O sol do fim da tarde se esgueirava entre as frechas das janelas abertas, dando espaço para o vento gelado da noite que se aproximava. O céu indicava que uma tempestade se aproximava. Benjamim se deu conta disso, porque virando o rosto olhou para fora. Ele não suportou ver Antonela ao lado do governador.
— Você está bem? – a voz de Dante rompeu seu devaneio e era a única voz que ele não queria ouvir.
Demorou para se virar e olhar para ele. Precisou de um esforço enorme para não expressar o quanto a presença do governador o irritava. Pigarreou, pensou no que iria dizer, prendeu todas as palavras ofensivas que surgiram em sua mente e disse.
— Você se importaria de me deixar a sós com a mãe do meu filho – essas palavras foram propositais e atingiram o alvo – agradeço a ilustre visita do governador, mas preciso ficar sozinho com a Antonela.
Benjamim observou Antonela abaixar a cabeça e o rosto tornar-se vermelho. Ela estava constrangida, mas não disse nada, embora entendesse bem suas intenções.
— Entendo – Dante lançou um olhar que Benjamim não soube decifrar – tenho uns compromissos importantes agora, mas voltarei em breve para vê-lo. Desejo uma ótima recuperação.
Forçou um sorriso, Benjamim percebeu os traços de seu rosto tornando-se grossos como se estivesse exagerando na dose. Depois, inclinou a cabeça e deu um beijo no rosto de Antonela. Os punhos de Benjamim se fecharam e ele apertou o lençol da cama para conter sua fúria.
O constrangimento se expandiu no belo rosto de Antonela. O silêncio até Dante caminhar até a porta e sair foi constrangedor. Os dois permaneceram assim por longos minutos, tentando entender o que havia acontecido.
— O que ele veio fazer aqui? – Benjamim perguntou, enquanto se levantava vagarosamente da cama.
A voz dele trouxe Antonela de volta a realidade, e depois de um tempo a frieza no olhar dele foi desaparecendo até não sobrar nada.
— Veio visitá-lo – respondeu ela e se calou em seguida.
— Não, ele não veio – ele disse, desviando o olhar – ele veio para ver você.
Um tremor invadiu o corpo de Antonela. Benjamim também havia percebido o interesse de Dante nela ou ela estava ficando louca? E, porque ele parecia tão irritado com aquela situação?
— Eu mal o conheço para que você afirme isso – disse, com um tom alterado – o que afinal, você queria falar comigo?
Ela segurou na cadeira que havia ao lado de forma inconsciente e ansiosa, sentindo seus batimentos cardíacos aumentarem a cada segundo. Suas costas estavam rígidas e começaram a doer por estarem naquela posição ereta por tanto tempo. Ela não havia nem ido ver Adam ainda e já estava tendo outra discussão com Benjamim.
— O que está acontecendo entre vocês dois?
A pergunta foi involuntária. Benjamim não estava sabendo lidar com aqueles sentimentos fluindo dentro dele. Não suportava a ideia de ver Antonela tendo qualquer contato com Dante. Ele não permitiria.
— Eu não vou responder a isso – moveu-se, finalmente, sentindo as pernas formigarem – é a segunda vez que vejo esse homem em toda a minha vida ou você vai insinuar que me deitei com ele também?
Benjamim avaliou suas alternativas. Pedi um calmante e apagar pelo resto da noite ou receber Carlota e ignorá-la completamente.
— Diga a ela que estou me sentindo mal – isso não era bem uma mentira – não me faça ter que vê-la depois desse dia tão difícil.
— Bem improvável que ela acredite – um sorriso se alargou e ela percebeu sentir-se confortável pela segunda vez na presença dele – mas vou fazer o possível. Posso levá-la para ver o Adam e assim ela desiste de ver você.
Foi se afastando porque o tempo parecia não passar perto dele, mas Adam a esperava. Ela precisava estar ao lado do filho quando recebesse a doação que o curaria.
— Antonela – ele a chamou pela última vez – tenha cuidado com a Carlota.
Sentiu um calafrio ao ouvi-lo dizer aquilo. Desajeitadamente, acenou a cabeça para ele como se concordasse com suas palavras e finalmente saiu. Era quase certo, para Antonela, que Benjamim estava exagerando ao falar de Carlota e ela resolveu não dar tanta importância aquilo.
Não soube explicar a Carlota porque Benjamim não queria vê-la, mas foi autorizado que Henrico o visitasse. Antonela mantinha o rosto virado para o pai, evitando conversar com ele ou deixá-lo se aproximar. Poderia ser cruel demais, mas Antonela deixaria para resolver suas diferenças com Henrico apenas quando Adam saísse daquele hospital.
Arrastou Carlota com ela para o quarto de Adam e assistiu-o receber a doação de Benjamim. Logo ele estaria curado e poderia finalmente voltar para casa.

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