A cirurgia já durava cerca de duas horas e Antonela não conseguia manter-se quieta nem por um único momento. Viu Carlota chegar às pressas, com o rosto pálido buscando notícias sobre Benjamim.
Mas não havia notícias.
Ela se via cercada de pessoas que, em algum momento, seu coração havia rejeitado. Henrico, sentado logo à sua frente, mantinha os olhos fechados como se orasse por um milagre. Era estranho vê-lo nessa posição como um homem amoroso preocupado com alguém. Ela percebeu então ter uma visão distorcida do pai. Sempre o viu como um velho ranzinza que descontava nela todas as suas frustrações.
Olhou para Carlota e ela estalava os dedos sem parar. Logo a mulher que a expulsou da empresa por considerá-la uma ameaça, estava dando lhe apoio. Ainda assim ela sentia retraída e desconfiada em relação a eles. Nenhum dos dois pareciam confiáveis.
Olhou para Carmélia e Dominique sentadas logo a frente, elas eram as únicas que mereciam considerações. Amavam Adam verdadeiramente e não o abandonaram em nenhum momento daquela longa jornada.
Ficar pensando nessas coisas a deixava um pouco pior. Sentiu seu estomago em chamas quando olhou para o relógio pendurado na parede do hospital pela décima vez, percebendo que a hora mal havia passado.
Estava distraída, afundada nos próprios pensamentos quando ouviu uma voz familiar. Embora tivesse um bom tempo que viu Dante Ortega pela última vez, ela não precisou olhá-lo para reconhecer sua voz.
Mal havia se virado para olhá-lo, quando sentiu a mão do governador segurar seu ombro e silenciosamente a abraçá-la. Antonela só percebeu precisar daquele abraço quando o recebeu. Suspirou, soltando o ar com força dos pulmões e se afastou, sorrindo para ele.
— Eu soube o que aconteceu – ele disse, olhando nos olhos dela – precisei vir por você.
As palavras do governador causaram arrepios em Antonela. Um homem importante como ele, abandonar suas obrigações políticas apenas para reconfortá-la era algo realmente surpreendente.
— O Benjamim vai gostar de vê-lo – ela disse, mas Dante não tinha tanta certeza – é ótimo tê-lo aqui.
Os dois, pouco se conheciam. Haviam trocado poucas palavras no dia em que se conheceram na casa de Benjamim. Antonela acreditou que jamais o veria novamente, mas Dante estava ali e, pela sua disposição, não seria a última vez.
Observou Carlota se aproximar dele, tristonha e constrangida, cumprimentando-o. Antonela sabia que ele havia retirado os investimentos da empresa de Benjamim e isso lhe causou um grande prejuízo, mas Carlota fingia não ser ressentida. O cumprimentou com um breve olá e se afastou em seguida, observado tudo o que Dante fazia.
Ainda surpreendida com a presença de Dante, pelo canto do olho, ela avistou o médico se aproximando. Todos se levantaram ao mesmo tempo, ansiosos por qualquer notícia. Todos falavam ao mesmo tempo, silenciando a voz do médico. Quando finalmente se acalmaram, ele disse.
— A cirurgia foi um sucesso – suspiros de alívio correram para todos os lados – o Benjamim está bem e vamos preparar o Adam para receber a doação.
Os olhos de Antonela encheram-se de lagrimas. Ela mal podia acreditar que aquele momento havia chegado. Mal percebeu Dante agarrando sua mão e olhando para ela fixamente. Aliás, ele não conseguia esconder o quanto admirava Antonela.
Antonela ficou olhando para Dante tentando entender enquanto sua respiração ficava presa na garganta. Não havia nenhuma possibilidade dela se envolver com o governador do estado, ou havia?
Como fui me meter nisso? Indagou silenciosamente enquanto forçava um sorriso para ele. Se afastou logo em seguida, desejando que ele desistisse daquela ideia maluca de esperá-la.
Mas ele não desistiu. Quando Antonela finalmente soube que poderia ver Benjamim, Dante estava na porta a esperando. Perguntou se poderia entrar com ela e não havia como negar o pedido. Antonela não soube como negar.
Ela sorriu para mostrar que a presença dele não a afetava. Entrou no quarto primeiro. Benjamim estava acordado, vestindo uma roupa hospitalar enquanto recebia soro na veia. Ele levantou o rosto, meio fantasmagórico, parecia fraco e sonolento, mas seus olhos brilharam ao ver Antonela.
Ele sorriu, ou ela teve essa impressão. Mal havia se aproximado, quando Dante entrou logo em seguida. O sorriso desapareceu ao olhar nos olhos do governador e o rosto de Benjamim se contorceu quando percebeu Dante perto demais de Antonela.
Benjamim odiava o modo como o governador olhava para ela. Ele quis dizer alguma coisa, mas não conseguiu. O efeito da anestesia ainda o atingia e Benjamim sentiu-se perdendo o controle.
Antonela se aproximou dele carinhosamente e perguntou se ele estava bem, segurava em suas mãos, mas a visão de Dante não o deixava ficar em paz.
Ele sabia que Dante estava flertando com Antonela e ele não podia sequer se levantar para impedir que aquilo acontecesse.

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