Eu dou um sorriso e digo:
— Então aproveita o dia para passar com seu irmão.
— Eu não posso monopolizá-lo o dia inteiro. Karina, venha só um pouco aqui.
Deus! Ela não entende que fui nocauteada pelo irmão dela? O que eu menos quero é encontrá-lo novamente.
— Eu vou ver, qualquer coisa te ligo. Ah, tive uma ideia! Por que eu não passo aqui para sairmos? Vamos tomar café à tarde juntas! Tem uma ótima delicatéssen no centro.
Raissa sorri.
— Você está querendo me engordar? Você não sabe o que eu já sofro em casa evitando os doces que a cozinheira faz. Tenho inveja do meu irmão, que come o que quiser e não engorda um grama — então, negando com a cabeça, diz: — Não, eu prefiro que você venha em casa.
Eu suspiro resignada.
— Se der, eu venho.
— Eu sei por que está indecisa. Mas meu irmão irá morar aqui. E quanto mais você encarar isso naturalmente, melhor para você. Se você o evitar, é pior.
Só de pensar nisso, meu coração se agita.
— Está certo, amanhã te ligo.
Karina
No dia seguinte, eu acordo tarde. Dez horas. Não levanto com pressa. Depois de me trocar, caminho tranquilamente até a sala. Meu pai está lendo um jornal, enquanto mamãe arruma as flores em um vaso, que fica no canto da sala, em cima de um lindo aparador.
Audrey é uma mulher de 50 anos e usa os cabelos grisalhos naturais. O branco misturado ao preto deixa-o com uma cor acinzentada. Seus olhos verdes, iguais aos meus, me focalizam e ela abre um sorriso.
— Bom dia — digo a todos.
— Bom dia — eles falam quase em coro.
Papai deixa o jornal de lado e me encara com curiosidade.
— Como foi a festa?
Eu disfarço meu nervosismo com essa simples pergunta e respondo sem colocar emoção na voz.
— Foi legal.
Jonas sorri.
— Legal? Já vi que você não gostou. Esse “legal” não me convenceu.
Eu me dirijo à mesa de jantar, que está arrumada com o café. Sento-me diante dela e digo, de maneira desinteressada:
— A maioria das pessoas, eu não conhecia. Fiquei mais com Raissa.
Mamãe se aproxima e se senta à minha frente.
— Filha, mas e a festa em si? Dizem que eles capricham na decoração e que é muito animada.
Eu suspiro.
— Ah, isso é verdade. A decoração estava linda. Cheio de véus amarrados, as pilastras enfeitadas com fitas douradas, plantas ornamentais em cada canto, uma mesa enorme de guloseimas e uma mesa de bebida. Música árabe, dançarinas de dança do ventre. Você sabia que eles não bebem álcool?
Meu pai sorri, surpreso.
— Para mim essa festa seria sem graça, então.
Mamãe encara meu pai com o semblante fechado.
— Você não pode nem pensar em bebida, sua pressão sobe muito.
Meu pai pega o jornal, e eu vejo quando ele mostra a língua para ela, sem que ela percebesse. Eu dou risada do seu gesto e encho uma caneca de café e corto um pedaço de bolo.
— Bem, vou tomar meu café lá fora, aproveitar o sol. O verão está indo embora e quero pegar uma cor.
Lá fora, me sento à beira da piscina, a uma mesa que está com o guarda-sol fechado. Olho a água convidativa, respiro o ar da manhã, o cheiro de rosas. Fecho os olhos tentando a todo custo parar de pensar em Hassan. Já basta a noite insone que tive pensando nele.
Ouço a campainha, nem preciso ir lá para saber quem é. Com certeza é Vitor. Dito e feito, logo vejo a porta de tela se abrir e ele caminhar em minha direção.
Vitor é meu amigo desde os tempos de faculdade, nós nos conhecemos há dois anos. Não é novidade seu interesse por mim, mas já conversamos sobre isso. Eu nunca o iludi. Pelo contrário, sempre o incentivo a sair com outras mulheres. Sempre deixei claro meus sentimentos em relação a isso.
Embora ele seja um rapaz bonito, alto, forte, bronzeado, ombros largos, cabelos castanho-claros, olhos castanhos inteligentes cobertos por um charmoso par de óculos, que lhe dá um ar intelectual, eu nunca consegui vê-lo mais do que um amigo.
— Oi, Vitor.
Vitor sorri para mim. E passa os olhos rapidamente pelo meu curto vestido jeans.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O Egípcio
Muito bom, amei....