Ponto de Vista do Hector
— Quer lidar com ele? — Abri uma conexão mental tripla entre Ezra, Riley e eu.
— Você vai permitir isso? — Riley parecia surpreso com a minha oferta.
Era verdade que aquilo era dever de um alfa, mas aquele desgraçado atacou a irmã dele. Eu deixaria ele acabar com o cara em pedaços, se quisesse. Mesmo assim, sabia que aquilo não traria alívio. Só eliminaria o risco, não a lembrança.
— Ela é sua irmã. Ele deveria proteger ela. Acho que é um castigo justo. Mas, se você não quiser, eu entendo. Não vai apagar o ódio nem a memória... Só o macho.
O cara já tinha perdido muito sangue, a ponta da adaga estava mergulhada em acônito. O ferimento não estava cicatrizando. Mesmo sem mais punições, ele morreria antes do pôr do sol.
Riley não demorou muito para decidir. Puxou a adaga do lado do infeliz e cravou no pescoço dele.
Eu provavelmente teria quebrado o pescoço dele com as mãos, mas cada um tinha seu jeito.
No caminho de volta para casa, dei uma passada para conversar com alguns guardas que tinham feito a patrulha na fronteira o dia inteiro. Estavam se preparando para troca de turno da noite. Olhei no relógio, já eram sete da noite.
Não dormi na noite passada e naquele momento o cansaço começava a bater. Eu estava exausto e de saco cheio das provocações do Than, tentando arrancar alguma reação minha.
Meu lobo estava inquieto, insistindo em me lembrar de como ficamos entre Kaia e o prisioneiro mais cedo, quando ele ficou encarando ela por tempo demais e de um jeito ameaçador demais pro meu gosto. Mas ela estava lidando com aquilo, e eu não duvidava que tinha mexido com ela. Ela era forte.
Como eu sempre dizia pro meu lobo, ele só tem um fraco por mães solteiras. Nada mais...
Então por que, diabos, me deu vontade de arrancar a traqueia daquele desgraçado só por causa do jeito como ele olhou para ela?
Eu estava cansado. Tinham sido dois dias intensos. Aliás, fazia quanto tempo que a Kaia estava aqui?
Balancei a cabeça, tentando afastar os pensamentos, e entrei na casa do alfa. Tudo o que eu queria era um banho quente e longo, mas dei de cara com uma cena que não esperava.
Kaia, sentada na base da escada, com a mochila encostada nas pernas.
— O que está acontecendo? — Eu já sentia que meu plano de jantar, banho e uma noite tranquila tinha acabado de ir por água abaixo.
Ela não me respondeu de imediato, com o queixo apoiado na palma da mão, me olhando sem dar a menor pista do que estava pensando.
— Kaia? — Dei um passo à frente, tirei o celular do bolso e o deixei em cima do aparador no corredor.
— Você me trocou por ele. Eu entendo, relaxa... Não estou brava.
As palavras que saíram da boca dela não eram nem de longe o que eu esperava. Demorei um segundo para ter certeza de que tinha escutado direito.
— Claro que disse.
Algo estranho tomou conta de mim enquanto minha mão continuava segurando o cotovelo dela. Ela devia ter tomado banho antes de se preparar para sair, um leve perfume de coco com limão emanava da pele dela. Provavelmente era o cheiro do sabonete novo.
Seus olhos verdes me observavam, procurando algum sinal de mentira, alguma hesitação. O verde intenso estava vencendo o anel azul que cercava sua pupila, a loba dentro dela estava bem escondida, ainda sob controle.
Talvez Than tivesse pensado em trocar ela. Talvez eu também fosse fazer aquilo. Mas naquele dia, não fiz. Ela valia mais do que cem daqueles desgraçados.
O desejo de me aproximar e tocar os lábios dela me invadiu. Queria acariciar seu rosto, tirar aquela mecha teimosa de cabelo castanho-escuro que caía sobre sua clavícula.
— Hector, tudo bem se você tiver feito isso... Para recusar o Than, é preciso ser uma pessoa forte. Eu sei como ele é teimoso.
Ainda bem que ela não estava mais com ele. Naquele momento ela estava comigo.
— Você está sob minha proteção...
Os olhos dela brilharam com meu comentário, e suas bochechas ficaram coradas, um tom rosado que me pegou desprevenido. — Como membro da matilha... Enquanto estiver dentro da minha matilha... — Comecei a me corrigir.
— Quer dizer, como seu Alfa, é meu dever cuidar de você. — Acho que era aquilo que eu queria dizer.

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