THIAGO
Saí daquela casa o mais rápido que pude, antes que não conseguisse me conter e a tomasse à força. Eu sabia que ela não me impediria, mas também sabia que a nossa relação só se deterioraria ainda mais depois disso. E eu não a queria por uma noite, eu a queria por uma vida inteira.
Tinha falado sério quando propus aquele casamento. Nunca tinha falado mais sério em toda a minha vida.
E ela havia recusado. Meu subconsciente me lembrou.
É claro que havia recusado, uma burrada atrás da outra e eu esperava o que? Que ela aceitasse na primeira oportunidade? Não sabia como pedir uma segunda chance. Eu já tive uma segunda chance, me lembrei. Aquela provavelmente já era a décima quinta chance.
Me senti um idiota por acreditar que ela não conseguiria recusar um pedido público de casamento, com direito a uma declaração de amor, um homem ajoelhado a seus pés e uma explicação por todas as minhas besteiras. Quão enganado eu estava!
Ela estava tão furiosa! Deveria ter imaginado que nem todas gostavam de um show. Porque havia sido um show. De horrores!
A minha humilhação foi completa. E o pior é que ninguém previa o que aconteceria logo em seguida. Que todos aqueles bêbados tentariam matá-la. E aquele machucado era só mais uma culpa para acrescentar à minha consciência.
Aquela saída com Jéssica terminou pior do que eu imaginava. Sabia que coisa boa não deveria ser, vindo dela. E que aquela história sobre uma última saída juntos não estava me caindo muito bem. Mas deixei Jonathan me convencer. Embora nem tudo fosse culpa dela, devo admitir.
Fui eu que escolhi o local. Aquela boate era para ser o centro de uma encenação muito bem feita. Queria ver qual seria a reação de Elena.
Dancei com Jéssica até não poder mais. Pensei que ela não desconfiaria dos meus planos de usá-la para fazer ciúmes à Elena. Então deixei que dançasse comigo do jeito que quisesse, que se esfregasse em mim o quanto desejasse, embora já me sentisse com o estômago um pouco embrulhado por causa do cheiro enjoativo daquela mulher.
Meu plano era me exibir para Elena na pista de dança, depois despachar Jéssica e voltar para conversar com ela. Imaginava que quando nos visse juntos, fosse fazer um escândalo ou algo parecido, me desse algum sinal, qualquer um, de que estava com ciúmes.
Então Jéssica virou de frente para mim e falou:
- Já descobri o que está tentando fazer. Chamar atenção daquela pouca coisa. Mas parece que ela não está dando muita atenção para nós. Acho que você tem que se empenhar um pouco mais. – Então ela me arrastou para um canto e me atacou com a boca. Eu a empurrei para longe, e disse:
- O que você está fazendo?
- Como quer que ela acredite nisso tudo se só estamos dançando?
- Mas eu não quero que ela acredite que...
Ela voltou a me calar, grudando a boca na minha e aproveitando para enfiar a língua na minha boca. Eu estava tentando me soltar antes que ela estragasse tudo, mas ela estava bem colada em mim, me segurando firme com os braços presos ao redor do meu pescoço, quase me sufocando.
Quando consegui me livrar e olhei em direção ao bar, vi que já era tarde demais.
O plano deu completamente errado e Elena não estava mais no bar. Tentei conversar com ela nos dias que se seguiram, mas ela me ignorava completamente, como se eu nem estivesse ali. Aquela merda toda, aturando Jéssica aquele tempo todo e tudo o que eu consegui foi afastar Elena ainda mais.
Durante os próximos dias, tentei uma aproximação mais sutil. Que falhou miseravelmente. Será que tinha algum plano que eu conseguisse executar e que surtisse nem que fosse um mísero efeito positivo? Eu achava que não. Quanto mais perfeito eu acreditava que um plano fosse, mais problema ele trazia e, no fim, eu me sentia ainda mais idiota por ter acreditado que daria certo.
Então veio o plano que ganhou o Óscar dos planos imbecis: aquela miserável declaração que deu tudo errado.
Passei horas planejando tudo, decorando o que diria e faria, e cada passo tinha o seu momento certo. Jonathan, James e Tyler deram conselhos que levei muito a sério e eles acreditavam que ela diria sim ao meu pedido. Eles só não contavam com o fator Elena. Aquela mulher era uma força da natureza. Imprevisível. Nunca estávamos preparados para o que ela faria ou diria. E agora teria que chegar na casa de Jonathan, onde todos estavam reunidos, esperando notícias de quando seria o casamento, e eu teria que informar de que deu tudo errado e, ainda por cima, ela acabou ferida.
Eu me sentia mais miserável do que nunca, não só pela recusa dela, mas também pelos meus amigos que deram todo o seu empenho em me ajudar, quando poderiam estar fazendo algo mais produtivo, como dormir.
Com que cara diria a eles que a única coisa boa de tudo aquilo foi ter conseguido passar um tempo com Lizie e Alex?
Ao abrir a porta, encontrei todos sentados na mesa de jantar, com uma garrafa de champanhe pela metade.
- Aí está você! – Tyler exclamou. – Já estávamos achando que não voltaria mais essa noite e começamos a comemoração!
Suas palavras só me deixaram ainda mais péssimo, se era possível.
- Ei, cara, o que foi? – James perguntou, preocupado.
- Você está chorando? – Tyler deu ênfase na última palavra, acabando com toda aquela alegria que transbordava dele.
Foi só então que reparei que, de fato, eu chorava.
Eu me sentei na mesa, ao redor deles, e um silêncio constrangedor se abateu sobre a sala. Ninguém dizia nada. Ninguém precisava dizer. Todos já haviam entendido.
Agradeci por não ter que me explicar, por não ouvir perguntas como “O que houve?”, “O que deu errado?” ou “Por que ela não aceitou?”. Ao invés de se revoltarem comigo e com o meu fracasso, eles só se resignaram a aceitar, em silêncio.
Eu não precisava de mais críticas que me mostrassem o quão fracassado eu era.
Eu a perdi. Agora era definitivo. E teria que me contentar em assisti-la de longe. Vê-la criar meus filhos, sem poder participar. Vê-la se apaixonar por um homem de verdade, sem poder tê-la em meus braços. Ver meus filhos crescerem e se acostumarem com a ideia de que nunca teriam um pai presente todos os dias, sem terem uma família completa, já que eu jamais teria coragem de entrar na justiça e separar uma mãe de seus filhos. Eles cresceriam sentindo falta de uma mãe e eu me culparia para sempre.
Jonathan, James e Tyler esperaram pacientemente que eu me acalmasse e contasse o que aconteceu.
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