Ponto de Vista da Alora
— O que foi? — Perguntei, ao ver sua mandíbula se contrair e as mãos continuarem cerradas sobre as coxas.
Ele não respondeu com palavras, apenas balançou a cabeça. Ele não mentiria para mim, mas esconder a verdade, não dava no mesmo?
Estar com ele dentro do carro, com o motor desligado, estava começando a desafiar meu autocontrole. Precisei abaixar o vidro da minha janela. O cheiro dele só ficava mais forte sem o ar circulando. Eu já não sabia se podia confiar em mim mesma diante do vínculo de companheirismo... Aquele vínculo já tinha me confundido uma vez.
— Você sabe para onde ela foi?
— Não. E mesmo se soubesse, não contaria. — O tom dele veio com uma amargura que eu não estava acostumada a receber do Hector.
— Por quê?
— Eu não posso deixar que ela volte pro Than.
— Eu nunca faria isso... Eu não trairia sua confiança.
— Você não teria escolha... O Than tem algum tipo de poder sobre você. — Senti o gosto amargo nas palavras dele. Um sorriso frio se formou nos lábios.
— Ele é meu companheiro...
— Eu sou seu companheiro, Alora. E eu? — Ele rugiu, e um estrondo ecoou dentro do carro quando ele socou o volante, consumido pela raiva.
Dava para sentir o lobo dele tentando emergir, lutando contra o controle. O peito dele subia e descia com força, como se estivesse tentando se conter.
Me mexi devagar para abrir a porta do carro. Eu não deixaria que me marcasse à força.
Mas quando empurrei a porta para abrir, ele se inclinou sobre mim e a puxou de volta, fechando-a. O topo do cabelo castanho-escuro dele roçou no meu nariz, e não consegui conter o gemido que escapou da minha loba.
Por que tudo tinha que ser tão complicado? Por que eu tinha dois vínculos de companheirismo?
Ele ergueu a cabeça, mas não o suficiente para afastar aquele desejo dentro de mim. Os lábios dele estavam tão perto dos meus que eu conseguia sentir cada expiração. Inspirei o ar que saiu dos pulmões dele, um cheiro de hortelã quente que fez minha boca salivar. Era quase pecado desejar o ar que ele já tinha respirado.
Bastava inclinar um pouco mais o rosto e encostar os lábios nos dele, sentir ele de verdade.
— Alora... — Ele sussurrou, se aproximando ainda mais.
Fechei os olhos, pronta para sentir o toque da boca dele na minha. Mas o rosto do Than surgiu na minha mente, e a dor que eu causaria a ele com apenas um beijo.
Ele não suportaria. E eu também não suportaria machucar ele.
— Eu não posso... Me desculpa. — Me afastei, sentindo o peito pesar com a culpa de sempre partir o coração de alguém, e o meu também.
Sempre dividida.
— Você sabia que eu fui adotada? — Precisava mudar o clima naquele carro. Precisava focar de novo nos fatos. Me manter concentrada.
— Você... Adotada? Não. — Toda a tensão do momento anterior se desfez com a surpresa dele diante da revelação.
— Você não lembra de quando eu cheguei na matilha?
— Eu só fui morar na matilha de forma definitiva quando tinha oito anos. Você sempre esteve por perto. Sempre me dando dor de cabeça.
Ele riu, e aquilo me fez sorrir, saber que ele lembrava daquilo com carinho.
Mas todas as memórias dele envolviam apenas a mim e o Than. E era aquilo que era difícil de explicar.
Eu sempre estive com o Than.
— Eu acho que sou parente dela... Da Kaia. — Mordi o lábio inferior. Eu sabia que soava estranho, mas não podia ser coincidência sermos idênticas e nós duas termos um vínculo de companheirismo com o Than.

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