Hoje era o dia da minha alta, estava pensativo pois peguei um atestado de 15 dias e não sabia como iria me virar nesses dias morando sozinho. Observei o quarto que passei a última semana, uma sensação de vitória percorreu pelo meu corpo, um fio de eletricidade. Após mais alguns exames e a conversa com o médico, onde ele me disse todas as coisas que deveria evitar, eu estava finalmente liberado. Segurei minha mochila ainda com dificuldade e vi a porta sendo aberta por Donna e seu marido. Eles sorriram para mim e eu fiquei confuso.
─ Nós vinhemos buscar você, não tem como morar sozinho durante essas semanas. ─ Donna indaga.
─ Eu não posso, não vou ocupar vocês tanto. ─ digo envergonhado.
─ Deixe disso, nós não vamos nos ocupar. Entenda como uma moeda de troca, está bem? ─ O pai de Charlie diz.
Estar naquele carro de volta a casa deles me lembrava o início de tudo em Manhattan, as pessoas, o clima mas agora eu estava com um buraco cicatrizando em meu peito, dessa vez era literalmente.
Nós chegamos e eles me ajudaram a sair do carro, eu via o rosto contente de Charlie atrás da janela da sala. Ela abriu a porta para mim e não evitou de sorrir, suas bochechas estavam vermelhas e seus olhos brilhantes. Nós desviamos o olhar quando a mãe dela entrou junto de seu pai.
─ Você vai ficar no mesmo quarto que ficou meses atrás. Já preparei tudo. ─ Donna diz.
─ Obrigado. Eu estou exausto.
Rick me ajudou a subir a escadas e entramos no quarto, deitei sobre a cama e sorrir pelo alívio.
─ Está confortável? ─ ele pergunta.
─ Muito mais do que no hospital, obrigado novamente.
Ele desvia o olhar e sai do quarto. Eu observo o ambiente e sorrio, estava com saudades daquele quarto com cheiro de eucalipto.
Adormeci, ainda estava sob efeito dos medicamentos. Acordei com alguém batendo na porta, disse para entrar. Era ela, com seus cabelos ondulados soltos e o rosto ardente. Segurava uma bandeja com sopa e um suco, ela se sentou ao meu lado e colocou a bandeja em minhas pernas.
─ Obrigado. ─ digo a observando.
Ela parecia tímida, com o mesmo olhar de quando nos vimos no começo do ano. Era louco pensar que já estávamos no final do ano.
Levei a colher até minha boca e permanecemos calados.
─ Precisa de ajuda? ─ Ela pergunta sentando na borda da cama.
─ Não ─ olho para ela ─, eu estou bem.
─ Estava com saudade de você.
─ Não podemos falar sobre isso agora, você sabe.
Ela bufa mas parece compreensiva.
─ Estamos em um campo minado, Charlie. Um passo em falso, somos descobertos.
─ Não muda muito desde a última vez que nos vimos.
─ Preciso que faça um favor para mim ─ espero sua resposta. ─ Ainda que eu não possa fazer muita coisa, quero manter meus estudos. Quero que pegue meu laptop e minha bolsa, lá tem o suficiente para estudo.
─ Tudo bem, mais algo?
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