A boate foi à loucura, todos dando por certo de que eu não seria capaz de recusar um pedido de casamento daqueles. Mas o fato era que ninguém sabia o quanto eu já havia sofrido por causa desse homem. O quão mal eu estive e o quão fundo eu caí. Eu me sentia dormente, tanto física quanto emocionalmente. Não conseguia nem mesmo fingir que estava impressionada com aquele discurso todo. Só eu achava que aquilo havia soado falso demais? Ou talvez soasse falso aos meus ouvidos porque já conhecia aquela história e sabia o fim que teria?
Não percebia que estávamos em um círculo vicioso? A mesma história se repetindo e repetindo diversas vezes.
- Prometo que dessa vez não será um círculo vicioso. – ele respondeu. Eu havia dito aquilo em voz alta? – Eu sei que errei muito, e talvez errarei muito mais, e peço um pouco de paciência para lidar comigo, mas eu estou disposto a fazer com que dê certo. Preciso de você na minha vida. Eu a amo! Amo nossos filhos! Não me importo de ser pobre, de não ter onde morar, mas não posso permitir que a mulher que eu amo passe sequer um segundo longe dos meus braços. Jamais me perdoaria se a deixasse ir embora sem ao menos tentar recuperá-la.
Então ele ficou em silêncio. E essa era a minha deixa para falar. Eu abri a boca, mas nenhum som saiu, talvez pelo fato de não saber o que dizer. A plateia estava em expectativa. E Thiago estava começando a ficar inquieto, percebendo que talvez não tenha sido uma boa ideia dar aquele espetáculo todo.
- Sinto muito, Thiago. Eu cansei. Não posso mais aceitar. O que estamos fazendo, essa brincadeira de morde e assopra, está tudo errado. – foi o que eu disse, antes que pudesse perceber o que fazia.
As pessoas soltaram exclamações, horrorizadas, e eu sabia o que estavam pensando. Eu deveria ter aceitado. E elas estavam me condenando por tomar a decisão “errada”. Mas naquele momento, parecia a decisão mais certa a se tomar.
E nenhum de nós dois poderia prever o que aconteceria logo em seguida.
A boate se transformou em um caos.
Haviam pessoas bêbadas demais, homens e mulheres, uma multidão, e todos só tinham um único objetivo em comum, estavam partindo para cima de mim.
Thiago agiu mais rápido do que eu, e conseguiu empurrar os primeiros corpos a nos alcançarem. Mas não conseguiu impedir que uma latinha voadora me atingisse na cabeça. Senti uma dor que me deixou temporariamente cega. Então ele gritou:
- Corra!
E eu corri, o mais rápido que pude, mesmo sem ainda enxergar direito, para a porta traseira, vendo que os seguranças já estavam à caminho para acalmar a multidão. Nos dando tempo para fugirmos.
Eles fecharam os portões atrás da gente. E foi então que me lembrei de algo fundamental. Entrei em pânico:
- Meus filhos! Meus filhos estão lá dentro! Precisamos voltar! Temos que tirá-los de lá! – Eu gritava, desesperada.
- Acalme-se. Vamos dar um jeito, eu só tenho que pensar. – Thiago dizia, sem fôlego.
- Isso tudo é culpa sua! Eu não acredito! Como foi ter uma ideia tão idiota de fazer uma declaração pública desse jeito?!
- Me desculpe, só pensei que você iria gostar. Pensei que todas as mulheres achassem isso romântico.
- ROMÂNTICO?! – Berrei. – SE ME CONHECESSE SABERIA QUE EU ODEIO ESSE TIPO DE ATENÇÃO! EU ODEIO. ODEIO! AAAARGH
Eu estava tendo uma crise de ódio ou alguma coisa do tipo. E pela cara dele, Thiago estava achando que eu havia surtado de vez. Até que a porta se abriu novamente, e o segurança que tomava conta de Lizie e Alex apareceu, carregando minhas coisas, inclusive os meus bebês, que estavam aos prantos provavelmente com toda aquela gritaria e agitação dentro da boate. Deveriam estar assustados.
Eu os peguei, deixando que Thiago segurasse as bolsas, então falei ao segurança:
- Obrigada. Jamais teria conseguido entrar para buscá-los. Muito obrigada mesmo.
- Por nada, senhora. – então ele deu um meneio de cabeça, se despedindo, e tornou a entrar pela porta, trancando-a logo em seguida.
E Thiago e eu ficamos novamente sozinhos. O silêncio da noite era unicamente quebrado pelo som dos choros.
- Vamos, meu carro está para lá. – ele falou, esperando que eu começasse a andar.
Queria poder dizer que poderia chegar em casa sozinha sem ajuda, mas ainda estava um pouco em choque por quase ter sido morta por mais de duzentos bêbados.
Sentia meu corpo quente, e minha testa e meu pescoço pegajosos de suor, por ter corrido.
Quando entramos no carro, ele perguntou:
- Você está bem?
- Sim. Foi só o choque de quase ter morrido.
- Só o choque?! – ele exclamou. – Elena, você está sangrando.
- Estou? Onde? – Olhei para baixo, procurando algum ferimento, mas não encontrei nada. – Não estou vendo nada. Estou bem. – Então percebi que nunca tinha entrado naquele carro. Falei – O carro é novo?
- Não. É de Jonathan, ele me emprestou. E não mude de assunto. A sua testa está sangrando muito, talvez seja melhor a gente ir para o hospital.
- Não precisa. Estou bem. – Insisti – Quando chegar em casa eu mesma cuido disso.
Suspirando, ele desistiu de discutir, ligou o carro e partimos. O silêncio no carro era mais do que constrangedor, era um desconforto provavelmente proveniente do pedido de casamento recusado. E percebi que estávamos pensando a mesma coisa quando ele quebrou o silêncio:
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