Ponto de vista da Kaia
Nada mostrava mais que eu estava envolvida até o pescoço do que levar uma cesta de comida para a casa de uma família que tinha passado por uma situação inimaginável.
Mas eu não pude evitar. Meu coração não parava de pensar na Rosa. Eu precisava ver como ela estava e me certificar de que estava bem.
Tinha feito pão fresco com a Aubrey e embrulhado uma seleção de queijos e frutas da cozinha da casa do alfa. Aubrey disse que não era problema e que Hector não se importaria.
Era só um pretexto, uma desculpa para ir até lá, porque dizer algo como "Como você está depois de ser estuprada pelo seu companheiro que agora está morto?" simplesmente não dava.
Quem abriu a porta foi a mãe da Rosa. O cabelo dela estava desgrenhado, como se já fizesse tempo que não tivesse um momento para si mesma, e as roupas estavam todas amassadas. Devia estar se desdobrando para ficar ao lado da Rosa... Imaginava que os pesadelos continuassem até de madrugada. Ele podia estar morto, mas as memórias ficaram.
— Srta. Kaia... Você é muito gentil! — Disse ela com um sorriso cansado.
— Não é nada, só queria saber como a Rosa está. — Respondi.
Ela me convidou a entrar, e eu dei um passo para dentro daquele espaço familiar e íntimo. Encontrei a Rosa deitada no sofá, olhando para a televisão sem realmente ver nada.
— Trouxe pão fresquinho e uns queijos variados. — Falei para a mãe dela, mas num tom mais alto, para a Rosa também ouvir.
— Obrigada, mas ela está sem apetite ultimamente. — Sussurrou ela no meu ouvido.
Eu apenas assenti, e ela me conduziu até a cozinha, onde me ofereceu uma bebida quente.
Fiquei observando da porta. A cada movimento que a mãe dela fazia, Rosa se encolhia, como se até os menores barulhos a assustassem.
Me senti uma intrusa ali. Comecei a me arrepender de ter vindo... Talvez eu devesse só ter deixado a cesta na porta.
Quando a porta da frente se abriu e depois se fechou, ouvi um suspiro leve escapar da Rosa. E meu coração se partiu por ela.
— Você vai se levantar hoje? — Riley estalou os dedos na frente dos olhos da irmã dele, tentando tirar ela do estado de zumbi em que se encontrava.
— Rosa... Rosa, você me escuta? — Riley repetiu, a frustração com o estado da irmã tomando conta dele. Ele também estava machucado, mas não tão quanto ela.
— Eu estou bem, só cansada. — Ela resmungou, se levantando devagar e com relutância.
— Riley, temos uma visita. — A mãe deles passou por mim, colocando uma bandeja com bebidas quentes na mesa de café perto dos sofás.
— A Srta. Kaia foi gentil o suficiente para trazer pão e queijo...
— Bem, na verdade, eu entendo...
A cabeça dela se virou para mim, e seus olhos penetraram nos meus.
— Minha situação é um pouco diferente. Eu sou mais velha, e já podia sentir o vínculo de companheirismo. No final, não consegui lutar contra isso. Você não deve se culpar, Rosa. Você não fez nada errado. Sei que as pessoas dizem que não conseguem imaginar, que não entendem o que você está passando, mas eu entendo, e espero que, se precisar conversar... Não importa o quão difícil possa parecer, eu posso ouvir. Eu entendo isso. Eu estou aqui, se precisar de mim.
Ela deixou minhas palavras se acomodarem primeiro antes de pegar sua bebida e dar um gole.
— O que aconteceu depois?
— Eu fugi. Deixei a matilha dele e vim para cá.
— Ele te deixou ir?
— Ele realmente não tinha outra escolha. Acho que nem sabe direito o que fez. O vínculo de companheirismo pode ser forte, difícil de resistir. Não parece agora, mas eu te prometo que um dia você vai encontrar alguém que não vai te usar. Alguém em quem você vai querer confiar de novo.
Porque era daquele jeito que eu me sentia com Hector, e estava confiando novamente. Estava começando a perdoar o vínculo de companheirismo, a deusa da lua... Porque ela me trouxe até aqui.

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