Venha para o palco com a gente... — Ela me chamou pelo vínculo, e a voz dela ecoou na minha mente. Um pequeno sorriso se formou nos meus lábios. Eu me sentia mais próxima da minha irmã gêmea.
Entreguei minha taça de vinho ao Samson e fui abrindo caminho pela multidão, que já entrava no clima de festa. Subi ao palco, e meu pai me recebeu com um beijo na bochecha, erguendo minha mão bem alto.
— Vamos agradecer à nossa Luna Kaia por organizar a celebração de hoje à noite e por ter sido quem me reuniu com minha filha, sua irmã gêmea. — Anunciou ele, enquanto a matilha aplaudia mais uma vez. Assenti com a cabeça, meio sem jeito.
— Agora sim... Que comecem as comemorações! — Rugiu meu pai, rindo alto enquanto descia do palco, sendo cercado por membros da matilha que o levavam em direção à barraca de bebidas com tapinhas nas costas.
Tudo tinha saído perfeitamente, exatamente como eu planejei. Mas então por que aquela sensação no meu estômago não passava? Eu achava que era só o nervosismo pela cerimônia... Ou o medo de que Alora desistisse na última hora.
Mas naquele momento, com tudo dando certo, mesmo sentindo a presença dela pelo vínculo da matilha... Por que, mesmo assim, aquela sensação só piorava?

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Negada pelo Destino: Presa nas Sombras do Vínculo de Companheirismo
Apaixonada pelo livro...