O Duque que me amava - Série Capman's, Livro 1 romance Capítulo 2

Dois anos depois…

— Mamãe… Eu não aguento mais isso! — a voz de Charlotte não passava de um sussurro enquanto, ainda em sua cama, ela encarava a mãe com lágrimas nos olhos. — Me ajude…

— Só Deus pode te ajudar, filha — Judith estava impaciente —, precisa se esforçar mais! Não consegue vingar nenhuma gravidez, também não consegue fazer com que seu marido seja só seu, sequer cuida bem do seu lar! Charlotte, não tem do que reclamar, isso tudo é culpa sua, você não cuida do seu casamento!

As palavras de sua mãe atingiram seu coração diretamente, a fazendo ofegar em desespero. Nenhuma dor física era tão grande quanto a dor da perda que sentia, seu conto de fadas havia se tornado um grande pesadelo e ela estava fadada a isso até sua morte.

Seu corpo estava dolorido, seus olhos ardiam e ela sentia certo inchaço no lado esquerdo do rosto, resquícios do que havia acontecido há dois dias, sequelas do ataque de fúria que seu marido teve ao descobrir que ela havia perdido mais um bebê. Aquela não era a primeira vez que algo assim acontecia, os episódios de violência se tornavam cada vez mais frequentes e intensos. Ao longe, chegando sussurrados e lentos aos ouvidos das duas damas, os gemidos de Willian e uma desconhecida tornavam o ambiente ainda mais repulsivo, enquanto Charlotte se recuperava das agressões e da violência, ele estava no quarto do casal, com outra mulher.

— Papai nunca fez isso com você! — ela elevou um pouco o tom, apoiando o corpo nos cotovelos, erguendo-se levemente com um gemido de dor. — Por que não me ajuda? Por que me abandonou aqui?

O pedido era sofrido, choroso, mas em nada amoleceu o coração de Judith. A imagem da filha tão descuidada lhe causava sofrimento, mas também raiva e repulsa, Charlotte tinha os belos olhos vermelhos e inchados, sua pele estava seca e opaca, seus cabelos ruivos desgrenhados, estava decadente na visão da mãe.

Ela deu à luz a uma mulher seca e aquilo podia arruinar suas outras filhas, quem se casaria com Chelsea e Brista se soubesse do fracasso que era o casamento de Charlotte? Para onde iria a reputação das outras duas meninas que tinha? Ela não podia arriscar.

O lapso de rebeldia fez a mais velha erguer a destra, acertando um tapa no rosto da filha, a fazendo voltar a si e à sua mansidão, mesmo em meio ao sofrimento. Charlotte sentiu o rosto arder enquanto chorava, bem baixo, encolhida entre os brancos lençóis, abraçando seu próprio corpo, desejando o fim de todo aquele sofrimento.

Os primeiros meses foram tão doces que, ao lembrar-se deles, ela tinha a certeza de que Willian era um ótimo ator, ou extremamente desequilibrado. Ele a tratava como uma rainha, ela era a luz que iluminava os dias escuros e nublados que ele tinha, ao menos até encontrá-lo bêbado pela primeira vez. Naquele dia, ela percebeu que o homem com quem casou tinha um lado que jamais desejou ter conhecido.

Depois daquele dia, tudo mudou, Willian mudou. Não havia mais respeito entre eles e, quando ela perdeu o primeiro filho, sua vida continuou a piorar, seu casamento entrou em decadência e, enquanto ela esforçava-se para manter o matrimônio, seu marido fazia tudo o que tinha vontade, fosse com ela, ou com outras.

Com o passar do tempo, Willian não se contentou somente com as humilhações verbais, quando os demais homens de seu convívio começaram a culpá-lo por Charlotte não gerar um filho, acusando sua virilidade ou denotando a falta dela, ele se revoltou ainda mais. Seu maior prazer atualmente era fazer de Charlotte a pior das mulheres, aquela que não tinha valor algum, mas que ainda pertencia a ele.

Não a deixava sair ou receber visitas, quando perguntavam por ela, usava um tom ameno e amável para dizer o quão triste ela ficou com a perda e como preferiu se isolar em casa, manipulando todos ao redor para que acreditassem que Charlotte se mantinha reclusa por vontade própria.

Apesar das falas amorosas sobre sua esposa, todos sabiam que ele se deitava com toda e qualquer mulher que lhe desse uma brecha, as más línguas também diziam que ele as levava para sua própria casa, uma e outra comentava que já havia estado até no quarto do casal, no leito que deveria ser sagrado, na presença da pobre esposa, que se manteve calada durante todo o ato que se desenrolava em sua frente.

Mas, para todos da sociedade, esses assuntos não passavam de boatos e Judith fazia questão de abafar todos eles, afinal, tinha que manter a reputação das filhas invictas, pois logo Brista se casaria e corria a notícia de que um belo e rico duque estava em busca de uma esposa. Desse modo, era importante manter Charlotte e seu casamento sob controle e, por isso, Judith estava ali.

— Pare de chorar como uma criança e conquiste seu marido! Faça qualquer coisa! — ela frisou, segurando o rosto da filha com certa brusquidão. — Conserte o que você estragou, a culpa é sua.

***

Quando abriu os olhos, sua mãe já havia partido.

As visitas de Judith sempre pioravam tudo para a ruiva, que já não sabia a quem recorrer, não tinha quem a protegesse. Como falaria com seu pai se sua mãe nunca levava seus recados e seu marido não permitia que ela sequer colocasse o rosto no jardim? Fugir não estava em seus planos, afinal, se não chegasse até sua casa, as consequências seriam muito piores e Willian tinha criados por toda parte que estavam autorizados a fazer qualquer coisa para contê-la.

Não tinha o que fazer, para ela, não havia opções.

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